Rio - Trens que operavam na Linha 2 do então sistema de pré-metrô do Rio estão sem uso desde 2004. Sob sol e chuva, eles se deterioram lentamente estocados no pátio do MetrôRio na Cidade Nova, próximo à prefeitura. A Secretaria Estadual de Transportes (Setrans) transferiu, em fevereiro do ano passado, 28 composições antigas para a concessionária assumir a construção de duas subestações de energia, avaliadas em R$ 18 milhões, que seria custeada pelo governo.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) vai analisar o repasse dos bens em uma auditoria que confere o equilíbrio financeiro da concessão da Linha 1.
A secretaria afirma que as novas subestações, em Thomaz Coelho e Coelho Neto, já foram construídas pelo MetrôRio. O órgão argumenta que as composições ficaram obsoletas em relação ao modelo de operação atual e se tornaram patrimônio da concessionária. Questionada pela reportagem sobre os valores envolvidos na operação, a Setrans não informou quanto valiam os trens transferidos e não confirmou se essa avaliação chegou a ser feita.
Questionada, a concessionária MetrôRio também não respondeu sobre o valor da propriedade adquirida. A empresa informou apenas que os trens estão obsoletos e que, por isso, não serão reaproveitados em nenhuma linha. A companhia avalia que destino dará às composições, que receberam instalações de ar-condicionado na época em que eram do governo.
O TCE explicou que, como se trata de operação financeira, a cessão dos trens será avaliada na auditoria da Linha 1 em curso, que pretende saber como está a balança das obrigações financeiras do estado e da concessionária. De acordo com o órgão, não se trata de análise sobre a legalidade da transição, mas do ponto de vista contábil. O procedimento, iniciado há pouco tempo, não tem prazo para conclusão.
José Ricardo Ramalho, especialista em Direito Administrativo, ressalta que o estado deveria saber o valor do patrimônio negociado. “O governo deveria ter calculado o valor dessas unidades, senão como provar que não causou dano ao erário?”
Opções para a utilização
Especialistas em mobilidade contestam que as composições do pré-metrô sejam obsoletas. Segundo Atilio Flegner, pesquisador do Fórum de Mobilidade Urbana do Rio, os carros, fabricados pela falida Cobrasma na Bélgica e em São Paulo, têm capacidade para 24 mil passageiros por hora e por sentido e poderiam substituir as locomotivas a diesel da SuperVia nos ramais Inhomirim e Guapimirim. O pré-metrô era um sistema de veículo leve sobre trilhos (VLT), de menor capacidade que o metrô, que funcionava em parte da Linha 2 nas décadas de 1980 e 1990.
“Alguns desses trens começaram a rodar a partir de 1979 e outros, em 1981. Não têm nem 40 anos de idade. Obsoletas são as locomotivas da década de 1950 da SuperVia”, avalia Flegner. “As locomotivas a diesel poluem o ar e têm aceleração e frenagem muito lentas. O VLT acelera e freia mais rapidamente, o que diminuiria o tempo de viagem, e é mais silencioso, por ser elétrico. Só teria que eletrificar os ramais Inhomirim e Guapimirim.” A SuperVia informou não ter recebido proposta do estado para os VLTs.
Doutor em Engenharia de Transporte, Fernando Mac Dowell, responsável pelo projeto do pré-metrô, garante que os VLTs poderiam ter sido colocados em operação no metrô antes da compra dos atuais trens chineses. Na visão dele, o governo poderia aproveitar melhor os veículos se fosse criada uma linha de VLT na Barra da Tijuca, ligando regiões do bairro à futura estação da Linha 4, no Jardim Oceânico. “O mais caro é o carro, que já está aí.” Professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Márcio D’Agosto lembra que projeto de 1970 previa um pré-metrô com traçado semelhante ao do BRT Transcarioca. “Se tivesse sido feito há 20 anos, haveria hoje um sistema transversal de metrô na cidade.”