Rio - A história que será escrita nas próximas linhas poderia ser enredo de um livro de Nicholas Sparks, roteiro de um filme de Woody Allen ou cantada em uma música de Elton John. Mas é real e aconteceu aqui mesmo, no Rio de Janeiro. Na verdade, no trecho entre Rio e Goiânia do voo 5052 da companhia Azul, na última quinta-feira, dia 30 de março. Foi ali que o carioca Paulo Teles, de 34 anos, pediu a mão da namorada, a goiana Ana Caroline, de 33 anos, em casamento.
Paulo combinou com os tripulantes do voo para fazer a surpresa. No alto falante, o comandante contou, resumidamente, parte da história de cinema do casal. Entre os episódios, uma terrível doença que atingiu ambos e uma perda brusca de um parente. Mas acima de tudo, muita fé, cumplicidade e amor, tão necessários nos tempos atuais.
De constipação a um grave câncer
A vida de Paulo era parecida com a de muitos homens da mesma faixa etária e classe social. O delegado da Polícia Federal conseguia unir a dura rotina da profissão com campeonatos de polo aquático. Praticante de esporte, bom emprego, tipo físico saudável, nada disso foi suficente para impedir que uma grave doença mudasse sua vida.
Era 2 de junho de 2016 e o carioca estava em Brasília fazendo um curso da corporação. Uma simples constipação o levou à emergência do Hospital de Brasília, onde uma tomografia detectou um câncer de colón, com metástase no fígado e obstrução parcial no intestino. Diagnóstico grave, que exigia operação de urgência. "Na hora, o mundo para e a cabeça gira. Você se sente num pesadelo, ou filme de terror, no qual é o protagonista, sem querer jamais ter sido indicado sequer para o papel de coadjuvante", conta Paulo.
Em meio ao espanto da notícia, decidiu fazer o tratamento no Rio, onde mora. A internação foi imediata e o primeiro procedimento seria a desagradável colostomia. Mas decidiu ouvir uma segunda opinião e se consultou com Dr. Alemar Roger Salomão, cirurgião-geral e oncológico. Foi Dr. Salomão que iniciou a recuperação, ou, como chama Paulo, o milagre, sem passar pelo procedimento delicado, que significava abrir o cólon e usar uma bolsa para a eliminação das fezes.
O médico decidiu desobstruir o intestino, evitando a desagradável colostomia. Deu certo. Depois, era operar o órgão, quimioterapia, operação no fígado e mais quimioterapia. "Parece simples e rápido. No dia a dia, é um mundo de provação, medo e muitas incertezas", revela o delegado.
A nova vida de Paulo apenas começava. Sempre ao lado dele, os pais, seu José Luiz e dona Isabel. E claro, Ana Caroline, a "leoa", nas palavras do próprio noivo.
Depressão, questionamentos, fé
Durante a árdua caminhada em direção a cura, Paulo sofria. Não só com as dores físicas, mas também as psicológicas. Como quando contou aos pais sobre a doença que lhe atingiu. "Eu chorava e pedia desculpas, como se fosse culpado de algo. Sempre levei uma vida saudável, praticando esporte e alimentando-me bem, então por que adoeci?", questionava-se.
Após a cirurgia, Paulo percebeu que se recuperava da doença. Mas não recuperava a sua vida. Com uma série de limitações, o delegado entrou em depressão. Veio a sofrida quimioterapia e o poço ficava cada vez mais fundo. "Querer acabar com a própria vida era uma questão de quando e como", admite.
Foi quando apareceu a fé. Paulo recebeu cartas psicografadas do irmão, o agente penitenciário Tiago Teles de Castro Domingues, que foi morto aos 31 anos após reagir a um assalto na Tijuca, na Zona Norte do Rio. O alento veio na hora necessária.
Para ajudar a vida dos médicos - e a sua própria - Paulo recorreu ao celebrado médium João de Deus, que em seu currículo tem cirurgias espirituais nos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, entre outras personalidades. "Fiquei mais grogue do que as cirurgias físicas", conta o delegado sobre a cirurgia espirtual feita com médium.
A equação para a esperada cura se fechava com a operação espiritual feita por João de Deus. Paulo, que já contara com o providencial tratamento urgente do Dr. Alemar Roger Salomão, tinha também aos seus cuidados a equipe do oncologista Dr. Carlos Gil Moreira Ferreira, e claro, todo amparo da família e da namorada, além da ajuda da amiga e psicológa Drª. Tereza Vasconcellos.
A batalha da 'leoa'
Auditora fiscal, a goiana Ana Caroline Rabelo Umbelino, de 33 anos, passou por provação parecida um pouco antes. Em 20 de janeiro de 2015, retirou um tumor do seio maxilar de cerca de 5 cm, que os médicos descobriram mais tarde ser maligno. Cinco meses depois, passaria por nova cirurgia, dessa vez, para que fossem retiradas as margens de risco da doença voltar ou se espalhar.
Quando descobriu que Paulo estava com câncer, Ana Caroline demorou a acreditar. "Achei que ele estivesse brincando. Afinal, fazia apenas um ano e alguns meses que tínhamos passado pela minha doença. Nos primeiros dias, eu chorava muito. Depois, passado o susto, tinha muita fé que ele ficaria curado", confessa.
Estar ao lado do namorado no momento mais difícil exigia não só fé, mas também muita paciência e compreensão. "Tinha que me recompor porque precisava passar confiança pra ele. Ele estava com depressão, falando o tempo todo que iria se matar", revela.
O amor está no ar, literalmente
Vencida as batalhas de saúde, chegava o momento de sacramentar os três anos de amor entre Paulo e Ana Caroline, que se conhceram em uma festa no Rio de Janeiro. O noivo escolheu um lugar que tivesse a ver com o namoro. A rota Rio-Goiânia, feita pela Azul, era parte do relacionamento do casal ao longo da união. Bastou então combinar com a tripulação e fazer o esperado pedido. "Estávamos vindo pra Goiânia, como fazíamos sempre. Para mim, seria apenas mais um voo nosso, igual a todos os outros. Fiquei sem acreditar quando comecei a ouvir o comandante contando a nossa história", se emociona Ana.
O casamento ainda não tem data marcada, e eles pensam em ter filhos, mas não por enquanto. Paulo se sente "200% melhor do que antes" e diz que torce para que seja "o fim de uma guerra e não apenas de uma batalha". E tal qual Rocky Balboa, o personagem do histórico filme, sabe que ninguém vai bater mais forte que a vida. "Não importa como você bate, e sim, o quanto aguenta apanhar e continuar lutando; o quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha”, finaliza.
Reportagem do estagiário Caio Bellandi