Rio - As ações dos ladrões de cargas no Rio estão se tornando mais frequentes dentro dos perímetros urbanos, levando pânico também a moradores e provocando mortes. Ontem, em mais dois ataques a carrregamentos de cigarros, um vigilante de escolta e um suposto bandido morreram, outro segurança ficou ferido, e um ônibus foi alvejado.
Os bandos já praticam pelo menos 19 ataques por dia no estado (mais de 90% na Capital, Região metropolitana e Baixada Fluminense), segundo a última estatística do Instituto de Segurança Pública.
O ISP contabilizou 1.145 ocorrências só nos dois primeiros meses deste ano. Os bandidos deixaram de abordar veículos com produtos de alto valor somente nas rodovias, passando a interceptá-los em bairros, em qualquer hora.
No final da manhã, o segurança da Supervig, Luiz Nogueira de Araújo, 40 anos, morreu baleado no primeiro ataque, na Avenida Paranapuã, na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Ele foi socorrido no Hospital Municipal Evandro Freire, mas não resistiu. De acordo com o 17º BPM (Ilha), um assaltante também foi baleado.
No início da tarde, em Santíssimo, na Zona Oeste, oito homens armados de pistolas e encapuzados, usando dois carros, tentaram roubar um caminhão que também levava cigarros, na Avenida Santa Cruz, próximo à Estação de Trem. O ataque foi em horário de grande movimento, principalmente de estudantes das escolas Municipal Fernando Barata Ribeiro e Técnica do Rio de Janeiro, que ficam nas imediações.
Vigilantes da escolta reagiram. Um suposto bandido foi baleado e morreu no local. Até o início da noite, ele ainda não havia sido a identidade revelada. Um dos seguranças da escolta foi baleado, mas está fora de perigo. O bando levou uma Kombi e fugiram levando a arma que estaria com o homem morto.
Um ônibus da linha 786 (Campo Grande x Marechal Hermes) ficou no meio do fogo cruzado e foi atingido por pelo menos 20 tiros. Os passageiros se abaixaram. Houve tumulto e gritaria. Nenhum passageiro foi atingido.
De acordo com testemunhas, os bandidos teriam tentando ferir alguém no ônibus para desviar a atenção deles. “Deus estava dentro do ônibus com a gente”, comentou uma passageira numa rede social.
Sindicato denuncia fragilidade nas escoltas armadas
O presidente do Sindicato dos Vigilantes e Empregados em Empresas de Segurança do Rio, Antônio Carlos Oliveira, denunciou que as empresas responsáveis pelas cargas estariam estariam afrouxando na segurança dos trabalhadores.
Algumas estariam contratando carros de escolta de pouca potência e sem blindagem suficiente para evitar os ataques. As medidas seriam devido a altos custos finais de seguros das cargas, mas estariam expondo os vigilantes. Antônio ressaltou que só este ano, três seguranças já morreram em confrontos e oito ficaram feridos no Rio. Um deles ficou paraplégico.
Segundo o sindicalista, a entidade luta para mudar a Portaria Federal número 3.233, que prevê apenas revólver 38 milímetros e espingarda calibre 12 para escoltas de cargas. “Não queremos acirrar uma luta armada, mas só termos melhores condições de defesa com armamento mais adequado e blindagem nos carros”, disse.
Quadrilhas ‘loteiam’ as regiões
Ao todo, dos 45 mil vigilantes de escoltas do estado, 30 mil atuam na capital. O Sindicato de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística (Sindicargas) informou que desconhece a possível requisição de escoltas em veículos menos potentes e sem blindagem, e que os calibres de armas de vigilantes de cargas competem à legislação federal.
As cargas de cigarros, frigoríficos, remédios, alimentos e eletroeletrônicos, são as mais visadas. No dia 17 de fevereiro, numa das ações mais violentas dez ladrões mataram a tiros o vigilante Yago Aguiar Sant’anna, de 24 anos, que fazia a escolta de um caminhão com cigarros no Arco Metropolitano, na Baixada .
Conforme o DIA revelou, para evitar confrontos, quadrilhas ligadas às maiores facções do tráfico de drogas do Rio, que passaram a investir no roubo de cargas, fizeram um acordo inédito, loteando e demarcando territórios onde atacam cargas.
A informação é investigada pelos setores de inteligência das polícias Civil e Militar. Dos 9.870 roubos de cargas no estado em 2016 (2.645 a mais que em 2015), 3.500 (mais de um terço do total) ocorreram na Pavuna, Ricardo de Albuquerque e adjacências.