Por gabriela.mattos

Rio - O sonho de cursar a graduação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) é concretizado para muitos alunos por meio de bolsas. Atualmente, dos 12.600 jovens que estudam na universidade, 5.800 recebem desconto na mensalidade, sendo que três mil têm bolsa integral. No entanto, alguns destes estudantes relatam que sofrem preconceito dentro da faculdade, seja por colegas de turma ou até mesmo por professores.

Para dar maior visibilidade a este problema, oito bolsistas da universidade criaram a página "Bastardos da PUC-Rio", no dia 14 de setembro, para reunir os depoimentos das vítimas. Em menos de um mês, a comunidade teve mais de oito mil curtidas e já recebeu 80 relatos.

De acordo com os organizadores da iniciativa, que preferem não se identificar, o espaço é uma forma de dar maior representatividade para o "público periférico" dentro do ambiente acadêmico. "O interessante é que também estamos alcançando pessoas de outras faculdades. Isso mostra que o problema é maior e mais recorrente do que se imagina", afirmaram.

Página Bastardos da PUC-Rio reúne relatos de preconceito contra estudantes bolsistas da universidadeReprodução Facebook

Os integrantes explicaram ainda que a página no Facebook é apenas um dos projetos que o coletivo pretende desenvolver. Eles disseram ainda que, após a repercussão dos depoimentos, a Vice-Reitoria Comunitária já os procurou. "A intenção é estreitar essa parceria e conseguir, juntos, avanços para o cenário dos alunos bolsistas e periféricos", acrescentaram.

Constrangimento no primeiro dia de aula

Para muitos alunos, um dos momentos de maior constrangimento dentro da faculdade é na tradicional apresentação entre os estudantes e os professores, principalmente no início das aulas no primeiro período da graduação. Moradora de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, e formada em Jornalismo pela PUC-Rio, X., de 23 anos, contou ao DIA que sempre ouvia comentários preconceituosos quando dizia onde morava.

"Os comentários eram ditos pelos alunos. Quando eu dizia que moro em São Gonçalo, alguns me perguntavam se era um bairro de Niterói ou se ficava na Zona Norte", disse a jovem, que era tinha bolsa filantrópica na PUC-Rio. "Outro momento era quando eu dizia 'vou assistir à aula de Fulana'. Me diziam que isso era errado, que eu deveria dizer 'da Fulana', sendo que estava certo", lembrou ainda X.

Em relato enviado à página, uma estudante de Design, que tem 50% de desconto na mensalidade da faculdade, destacou que os professores costumam comentar que os bolsistas devem atentos à quantidade de faltas, para "não perder as bolsas". Ela contou ainda que um menino da turma ouviu de um professor que ele não conseguiria fazer um projeto por "não ter dinheiro", já que era bolsista.

Procurada pelo DIA, a PUC-Rio confirmou que os integrantes da página se reuniram com representantes da Vice-Reitoria Comunitária e afirmou que está "sempre disposta a atender os alunos". De acordo com a assessoria de imprensa da universidade, os estudantes podem denunciar os casos por meio da Ouvidoria da universidade ou mesmo da Vice-Reitoria Comunitária

"A PUC-Rio sempre foi marcada pela diversidade dos seus alunos e tenta promover isso em todos os momentos. O seu marco referencial destaca o pluralismo e o respeito ao outro, entre outros valores", completou, em nota.

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