Por thiago.antunes

Rio - Motivo para comemoração não há. Mas, ontem foi um dia raro no histórico escolar carioca: foi o oitavo, dentre os 103 dias do ano letivo, que nenhuma unidade municipal de Educação foi obrigada a fechar suas portas por causa de tiroteios. Nos outros 95 dias, pelo menos uma escola não funcionou devido à violência.

Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Educação, quase 130 mil dos cerca de 650 mil alunos da rede ficaram sem aulas, seja em escolas, Cieps, creches ou Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDIs). A secretaria não tem um ranking sobre as unidades mais prejudicadas. Porém, relaciona as comunidades que ficaram mais dias sem escola.

Comunidades que mais tiveram escolas fechadas em função de conflitos armadosArte%3A O Dia

Acari, onde a estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, 13 anos, foi morta por um tiro quando brincava no pátio da escola, é a recordista: foram 30 dias sem aulas. O Complexo da Maré, outro ponto de intensos e quase diários conflitos armados, ocupa a segunda posição, com 18 dias de escolas fechadas.

O Complexo do Alemão e a Cidade de Deus, que anteontem assistiu a violento confronto entre traficantes e policiais militares resultando no fechamento de nove escolas, duas creches e três EDIs e deixando 3.314 alunos sem aula, dividem o terceiro lugar: 15 dias de escolas fechadas por causa de tiroteios.

Aulas começaram em 2 de fevereiroArte%3A O Dia

Para o antropólogo Fabiano Monteiro, doutor em questão racial, pesquisador do Viva Rio e professor da UFRJ, as escolas são vítimas nos confrontos tanto entre facções, quanto entre quadrilhas e a polícia.

“O Governo do Estado tem interferência significativa nesse fenômeno. A UPP apresenta sinais de cansaço. A solução do problema passa pelas secretarias de Educação e Segurança”, destacou Monteiro. Segundo ele, as consequências dos efeitos colaterais nas áreas pobres são nulas. “Uma das formas de ascensão social é a escola pública. Ao abrir mão da educação, praticamente se condena o futuro das crianças”.

A professora Dorotéa Frota, coordenadora geral do Sindicato dos Professores do Rio, garante que essa rotina bélica compromete o aprendizado das crianças. “A escola é o porto seguro dos alunos, onde eles deveriam estar protegidos. Todos os dias deveriam ser como o de hoje”.

Treinamento para dar aulas em áreas de risco

Cerca de 40 professores da rede municipal de educação iniciaram um treinamento para atuar em áreas de risco. O curso de acesso seguro para os serviços públicos essenciais é dado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), entidade que mantém projetos em zonas de conflito pelo mundo.

Os professores selecionados trabalham em 11 Coordenadorias Regionais de Educação (CREs), onde funcionam as 400 escolas mais vulneráveis aos tiroteios. Segundo o secretário de Educação, César Benjamin, que não cansa de pedir um plano de atuação à polícia, para que não exponha tanto as escolas dos ‘efeitos colaterais’ dos confrontos, afirmou, no lançamento do curso, que o Rio vive uma situação bastante particular, com grandes áreas da cidade sob controle de facções criminosas e com a polícia não sendo parte da solução, mas do problema.

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“Nós sabemos que essa situação de violência que vivemos hoje foi construída e tem causas sociais, culturais e econômicas. Portanto, a paz ou uma paz relativa também terá que ser construída”.

Quatro meses da morte de Duda, em Acari

A morte da adolescente Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, completou quatro meses e foi um dos episódios mais dramáticos na rotina de violência a que são submetidos estudantes e professores do município. Duda, como ela era conhecida, participava da aula de educação física no pátio do Colégio Daniel Piza, em Acari, quando foi atingida por três tiros.

Na ocasião, havia um confronto entre traficantes e policiais militares no Complexo da Pedreira, a poucos metros da escola. A suspeita é que os tiros que mataram Duda partiram das armas dos policiais. Ontem, foi publicado no Boletim Interno da PM a mudança na chefia do Estado Maior Geral da Polícia Militar.

Quem está nessa função é o responsável por autorizar as operações policiais. O coronel Cláudio Lima Freire, na função desde novembro de 2014, foi substituído pelo coronel Lúcio Flávio Baracho, que era responsável pelas regiões Norte e Noroeste fluminense.

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