Por rafael.nascimento

Rio - Furtos, saques, vandalismo, sabotagem, protesto. Parece roteiro de filme de ação, mas é apenas o trailer do que se vê na Vila dos Atletas da Rio 2016 às vésperas do início das Olimpíadas. Em entrevista exclusiva ao DIA, publicada na edição de ontem, o prefeito Eduardo Paes revelou que vários alojamentos construídos para receber as delegações que participarão dos Jogos Olímpicos haviam sido depredados. Segundo o prefeito, vasos sanitários, chuveiros, pias, torneiras e demais equipamentos foram levados dos apartamentos.

O que para muitos soou como desculpa esfarrapada de Paes, que não anda na melhor fase de suas piadas, para outros foi o retrato fiel do caos encontrado. Caso do chefe da delegação argentina, Diego Gusman. Ele já havia dito no último domingo que suspeitava de sabotagem na Vila, e ontem disse ter certeza, após tudo o que viu por lá.

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Eduardo Paes está irritado com situação da Vila dos Atletas Levy Ribeiro / Agência O Dia

"Já participei de diversas missões esportivas, olimpíadas, campeonatos mundiais, panamericanos. Nunca tinha visto nada parecido. Encontramos tecidos e blocos de cimentos em ralos e vasos sanitários. Isso não é problema de obra. Os próprios funcionários que estão fazendo os reparos confirmam ser sabotagem", disse Gusman.

Se para quem vem de fora o nome é sabotagem, para quem trabalha na Vila o nome é protesto. Em virtude de problemas como a precariedade das condições de trabalho e atrasos de salários, constatadas ontem em uma vistória do Ministério do Trabalho, que prometeu multar o Comitê Rio 2016 em cerca de R$ 300 mil pelas irregularidades.

Dois funcionários ouvidos pelo DIA, um que participou da construção da Vila e outro que está na força-tarefa para fazer os reparos necessários, também confirmaram os protestos e a sabotagem.

"Estranhei quando ouvi as notícias sobre o estado dos apartamentos. Um problema aqui ou ali é normal, mas entregamos tudo pronto. Eu mesmo fiz instalações elétricas no prédio onde está a Austrália, vi as instalações hidráulicas e não tinha problema nenhum que chamasse a atenção. Mas o que a gente ouve, agora, é que tem gente depredando. Acho um desrespeito com o país e com o nosso trabalho", disse Marcolino Pereira, de 38 anos.

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Trabalhadores contratados emergencialmente chegam à Vila dos Atletas para resolver problemas hidráulicos%2C elétricos e de limpeza dos prédiosEstefan Radovicz / Agência O Dia

O funcionário que ainda trabalha na Vila garante não ter participado de nenhum tipo de ato de vandalismo, mas ainda assim preferiu não se identificar. E revelou que colegas, revoltados com o atraso de pagamentos, realmente depredaram alguns apartamentos.

"Tem gente que fala abertamente. Outros a gente olha e sente que participaram também. Claro que ninguém gosta de trabalhar e não receber, mas destruir a obra é trabalho porco. Fica ruim para a gente mesmo. Quer cobrar, entra na Justiça. Se não me pagarem o que devem, é o que vou fazer. Mas não vou sacanear a Olimpíada", disse o encanador.

O Diretor-Executivo de Operações do Comitê Rio 2016, Rodrigo Tostes, preferiu colocar panos quentes nos problemas para evitar render o assunto às vésperas da abertura dos Jogos. Ontem, ele entregou os três últimos prédios que ainda estavam sob reparos, na Vila.

"Está tudo pronto. Passamos os apartamentos para as delegações. Desde o primeiro dia foram problemas pequenos de hidráulica, energia, estamos entregando hoje (ontem) a Vila para os atletas. Segundo eles, a melhor Vila que eles já tiveram" minimizou Tostes, que não quis apontar culpados pelos problemas. A ordem é falar o mínimo possível e trabalhar mais para acabar com a má impressão deixada nos últimos dias.

"As coisas estão sendo apuradas de maneira correta. Nosso objetivo sempre foi entregar os trinta e um prédios e estamos fazendo isso. A gente notou algumas coisas (saques). Mas foram coisas pequenas. A gente não está focando nisso (sabotagem). As delegações estão todas muito contentes", desconversou.

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