Rio - A redução de 500 policiais militares no patrulhamento diário da capital desde a Olimpíada, motivada pela crise financeira do estado, como O DIA publicou neste domingo, foi percebida no aumento da sensação de insegurança por cariocas das zonas Oeste à Sul. Agora outra nuvem de incerteza paira sobre o coração comercial do Rio, já que o projeto Centro Presente pode ser descontinuado em julho se o convênio com a Fecomércio-RJ não for renovado. O resultado seria ter menos 538 agentes por dia na região.
“A periferia de Campo Grande sempre teve muito roubo, mas no Centro tinha policiamento. Agora quando o movimento do comércio cai, começam os assaltos”, diz William Siri, do movimento coletivo Tudonumacoisasó, da Zona Oeste. “Onde moro, na Estrada do Cabuçu, havia viaturas até de madrugada, hoje não tem mais. Com certeza é reflexo disso, mas eu não tinha noção de quantos PMs eram a menos”.
A diminuição do efetivo é decorrente da suspensão do RAS (Regime Adicional de Serviço), remuneração para o trabalho voluntário em horas extras. A Associação dos Moradores do Galeão (Amog), na Ilha, cobra do estado a valorização dos PMs e a garantia da ordem pública. “A gente sente a violência crescente tendo relação direta com o efetivo reduzido. Reverter esse quadro depende de um posicionamento das autoridades para retomar o pagamento que é de direito dos policiais militares”, defende o presidente da Amog, Luiz Sérgio Tavares.
Já o coronel Paulo César Lopes, especialista em segurança conhecido como ‘linha dura’, defende a extinção do RAS, criado na gestão do ex-secretário José Mariano Beltrame. “No passado, o comandante escalava o policial na segunda folga para cumprir um serviço extra sem qualquer gratificação. Por disposição estatutária, compete aos militares dedicação integral ao serviço. E ele já recebe no seu contra-cheque uma gratificação de regime especial de trabalho.”
A mobilidade da tropa também está comprometida desde que o contrato com a CS Brasil foi impedido de ser renovado em novembro por ordem do TCE. A empresa emprestava viaturas à corporação quando os veículos ficavam no conserto. Com o fim do contrato, os batalhões ficam sem carro por até duas semanas.
Diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança do Rio, Vinícius Cavalcante contesta que a crise seja a única responsável pela alta da criminalidade. “Se a gente tivesse agido de forma dura contra criminosos sem ficha pregressa, que portam armas militares e disparam contra policiais, o processo de pacificação talvez pudesse ser mantido”, avalia.
Outros bairros também correm risco
Como antecipou a coluna ‘Informe do Dia’ na sexta-feira, a Fecomércio-RJ, que financia o Centro Presente em parceria com a prefeitura, ainda não negocia a renovação do contrato, com término previsto para 1º de julho. Segundo a Secretaria Estadual de Governo, o fim do projeto representaria menos 538 agentes por dia no Centro. Também não há previsão de renovação dos contratos para os projetos Méier, Aterro e Lagoa Presentes, que acabam em dezembro. O Lapa Presente é financiado pelo estado.
Enquanto isso, a Associação dos Moradores do Leblon busca apoio de empresários para implantar policiamento parecido no bairro, orçado em R$ 16 milhões anuais. E está prestes a montar um ‘Big Brother’ com 60 câmeras que serão adquiridas também com ajuda da iniciativa privada. As imagens devem ser compartilhadas com o batalhão da PM
Um dos coordenadores do Centro Presente, o capitão Hugo Coque diz que os crimes de rua foram reduzidos de 85% a 92% entre outubro e dezembro na região, em comparação com 2015.
Atraso no Tijuca Presente
O projeto Tijuca Presente, que deveria sair do papel em 20 dias, deverá atrasar por mais uma semana. O estudo elaborado por capitães da PM, a pedido da Superintendência da Grande Tijuca, que vai levantar os custos do projeto na região, só ficará pronto daqu até o final desta semana e o valor para bancar a operação pode passar de R$ 20 milhões. No entanto, após a doação de um centro comercial esta semana, uma cabine da Polícia Militar será instalada perto da Avenida Maracanã.
O superintendente José Henrique Junior explicou que após uma reunião com a inspetora Tatiana Mendes, comandante da Guarda Municipal, pelo menos 30 agentes deverão atuar na região a pé.
A assessoria de imprensa da CS Brasil informou que os contratos de gestão de frotas que a empresa tinha com o estado para as polícias chegaram ao seu término e não foram renovados por decisão da CS Brasil e não por determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ainde de acordo com a assessoria, todas as viaturas passaram por revisão e foram entregues aos cuidados das polícias em perfeitas condições de uso.