Por thiago.antunes

Rio - Cadê o louro? Essa é a questão que o advogado Luiz Fernando, de 50 anos, e sua mãe, Nana, 82, se perguntam há mais de um mês. O animal, chamado ‘Papagaio’, -foi levado da casa da família no Fonseca, em Niterói, por agentes da 78ª DP.

Luiz conseguiu reaver a guarda do bichinho no Tribunal de Justiça (TJ-RJ), no último dia 30 de setembro, mas quando foi buscá-lo no Comando de Polícia Ambiental (CPAM), em Bonsucesso, ele já tinha sido mandado ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, em Seropédica. Chegando lá, ninguém conseguiu achá-lo.

Papagaio vivia com a família há 10 anos%2C após briga com cachorroÁlbum de família

“Tinha mais ou menos 50 animais iguais a ele. Não souberam identificar, os papagaios são muito iguais”, contou Luiz. Geralmente, é o papagaio que reconhece o dono e, quando Luiz esteve no viveiro, Papagaio não se apresentou. Hoje, o advogado deve retirar com o Juizado Especial Criminal um mandado com ordem de prisão, caso seu animal não seja devolvido. Mas ele desconfia que Lourinho, como passou a ser conhecido no TJ, não esteja mais em Seropédica.

A juíza que julgou o caso, Rosana Chagas, entendeu que, embora animais silvestres não devam ser retirados da natureza, os bichos sentem “dor, afeto, tristeza e alegrias”. Após dez anos criando “laços de ternura e amizade”, o afastamento de Papagaio da dona poderia ser “fatal para um ou para ambos”.

O presidente da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da OAB/RJ, Reynaldo Velloso, aplaudiu a decisão. “Acima das normas, está a necessidade de o animal ter amor. Um animal tem muito mais amor da família do que estando em um viveiro. Espero que essa decisão sirva de exemplo para outros magistrados, que hoje não são sensíveis à causa dos animais”.

Papagaio (com letra maiúscula mesmo) virou integrante da família há dez anos. O bicho entrou em uma briga com um cachorro na casa dos dois e Dona Nana cuidou da ave até criar um laço afetivo. Como moram perto de duas escolas, Papagaio entrava em polvorosa na hora do recreio. Luiz brinca que o animal tinha que receber um diploma.

“Minha mãe ficou muito chateada, sem comer, e já disse que não quer criar nenhum outro bicho”, lamentou.

O Ibama explica que ter um animal silvestre em casa é delito de maus-tratos. Para ser legal, a ave deve ser de um criadouro autorizado. Luiz tentou regularizar Papagaio, mas, como não podia comprovar de onde tinha vindo, não conseguiu obter a licença.

Questionada sobre o caso, a Polícia Militar afirmou apenas que o “CPAM possui um abrigo provisório na sede da unidade, em Bonsucesso, onde os animais, apreendidos durante a noite, podem pernoitar para, no dia seguinte, serem encaminhados para o Cetas”. 

Reportagem  de Alessandra Monnerat

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