Rio - Indícios de que o ex-ortopedista e traumatologista Fernando César Lamy Monteiro da Silva continuou a exercer a Medicina, atendendo pacientes em suas casas, mesmo depois de ter tido o registro suspenso pelo Cremerj em 2014, serão investigados pela polícia. Nas redes sociais, o próprio Lamy, que teve o exercício da profissão cassado definitivamente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) na terça-feira, deu a entender que vinha clinicando.
O consultório dele foi fechado há dois anos, depois que ele foi detido no local, em consequência de uma série de matérias feitas pelo DIA. Lamy, acusado de sete mortes e lesões graves em diversos pacientes (supostos crimes que ele sempre negou), postou em seu perfil no Facebook, no dia 1º de abril do ano passado, agradecimento a um homem que elogiava o ex-ortopedista e mencionava uma consulta.
“Estou muito feliz...consegui uma consulta com um ortopedista conceituado, enviado por Deus...Tenho uma lesão nos pés. Mas agora, graças ao dr. Fernando Lamy, vai dar tudo certo”, postou o paciente no perfil. No dia seguinte, Lamy compartilhou o post em sua página e escreveu: “Estamos juntos, o que precisar pode contar comigo!”
A artista plástica Rosane Santos Albuquerque, de 65 anos, que atribui a Lamy a morte de sua filha — a design de modas Tatiana Langer, aos 29 anos, na mesa de cirurgia— testemunha que o ex-traumatologista prestava atendimentos de forma ilegal em residências de doentes.
“Eu mesmo fiz o teste. Me passando por paciente, liguei para ele tentando marcar uma consulta e perguntando onde era o consultório. Ele então me disse que tinha passado a atender seus clientes em casa”, revela Rosane.
Acusado também de usar carimbos e falsificar assinaturas de médicos para preencher formulários exigidos em cirurgias, como se os profissionais tivessem auxiliado nos procedimentos, Lamy não chegou a ficar nenhum dia preso.
Denunciado à Justiça por homicídio culposo, pela morte de Marcelo Costa, 37, em 2012, durante uma cirurgia na coluna, o médico continuou atendendo em seu consultório depois do registro cassado, conforme O DIA comprovou em vídeo.
Quando foi detido em 2014, a polícia apreendeu, em seu consultório, em Vila Valqueire, receituários cujo cabeçalho informava que Lamy era titular de quatro entidades. Mas em pelo menos três delas a informação era falsa: as sociedades brasileiras de cirurgia na coluna, no joelho e minimamente invasiva. Na época, ele dizia pertencer ainda à Academia Americana de Ortopedia.
Até a publicação desta matéria, mais de 24h depois de a reportagem ter solicitado à Polícia Civil informações sobre o andamento das investigações na 26ª DP (Todos os Santos), a assessoria de imprensa da instituição não havia dado retorno.
Sindicato culpa clínica
Autuada em flagrante numa clínica da Barra da Tijuca, a falsa médica Gabriele de Souza Matos, de 33 anos, usava dois CRMs e se passava por pediatra, ginecologista e obstetra. Para o presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, “o principal responsável por casos como esse é quem contrata” e a negligência do poder público com relação à fiscalização adequada das unidades médicas.
O Cremerj afirma que seria preciso abrir uma sindicância para apurar a responsabilidade da clínica. “Pode ser que a clínica tenha exigido documentos necessários e tenha sido enganada, ou que não tenha exigido os documentos necessários”, disse o presidente do Conselho, Pablo Vasquez.
Segundo ele, casos de exercício ilegal da Medicina devem ser tratados como questão de polícia, já que o Cremerj não tem autoridade para investigar e punir falsos médicos, atuando apenas no julgamento de profissionais, por meio de processos éticos. Em fraudes com o consentimento de médicos registrados no conselho, o Cremerj abre uma sindicância para investigar os profissionais.
O caso de Gabriele foi registrado na 16ª DP (Barra da Tijuca). Encaminhada ao sistema penitenciário, ela responderá pelos crimes de exercício ilegal da Medicina, falsificação de documento particular, falsidade ideológica e uso de documento falso.