Grupo de Sérgio Cabral soube das prisões três dias antes
Ex-tesoureiro do PMDB, Luiz Rogério Magalhães alertou aliado sobre operação
Por gabriela.mattos
Rio - O grupo do ex-governador Sérgio Cabral, acusado de envolvimento no suposto esquema de cobrança de propinas em contratos de obras públicas, sabia, com antecedência de pelo menos três dias, que o político e alguns de seus aliados seriam presos no dia 17.
Em gravações feitas pelo Ministério Público Federal com autorização da Justiça e divulgadas ontem pelo ‘RJTV’, da Rede Globo, o ex-tesoureiro do diretório estadual do PMDB Luiz Rogério Gonçalves Magalhães e o ex-assessor de Sérgio Cabral Wagner Jordão Garcia, apontado como um dos operadores financeiros do esquema, usavam códigos para se referir aos juízes Marcelo Bretas, que decretou a prisão de Cabral (o “homem” e o “rapaz do Rio”), e Sérgio Moro (o “chefe” e “o cara lá do Sul”), responsável pelos processos da Operação Lava-Jato e que também expediu mandado de prisão contra o ex-governador do Rio de Janeiro.
De acordo com o Ministério Público Federal, Wagner Jordão Garcia, também preso pela Operação Calicute, extorquia das empreiteiras a chamada “taxa de oxigênio”, que era a propina cobrada das empresas para realizarem construções com a Secretaria de Obras do estado. Ele teria utilizado empresas para ocultar e lavar dinheiro desviado.
Publicidade
Nas gravações obtidas pelo MPF, Luiz Rogério utiliza uma variação da gíria “chapa quente” surgida nos bailes funks do Rio e que significa que algo está “pegando fogo” para sinalizar que o esquema de corrupção havia sido descoberto pelos juízes do Ministério Público. “Olha aqui. A chapa derreteu. O homem foi lá e abriu”.
Questionado por Wagner se as informações já haviam sido divulgadas pela imprensa, Luiz Rogério diz que não, mas novamente em código diz que o segredo acabou. “O homem foi lá e quebrou o cofrinho”. Logo depois, Luiz Rogério diz que a prisão de Cabral, morador do Leblon, estava a caminho. “O Leblon já foi pro vinagre! Falta só chegar a conta e mandar entregar. A fatura já foi feita”.
Publicidade
Diretora da H. Stern diz que levava joias de até R$ 100 mil
A diretora comercial da H.Stern, Maria Luiza Trotta, afirmou em depoimento à Polícia Federal que levava joias, anéis de brilhante e pedras preciosas na residência de Sérgio Cabral (PMDB) para que o ex-governador e sua mulher, a advogada Adriana Ancelmo, fizessem uma “seleção” da peça a ser escolhida. Segundo ela, os pagamentos eram feitos em dinheiro vivo.
Publicidade
Maria Luiza disse que “chegou a vender joias no valor de até R$ 100 mil a Sérgio Cabral, tais como anéis de brilhante ou outros tipos de pedras preciosas, sendo o pagamento ainda que em tais quantias realizado em dinheiro”. A executiva trabalha na H.Stern há 34 anos.
De acordo com ela, o dinheiro em espécie era levado a uma loja da joalheria, em Ipanema, por Carlos Miranda, apontado pelas investigações, como o “homem da mala” de Cabral. A testemunha revelou à PF que passou a atender “pessoalmente” o político quando ele ainda era governador, em 2013. Na Operação Calicute, que prendeu preventivamente o ex-governador, a Polícia Federal apreendeu cerca de 300 peças de ouro, brilhante e pérolas em vários endereços, 40 delas no apartamento de Cabral, no Leblon.
“Os atendimentos feitos pela declarante a Sérgio Cabral sempre foram feitos no interior da residência deste; que, os atendimentos eram agendados com a declarante por Carlos Miranda ou algum outro (a) secretário (a) e Sérgio Cabral; que, a declarante então, nesses encontros na casa de Sérgio Cabral levava joias de amostragem, as quais eram selecionadas ou não pelo próprio Sérgio Cabral ou por sua esposa”, diz o depoimento da diretora.
Publicidade
Segundo Maria Luiza, o ex-assessor de Sérgio Cabral “ou outros portadores não identificados do dinheiro em espécie eram dirigidos à tesouraria”. A diretora não soube informar sobre a emissão de notas fiscais. “Todas as joias tinham certificados que eram entregues a Sérgio Cabral e/ou esposa, sendo certo que a empresa não guarda cópia de tais certificados por questão de confidencialidade”, diz o depoimento, prestado em 17 de novembro, dia que a Operação Calicute foi deflagrada. A PF exigiu de Maria Luiza, em 24 horas, “todas as cópias de notas ficais de venda realizadas entre H. Stern e Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo”.
Em depoimento à PF, no dia em que foi preso, Cabral declarou que “não se recorda” das compras das joias. O ex-governador se disse também “indignado” com as “mentiras” dos delatores que afirmaram ter pago propinas a ele e seus aliados referentes às grandes obras do governo do Rio. Procurada, a H. Stern declarou que mantém a política de não falar com a imprensa sobre casos que envolvam clientes.
Publicidade
Esposa visita ex-governador
A advogada Adriana Ancelmo visitou o marido Sérgio Cabral Filho na Penitenciária Bangu 8, no Complexo de Gericinó, ontem à tarde. A visita da esposa foi a primeira que o ex-governador recebeu desde que foi levado para o Complexo Penitenciário, na quinta-feira da semana passada.
Publicidade
Adriana obteve autorização especial da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) para visitar o marido, já que as carteirinhas para acesso das famílias ao Complexo Penitenciário levam, em média, 15 dias para ficar prontas, segundo a própria Seap. Parentes de outros presos, no entanto, reclamam, às vezes, de espera ainda maior para poder visitar o familiar preso. Em nota, a Seap informou, no entanto, que “como para qualquer outro interno do sistema penitenciário, é possível que seja autorizada uma visita extraordinária”.
Também ontem o filho de Cabral, Antônio Neves Cabral, usou a página no Facebook para escrever mensagem de agradecimento ao apoio que ele e a família vêm recebendo desde que o pai foi preso. “Gostaria de agradecer por todas as mensagens de força e carinho que eu e minha família temos recebido. Estamos muito firmes e unidos! Tenho certeza que todos os fatos serão esclarecidos e a justiça será feita. Muito obrigado a todos os amigos e aqueles que conhecem e confiam no trabalho do meu pai Sérgio Cabral”, escreveu.
Publicidade
Com informações do Estadão Conteúdo e colaboração de Caio Barbosa