Rio - Luis Fernando Malaquias, de 25 anos, morto no Morro da Formiga na última quarta-feira durante uma operação policial, aproveitou as férias do trabalho em uma loja como estoquista para fazer um bico no mototáxi da comunidade, onde era nascido e criado. O objetivo era complementar renda para a nova fase da vida: estava morando junto com a noiva e planejava casar. Seu corpo será enterrado às 15h30 desta sexta-feira, três dias depois do crime, no Cemitério do Caju, dia em que retornaria ao trabalho.
O almoxarife Diogo dos Santos Simões, de 25 anos, amigo de infância de Luis, a quem considerava como um irmão, lamentou a morte trágica do jovem, cheio de planos e que queria melhorar de vida. "Ele planejava casar, há duas semanas fizeram chá de panela. Só morreu porque infelizmente estava procurando uma renda a mais, começou a morar junto com a mulher, a despesa ia aumentar" disse.
Diogo disse que viu o amigo minutos antes dele ser morto, quando descia do alto da comunidade. "Ele tinha acabado de passar por mim. Nisso ouvimos os tiros. Fui para casa e os vizinhos chegaram desesperados 'Balearam ele, balearam ele'. Chegamos lá e ele estava no chão, os moradores em volta. Ele estava vivo ainda, mas eles (os policiais) viram a brutalidade, a besteira que fizeram, e não deixaram socorrer. Se não fosse os moradores ali em volta, para pegar e tentar fazer alguma coisa, estaria lá ainda, os policiais iam deixar lá, agonizar lá, morrer", denunciou. "O que eles vão alegar? Foram seis, sete tiros. Não tem o que alegar. Foi assassinado!
Além do sofrimento da perda, a família e amigos precisaram enfrentar a lentidão na liberação do corpo, que demorou dois dias. "O rapaz morreu na quarta-feira. Até agora nada, isso acaba com a família", falou Diogo. Segundo o amigo, não foi feita a perícia no local do crime. "Está todo mundo revoltado e queremos uma posição."
'A gente não tem nem ideia de como vai seguir em frente', diz noiva
Luana Santos Lima, de 20 anos, estava há três anos e nove meses como Luis, mas não era a primeira vez que ficavam juntos. Desta vez, o romance tomou outros contornos e decidiram constituir uma família. Ela lembra com carinho de Luis e fica triste pelos pré-julgamentos postados em redes sociais.
"Era a pessoa mais tranquila que você possa imaginar. O único vício que ele tinha era o futebol, não tinha envolvimento nenhum (com o tráfico), trabalhava como estoquista. O que estão falando dele não tem nem o que falar, é muito revoltante. O pessoal acha que quem mora na favela é traficante. Até da moto dele falaram, que era cara e que não podia ter uma. Mas a dele era mais barata que existia", contou.
A noiva parece não acreditar no que aconteceu e não sabe como serão as coisas de agora em diante. "A gente não tem nem ideia de como vai seguir em frente, não estou acreditando ainda. Estou me segurando aqui, é preciso ter força, mas quando chega em casa, relembra os momentos, é muito difícil."
Ela também denuncia a demora na liberação do corpo, que ficou 24 horas no hospital depois de confirmada a morte, aguardando a liberação da Defesa Civil. "Pobre não tem voz, né? A gente luta, não vai ficar assim não", disse.
Reportagem do estagiário Rafael Nascimento