Por gabriela.mattos

Rio - Com a recente temporada de baixas temperaturas no Rio, o carioca se sensibilizou com a situação da população de rua e ‘varais solidários’ começaram a surgir em diversos bairros. Já no Grajaú, Zona Norte, moradores estão divididos com a iniciativa. O varal montado no Largo da Viúva, apesar de ser diariamente abastecido de doações como roupas e mantas, já foi retirado duas vezes por funcionários da subprefeitura local. O motivo alegado é que as roupas poluem visualmente o local, atrapalham a passagem de pedestres e atraem usuários de drogas para a região.

O pontapé inicial para o surgimento do varal foi dado no final do mês passado por uma moradora do bairro, que prefere não se identificar. Ela recolheu doações de moradores do prédio onde mora e colocou, inicialmente, no Largo do Verdan, mas, dias depois, segundo ela, um agente da subprefeitura retirou o varal.

Nelson%2C de chapéu%2C que trabalha em frente ao Largo da Viúva%2C garante que o varal não atrapalha pedestreMárcio Mercante / Agência O Dia

“Não desisti e montei novamente, mas agora no Largo da Viúva e novamente foi retirado. Coloquei a uma altura que não atrapalhasse a passagem de cegos e escolhi um lugar onde não tivesse comércio de roupas, mas retiraram novamente durante a madrugada. Uma amiga viu e recolheu as roupas que foram deixadas no chão”, contou a voluntária.

O pintor Nelson Aparecido mora no Grajaú ha 37 anos e trabalha em frente ao Largo. Ele conta que o varal não atrapalha a passagem de pedestres e ajuda, até mesmo, quem não é morador de rua. “A gente acaba tomando conta do varal. Fico na praça o dia todo e observo pra ver se não vem ‘cracudo’ fazer bagunça. A gente planta arvores que dão fruta e também cuidamos do bairro. Essa é uma ação de solidariedade”, diz. Segundo moradores da região, uma mãe chorou, emocionada, após recolher roupas para os filhos no varal.

Administrador da subprefeitura local, Marcelo Guerreiro é a favor de medidas sociais, mas já recebeu mais de 70 denúncias de moradores do bairro que reprovam a ação. “Eles alegam que enfeia o bairro, atrapalha a passagem e têm medo de que essa ação atraia população de rua e viciados para o Largo. Já ofereci a Região Administrativa da subprefeitura, mas eles querem polemizar”, retruca.

Guerreiro conta que ele próprio foi até o Largo para retirar o varal a pedido do subprefeito Marcio Ribeiro. “Mendigo não vai querer se vestir bem, ele não vai conseguir dinheiro estando bem vestido. Quem pega roupa ali é pra vender e comprar droga. Esse tipo de ação é bonito na França, aqui não. Aqui tem que vigiar”, pontua. O subprefeito desconhece a presença do varal e diz que não sabe de ações de remoção das roupas, mas que toda iniciativa desse tipo é bem vinda. “Preciso que os organizadores procurem a administração do bairro para avisar da ação. Estamos aqui para intermediar e ajudar de alguma forma”, esclarece.

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