Rio - Dois policiais militares foram presos em flagrante nesta quinta-feira, na Baixada Fluminense. Um dos PMs portava um colete a prova de balas sem registro e o outro portava uma pistola registrada em nome da Polícia Rodoviária Federal. O Ministério Público suspeita que os policiais estejam envolvidos com tráfico de drogas e roubo de cargas no município de Japeri. Com os PMs também foram apreendidos vários celulares e anotações suspeitas.
Além dos policiais, outras 17 pessoas foram presas, sendo cinco traficantes. A polícia também apreendeu sete armas (sendo dois fuzis), uma submetralhadora, três pistolas, 100 quilos de maconha e grande quantidade de pasta pura de cocaína.
"Corrupção era o que esses PMs faziam. Agora, estamos trabalhando para descobrir quem seriam os outros integrantes dessa organização", disse o promotor do Ministério Público, Fábio Corrêa.
A operação Estado Paralelo foi realizada pela Polícia Militar junto com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap).
Extração de areia
Durante a megaoperação, a polícia também descobriu que o tráfico ganhava dinheiro com a extração de areia. Um areal abandonado foi encontrado em Japeri e o Batalhão Ambiental foi acionado para desmontar o local.
"A PM tá fazendo a parte dela e estamos atuando. Vivemos uma grave crise ética. Apesar de não ensinamos isso, infelizmente, existem PMs que já veem desviados para a corporação. Estamos fazendo o dever de casa", complementou o promotor.
Racha em facção
Os traficantes presos na megaoperação desta quinta-feira fazem parte das facções Comando Vermelho e Amigos dos Amigos. Eles disputavam o controle da comunidade de Guandu, vizinha ao Arco Metropolitano, e são responsáveis por crimes como extorsão, roubo de carga e homicídios.
"Nas investigações verificamos que o chefe do tráfico do Guandu era o Ipojucan Soares de Andrade, conhecido como Coroa, do Comando Vermelho. Ao ser preso, o criminoso escolheu seu sucessor, conhecido como Parazão. No entanto, ele foi morto por rivais durante uma tentativa de invasão da comunidade. Após tomar conhecimento da morte de Parazão, Ipojucan indicou seu filho adotivo Silvio Cesar de Jesus Esteves, o Silvinho, para ser seu novo sucessor. Com raiva da indicação, Breno da Silva de Souza saiu do CV e migrou para o ADA. Ele resolveu invadir a comunidade e nessa invasão o Silvinho acabou sendo baleado e preso em um hospital. O Breno ganhou força e o Guandu ficou dividido entre as duas facções", conta a promotora do Ministério Público, Angélica Glioche.
Mais recentemente, o controle da organização passou a ser exercido de Bangu 2, por Robson Luiz Ferreira Mesquita, conhecido como 22. O criminoso determinou que outras pessoas, fora da cadeia, ajudassem no comando do crime na região. "Essas pessoas foram alvos na ação de hoje. Outras pessoas ligadas ao Breno também foram alvos".
Segundo a promotoria, tanto o CV quanto a ADA tem um grande poderio bélico e implementaram "o terror naquela área". "Eles querem fazer o terror e mostrar o seu poderio. Temos muitos casos de pessoas roubadas no Arco Metropolitano. Inclusive, no caso do roubo do caminhão de cigarro em que os dois seguranças foram mortos. O Breno tem participação nesse crime e vai responder por isso", completa. "Não podemos admitir que exista um outro estado que não seja o de bem. Por isso o nome da operação. Quem manda lá é o estado".
Durante as investigações, foram interceptadas várias ligações. Entre elas uma conversa em que uma pessoa dizia "que era dia de dar dinheiro para alguém da Polícia Militar manter o tráfico na região". De acordo com o MP, como o áudio não foi capaz de identificar quem seria o policial ou os policiais do 24º BPM (Queimados), a Justiça determinou buscas e apreensões na casa de 17 policiais — que trabalhavam no dia da interceptação. De acordo com a PM, desses militares, apenas oito ainda estavam lotados na unidade.
Algumas favelas evitadas por causa de nova diretriz
O coronel Antonio Jorge Goulart, coordenador de Inteligência da PM, afirmou que policiais não cumpriram mandados nas Comunidades da Mangueira e Vila Cruzeiro, ambas na Zona Norte, e Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, para seguir a determinação do secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, de que se tenha mais cuidado durante as operações em comunidades com grande quantidade de moradores.
Segundo a determinação, dada na quarta-feira, o objetivo é preservar as vidas dos moradores. Goulart considerou a operação de ontem como “exitosa”.
“A nossa operação já estava programada antes da determinação do secretário. O que fizemos foi cancelar a nossa entrada nestas comunidades porque entendemos que não teríamos um bom custo-benefício. Resolvemos adiar para um momento em que os danos colaterais para estas comunidades fossem reduzidos”, disse o coronel. Na quarta-feira, após três crianças serem atingidas por balas perdidas em uma semana, Sá determinou que a PM revejam procedimentos, aperfeiçoando as normas internas sobre operações.
Reportagem do estágiario Rafael Nascimento, com supervisão da repórter Karilayn Areias