Por tabata.uchoa
Rio - Traficantes da facção Comando Vermelho (CV) formaram um conselho secundário para disseminar ordens de dentro do Complexo Penitenciário de Bangu, sem consulta dos líderes mais antigos da quadrilha, detidos em presídios fora do Rio. A atuação dessa nova forma de organização aparece em investigações sigilosas das polícias Federal e Civil.
Os presos do chamado Conselho do Rio de Janeiro se comunicam por cartas e aplicativos de celular com traficantes em liberdade, que executam as ordens. As correspondências são enviadas tanto pelo Correio, já que por lei não podem ser violadas, como por advogados, segundo investigações.
Almir Araújo%2C o Mimi%2C Leonardo da Silva%2C o Sapinho%2C Ronaldo Pinto%2C o Ronaldinho%2C Charles Batista%2C o Charles do Lixão%2C Elizer Joaquim%2C o Criam e Ronaldo Brito%2C o MetralhaReprodução


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“São ordens que precisam ser executadas com pressa e não podem esperar o Alto Conselho (traficantes mais expressivos, como Marcinho VP e Elias Maluco) se reunir: execuções, invasões. Eles têm aval da cúpula para tomar qualquer medida de urgência”, afirmou um inspetor, que não se identificou.
O titular da Delegacia de Combate às Drogas, Felipe Curi, já investigou a comunicação entre os traficantes líderes da facção com outros presos dentro de Bangu 3, na Operação Overload, ano passado. “Mesmo em penitenciárias máximas, grandes lideranças da facção enviavam ordens para o Rio através de outras pessoas”, afirmou.Um dos presos na operação é o advogado da facção Eli da Luz, que está em Bangu 1.
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Agora, escutas feitas pela Polícia Federal apontaram que essa comunicação se tornou lenta. A solução encontrada foi a criação desse conselho secundário para dar aval a ordens que, de forma mais ampla, já tinham a autorização dos chefões da quadrilha que compõem o chamado Alto Conselho.
Troca de correspondência entre chefes do Comando Vermelho são frequentes%2C aponta a políciaReprodução

Esse grupo em Bangu é mutável — quem está preso e é mais antigo responde pelas demandas. Uma das últimas formações era composta, no início deste ano, por Ronaldo Pinto Lima e Silva, o Ronaldinho Tabajara; Leonardo da Silva, o Sapinho; Charles da Silva Batista, o Charles do Lixão; Almir Araújo, o Mimi; Ronaldo de Souza Brito, o Metralha; Eliezer Miranda Joaquim, o Criam; e Isaías do Borel. A expansão da venda de drogas para a Barra da Tijuca, por exemplo, foi deles.

Em meio a um cenário de descentralização das ordens da facção, agentes penitenciários encontraram morto, na sexta-feira, o detento Rogério Ribeiro da Silva numa área comum da penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, em Bangu. Ele era acusado de chefiar o tráfico numa comunidade em Belford Roxo.
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Chefes do tráfico trocam cartas com facilidade
O tráfico de drogas na Barra da Tijuca tem domínio da facção ADA (Amigos dos Amigos). A polícia investiga se Isaías do Borel, quando ainda estava preso em Bangu, solicitou aos membros do conselho autorização para Marcelo Batista, o LC do Borel, que é seu parente, fazer um ataque ao morro do Banco, no Itanhangá.
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Outra opção dada ao conselho na ocasião, segundo o serviço de inteligência da Polícia Civil, foi que o ataque fosse feito pelos homens do traficante Sérgio Luiz da Silva Júnior, o Da Russa, apontado em inquérito por participação no estupro coletivo de um menor, em maio passado, no Morro da Barão, na Praça Seca.
No entanto, o conselho entendeu que, como ele já estaria arrecadando dinheiro do tráfico do Complexo do Lins e de outras comunidades da Zona Oeste, a vez da invasão seria de LC. A ação do ataque ao Morro do Banco resultou na morte da dentista Priscila Nicolau, de 37 anos. Ataques a Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e mortes de policiais sequestrados também passam pelo aval desse conselho.
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A formação desse conselho foi, em parte, desfeita após a Vara de Execuções Penais transferir para presídios federais 12 chefes da facção, quando eles comemoravam o ataque ao Hospital Souza Aguiar, na ação em que o traficante Fat Family foi retirado da enfermaria. A polícia já possui informações sobre a nova formação.
O DIA teve acesso a uma carta entre dois chefes da facção — um preso e outro solto. Por ainda ser peça de investigação, a polícia solicitou sigilo dos nomes. Nela, um deles escreve em um trecho: “Me responda em seguida dessa vez, estarei esperando ancioso (sic)”. A reportagem solicitou uma entrevista com o secretário de Administração Penitenciária, mas não obteve resposta.