Rio - Cenário em dois momentos da guerra entre policiais e traficantes nesta quinta-feira em Acari — quando a menina Maria Eduarda foi assassinada quando fazia educação física no pátio do colégio e no registro em vídeo da execução de dois homens, que estavam na calçada da unidade — , a Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza fica divisa entre o asfalto e a favela e, segundo o diretor da instituição, serve de escudo para os policiais durante confrontos.
"Estamos dentro da comunidade e lá é fácil para ser atingida, já que e toda aberta. As vezes em momento de confronto a escola serve de escudo pra PM. Por conta do tiroteio de ontem várias paredes da escola foram atingidas, inclusive a minha sala", disse Luiz Menezes, que falou que o professor de Educação Física da menina também ficou ferido por estilhaços.
De acordo com o diretor, além de Maria Eduarda havia pelo menos mais 30 crianças no pátio quando começou o tiroteio, num total de 350 alunos, que faziam outras atividades nas salas quando iniciou a troca de tiros. "No momento da morte da Duda uma amiguinha ainda se ajoelhou para tentar salvá-la. A polícia agiu da pior forma possível na hora de socorrer a Duda. Eles começaram a atirar para cima e jogar bomba de gás lacrimogêneo. Houve uma correria e muitas crianças ficaram em choque. Tivemos que socorrer as crianças e usar vinagre. Foi um tremendo despreparo", denunciou.
Cesar Benjamin, secretário municipal de Educação, esteve no IML, deu apoio à família e a secretaria vai pagar os custos do enterro de Maria Eduarda. Segundo ele, nesta sexta-feira há 25 unidades educacionais fechadas por conta de tiroteios nos bairros atendidos pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação ( Costa Barros, Fazenda Botafogo, Acari, Pavuna, e Coelho Neto), totalizando 9583 alunos sem aula. Na unidade onde Duda morreu são 720 alunos divididos em dois turnos (manhã e tarde), 42 professores dando aulas do sexto ao nono ano. Escola ficará fechada por tempo indeterminado.
"Desde ontem não paro de chorar. Foi uma tragédia o que fizeram ontem. Saí de minha casa e vim pessoalmente para dar apoio a toda a família. Queremos liberar o corpo o mais rápido possível. Entramos em contato com os órgãos necessários para que se faça a liberação", disse, ressaltando que 80 psicólogos vão dar apoio aos estudantes.
"Teremos que recomeçar do zero. Na semana que vem vamos encontrar pais, alunos, diretores e a responsável pela CRE para fazer um trabalho específico na escola", disse Benjamin.
?Reportagem do estagiário Rafael Nascimento