Rio - A participação de adolescentes no jogo ‘Baleia Azul’ — em que ‘curadores’ incitam os participantes em redes sociais a provocar lesões em si mesmos e até atentar contra a própria vida — acendeu um alerta nas casas e nas escolas sobre a prevenção do suicídio. Nesta terça, a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) confirmou dois casos de menores que tentaram interromper a própria vida após participarem dos desafios online.
São duas meninas de 14 anos, uma da capital e outra do interior do estado, que prestaram depoimento à Polícia Civil. No caso de uma menina de 12 anos que tentou o suicídio em uma escola do Rio a relação com o ‘Baleia Azul’ foi descartada. Nesta quarta, outro adolescente de 14 anos deve ser ouvido pela titular da DRCI, Fernanda Fernandes. Segundo a delegada, a investigação visa alerta pais e professores sobre a existência do jogo. “O que queremos é evitar as mortes, e, em segundo momento, chegar à autoria”.
Para evitar o aliciamento de outros menores, a polícia conta com a ajuda de pais e professores: eles devem verificar qualquer mudança de comportamento dos alunos, incluindo lesões corporais. “Desde o início do jogo eles são estimulados a fazer lesões. Monitorem as redes sociais e venham até a gente. Não só os pais das vítimas, como os pais de amigos e os professores devem procurar a delegacia”, recomendou Fernanda.
Na Escola Municipal Amélia Ricce Baroni, em Belford Roxo, a professora e orientadora educacional Raquel Paulino, de 48 anos, já iniciou um trabalho de prevenção. Com reportagens do DIA publicadas ontem e no domingo, ela reforçou a adolescentes de 12 a 16 anos sobre o valor da vida e oa instou a compartilhar as informações de prevenção a amigos da escola. Raquel também ressaltou a importância do diálogo com os pais: “Percebi que este jogo está chamando a atenção dos adolescentes”. Segundo ela, muitos estavam com medo, mas já havia dois alunos que tentaram participar. “Se isso aconteceu em uma sala com 35 alunos, imagino que pode se tornar atrativo para outros alunos”, disse a professora.
De acordo com a delegada, adolescentes com sinais de depressão são os mais vulneráveis a participar e chegar ao fim do jogo de forma trágica. “Há relatos que eles (os curadores) procuram as pessoas com tendência à depressão. Mas qualquer vítima pode ser aliciada”. Diante da repercussão do tema, o youtuber Felipe Neto decidiu fazer um ‘vídeo sério’ para ressaltar a importância de discutir o assunto do suicídio e da depressão entre jovens e adolescentes. “Antes de se preocupar com o jogo, você tem que se preocupar com o seu filho”, disse ele no vídeo. “O jogo é uma consequência de pessoas que estão passando por problemas. Temos que tratar a origem, a depressão”, completou o youtuber.
Em 2012, o suicídio foi a segunda maior causa de morte entre os 15 e 29 anos de idade, em todas as regiões do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). E 96,8% dos casos registrados estavam relacionados com histórico de doença mental.
‘Curadores’ podem responder por homicídio
Os ‘curadores’ são como se chamam os que passam instruções do ‘Baleia Azul’ por Facebook, WhatsApp e SMS. Segundo a delegada titular da DRCI, Fernanda Fernandes, eles podem responder por associação criminosa e até homicídio. “Entendemos que os curadores se utilizam dos menores para prática dos delitos. Eles vão responder a qualquer ato que os adolescentes provoquem em si mesmos, de lesão corporal a homicídio”, disse. O professor de Psicologia da Mackenzie Rio Paulo César Guimarães descreve os curadores como portadores de “profundo desrespeito pela vida, ausência de valores, desprezo pela ética, pela moral e pelo respeito”. Segundo a médica da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Alexandrina Meleiro, estes indivíduos são movidos pelas ‘conquistas’ dos jogos. “(O curador) vê como um desafio extremo. É mais um troféu que a pessoa quer ter”.
Programas ajudam pais a monitorar os filhos
Desde que os jovens descobriram a Internet, os pais se preocupam com o que suas crianças acessam. A multiplicação de celulares e redes sociais só aumentou essa preocupação. Com quem eles conversam? Que vídeos veem? Que fotos enviam? Estão indo mesmo aonde dizem que vão? À parte o debate sobre a relação de confiança entre pais e filhos, há programas que prometem vigiá-los. Um dos mais completos do mercado é o mSpy (mspy.com.br), que permite ver o registro de ligações, conversas no WhatsApp, SMS, sites visitados, vídeos e fotos visualizados, atividades no Snapchat.
A lista de controles é vasta. Como se dá com antivírus, a segurança tem seu preço. O pacote básico custa R$ 67 por mês (R$ 227 por ano) enquanto o mais completo custa R$ 197 por mês (R$ 517 por ano). Para os pais que precisam apenas saber onde os filhos estão, a solução gratuita é Find My Iphone, recurso do iOS que permite localizar o aparelho pela Internet, que tem o similar Android Device Manager para smartphones com sistema operacional do Google. O primeiro requer ajuste nas configurações do iPhone. O outro precisa do usuário e senha usados no aparelho.