Por tabata.uchoa
Niterói - A chuva insistente que assolou o estado neste domingo durante todo o dia tirou muita gente das ruas, mas não apagou o brilho da 12ª Parada do Orgulho LGBT, em Niterói. “Não há frente fria, intolerância ou homofobia que nos tirará da Praia de Icaraí”, publicou a assessoria do Grupo Diversidade Niterói (GDN), responsável pela organização.
O bom humor característico das passeatas gays tomou conta da Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres%2C que voltou a receber o eventoAlexandre Brum / Agência O Dia

Com o tema ‘Amar sem Temer’ —que parecia fazer um trocadilho também com o nome do presidente da República, Michel Temer —, a estimativa dos organizadores era de que 70 mil pessoas compareceriam. A Polícia Militar, por meio de sua assessoria, não divulgou número de participantes, mas informou que o evento seguia de forma pacífica, sem ocorrências. 

João Felipe Padilha, de 27 anos, músico e cantor, conhecido como Boivi, se apresentou durante o evento, em cima de um trio elétrico. “Foi maravilhoso. A chuva não atrapalhou. A organização estava impecável e o público, animado, querendo estar junto”, diz. Para ele, esse tipo de evento é extremamente importante para divulgar a causa LGBT. “Não sou gay, mas essa não é uma luta só de quem é. Não é apenas para que aceitem a opção sexual. A luta é para que acabe o preconceito e a violência no mundo. Ninguém aguenta mais tanta intolerância”, destacou.
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Bruna Benevides, presidente do Conselho Municipal LGBT de Niterói, declarou na página da organização que a participação na Parada é uma forma de resistência e luta. “É muito simbólico e emblemático a gente estar aqui esta tarde para resistir e mostrar nossa força”, disse. Ela lembrou ainda que Niterói é a primeira cidade do estado a ter um conselho LGBT presidido por uma travesti. “Isso é muito importante pro nosso movimento porque ele traz visibilidade e representatividade para a nossa população que é tão estigmatizada dentro e fora do meio LGBT”, conta.
Guarda-chuvas coloridos viraram acessórios decorativos e úteis domingoAlexandre Brum / Agência O Dia

A Parada, que contou com o apoio da prefeitura da cidade, voltou este ano à Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres, na Praia de Icaraí. O evento começou à 13h e tinha previsão de término às 21h. Para o ato, a Niterói Transportes e Trânsito (NitTrans) preparou um esquema especial de trânsito, que sofreu intervenções em alguns pontos do bairro. A Parada contou com quatro trios-elétricos, shows de drag queens e música ao vivo. Desde a última quinta-feira, foi montada a ‘Tenda da Diversidade’, na Praça Getúlio Vargas, com debates sobre cultura, cidadania, saúde e educação.

Dominique Laurence, que há cinco anos ostenta o título de Drag Queen Oficial da Parada LGBT de Niterói, destacou que a parada de Niterói acolhe pessoas de todas as idades. “Todo mundo vem, crianças, pais, tios e avós. Isso porque, aqui, a grande maioria já se conhece e quando se encontram se abraçam se beijam e, acima de tudo, se respeitam”, destacou, ao site de ‘O Fluminense’.
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A cada 28 horas, um LGBT é morto
Estudo do Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga ONG a militar pelos direitos dos homossexuais no Brasil, mostra que a cada 28 horas um LGBT é morto no país. Só no ano passado foram registradas 318 mortes de gays, travestis, lésbicas e bissexuais. A maior parte delas aconteceu em São Paulo, que lidera o ranking dos estados onde mais homossexuais são mortos violentamente.
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De acordo com o antropólogo Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia e professor da Universidade Federal da Bahia, o mais preocupante é que o registro de violência contra a população LGBT vem aumentando ao longo dos anos: “Nunca se matou tanto homossexual no Brasil quanto agora”, disse.
A Anistia Internacional apontou em relatório divulgado em 2015 que a pressão político-religiosa no país tende a bloquear o avanço de leis que poderiam proteger minorias de serem discriminadas, especialmente em relação aos homossexuais. Já uma pesquisa realizada pelo ‘Pew Research Center’ mostrou que 65% da população brasileira acham que a homossexualidade deve ser aceita pela sociedade.