Viaturas da Polícia Civil já fazem patrulhamento nas ruas
Apesar das manifestações de familiares atingirem 29 unidades, policiais não deixam de sair para as ruas. Secretário diz que de 5% a 10% do patrulhamento foram afetados
Por gabriela.mattos
Rio - A Polícia Civil vai ajudar no patrulhamento de rua do estado, além das guardas municipais do Rio, Caxias e Niterói. A medida foi anunciada pelo secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, na noite de ontem, após o início dos protestos de familiares de PMs nas portas dos batalhões. Os protestos não tiveram adesão como no Espírito Santo e, segundo Sá, somente 5% a 10% do policiamento da Polícia Militar foram comprometidos. “A manifestação não impediu em hipótese alguma que todos os batalhões patrulhassem suas áreas”, garantiu Sá. A população que acordou preocupada, ficou aliviada com a postura dos PMs que não aderiram ao movimento.
Nas áreas onde os policiais encontraram mais resistência dos familiares para sair em patrulhamento, viaturas da Polícia Civil já faziam rondas na noite de ontem. Foi o caso da Tijuca, Madureira, Cascadura, Bangu, Realengo, Campo Grande, São Gonçalo e Niterói. Associações representativas dos policiais civis repudiaram a ação. “O patrulhamento de vias não se enquadra em seus serviços essenciais”, afirmaram em nota.
Ontem, por medo da falta de policiamento, o comércio de Bonsucesso chegou a fechar a partir do meio-dia. Um arrastão foi registrado próximo à Praça das Nações. A Fiocruz terminou o expediente no início da tarde. E a faculdade Unisuam não funcionou. Ainda na Zona Norte, o Supermercado Campeão, no Rocha, foi assaltado. Na Baixada, houve relatos de arrastão em Meriti.
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“É obvio que em uma situação como essa o Rio de Janeiro não vive um dia como outro qualquer. Embora o policiamento tenha sido quase na sua totalidade para guarnecer a cidade, alguns indicadores tiveram aumento no atendimento 190, como roubos de rua”, reconheceu Sá.
Os protestos dos familiares e amigos de policiais militares começaram ainda na noite de quinta, quando um grupo acampou em frente ao Batalhão de Volta Redonda. Durante a madrugada de ontem, outros pequenos grupos chegaram a unidades como as do município de São João de Meriti e Duque de Caxias. No decorrer do dia, 29 unidades tiveram protestos realizados nos seus portões. “Estou contando com a ajuda de parentes. O aluguel está atrasado. O governador precisa olhar pelos policiais”, disse uma manifestante. Elas pedem regularização dos salários e melhores condições de trabalho aos PMs.
Para especialista, movimento deve enfraquecer
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Para o ex-chefe do Estado-Maior da Polícia Militar do Rio, Robson Rodrigues da Silva, o movimento das famílias de militares não ganhará força, mesmo com algumas entradas de batalhões ainda ocupados por manifestantes. Antropólogo e pesquisador do laboratório de análises de violência do Estado do Rio, pela Uerj, Robson entende que os desdobramentos da greve dos militares (bombeiros e PMs) em 2012, quando os grevistas foram punidos, contribuem para a postura mais cautelosa adotada pelos agentes, hoje.
Além disso, ajuda no enfraquecimento do movimento, segundo ele, no atual contexto em que PMs se tornaram alvo de bandidos. “Se eles (PMs) não estiverem nas ruas, a família deles vai estar, então, o policial não vai querer essa perda de controle na segurança pública e está agindo de forma equilibrada para saber até que ponto pode seguir sem que haja perdas para a sociedade. É importante que os manifestantes sejam inteligentes e coordenem bem este ato. A sociedade não pode pagar por isso, como foi no Espírito Santo”, disse.
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Compromisso falou mais alto ontem
“Fiz um juramento quando me tornei policial: servir e proteger. Se o Rio virar o caos, não vai adiantar de nada o salário”. Essa foi a explicação de um major da Polícia Militar para não aderir à paralisação e incentivar a tropa a trabalhar, no Batalhão de Olaria. Pensamento parecido teve um soldado do Comando de Polícia Pacificadora. “Além de defender a sociedade, defendo quem está ao meu lado. É pra ele não morrer que aguento ficar em um contêiner, e vice-versa. Não posso deixar de fazer a rendição, meu colega me espera para o serviço e pode ser atacado”, disse um sargento, ao explicar porque aceitou pular o muro da unidade para trabalhar no Complexo do Alemão. Outro soldado disse que não aderiu pois obedeceu ordens.
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Nas ruas, boa parte da população ficou apreensiva com o que poderia acontecer ao longo do dia. Eduarda Cadena está no Rio há um ano, mas ela é natural de Recife, onde já viveu uma greve de policiais e o medo despertou ao saber da possibilidade de reviver a situação. “Em Recife o comércio parou, as pessoas não saíam de casa... Sem policiamento, as pessoas viram bichos”, acredita Eduarda. “Rolou muita insegurança por conta dos boatos nos grupos de Whatsapp. Acho que isso foi o pior de tudo”, disse Raíssa Simas, amiga de Eduarda na Lapa, ontem à noite.