“Coronel que defende desmilitarização da PM não ama a corporação. É um simulacro de coronel. Já os civis que defendem esse absurdo são fantoches da ideologia comunista falida”, dispara Lopes, atribuindo o caos instalado no território capixaba por uma semana à “falta de comando firme” por parte da cúpula da PM e à “crise de autoridade que o Brasil enfrenta”.
“Os agentes (no caso do Espírito Santo) transgrediram as normas da instituição militar, assim como seus parentes. Deveriam ter sido todos presos imediatamente para cumprirem as duras penas impostas pelo código de disciplina interno e pela legislação em vigor.”
Doutor em Sociologia e coordenador do Laboratório de Análises de Violência (LAV) da Uerj, Ignácio Cano defende a desmilitarização. “A militarização prejudica os próprios policiais, que têm seus direitos, principalmente os de reivindicação e de sindicalização, limitados por duras regras. É preciso uma polícia mais cidadã”, justifica o sociólogo. “Por outro lado, não é razoável que uma categoria armada busque melhorias para a classe em detrimento de servidores públicos de outras áreas”, opina.
'Polícia única, nem militar, nem civil'
Para o coronel reformado da PM, José Vicente Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, desmilitarizar a instituição sem um modelo adequado e seguro, pode significar o agravamento do caos. Em entrevista recente sobre o assunto, José Vicente defendeu a criação de uma polícia única. Na sua opinião, a militarização não é um aspecto negativo das polícias nacionais.
“Defendo uma polícia só, sem adjetivos, nem militar, nem civil, com um grande ramo uniformizado e outro de investigação. O modelo atual é caro e ineficiente”, prega, rechaçando críticas de entidades de direitos humanos, que alegam que a maioria dos policiais age com violência nas comunidades.
José Vicente lembra que a discussão sobre a falta de preparo para a gestão das polícias Civil, Militar e Federal deveria se sobrepor à desmilitarização. “A falta de gestão, seja operacional, seja financeira ou de recursos humanos, é gravíssima. Quando a polícia expõe que falta papel higiênico, ela está confessando seu fracasso em gestão”, argumenta.
Documento das Organizações das Nações Unidas (ONU) acusou, ano passado, a Polícia Militar brasileira de matar pelo menos cinco pessoas por dia no país. Um outro relatório, da Anistia Internacional,destacou que a força policial militar nacional é a que mais mata no mundo.
Descaso e modelo de gestão considerados 'perversos'