Rio - Para se proteger da violência no Rio, com estatísticas que apontam cerca de 11 tiroteios por dia, o presidente da Ceasa-RJ, o paulista Aguinaldo Balon, vai passar a usar um carro blindado. A licitação para a escolha da empresa que alugará, com dinheiro público, o veículo, será realizada no dia 20.
Em plena crise financeira, o governo do estado deverá gastar em torno de R$ 12 mil por mês com a locação do automóvel, sem contar despesas com motorista e combustível. A quantia daria para colocar em dia, por exemplo, o salário da servidora pública estadual Thaíse de Andrade, 28 anos, que ganha R$ 3 mil mensais. Sem receber pagamento desde maio, ela está com cinco prestações atrasadas do seu Fox 2012. A dívida é de R$ 4 mil.
“Considero um acinte. Enquanto isso, estou sem receber o 13º salário do ano passado e os salários de maio em diante. Estou quase perdendo meu carro. Sem receber, não consigo regularizar o pagamento das parcelas. Não sei o que fazer”, lamentou Thaise.
Mestre em finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e da Fundação Dom Cabral, Gilberto Braga considera a medida inadequada. Segundo ele, como o servidor a ser beneficiado com o blindado não é da área de Segurança, os gastos, além da “época imprópria”, são discriminatórios. “Um servidor não pode ser beneficiado em detrimento da maioria”, explicou.
Especialista em Segurança Pública, o coronel Paulo César Lopes, também critica o aluguel do carro blindado: “Como a sensação de segurança da população em geral fica, se os próprios integrantes do governo estão apelando por proteção blindada individual?”, argumentou.
No edital da licitação, consta a exigência de blindagem máxima (3-A) para o veículo, com resistência contra disparos de Magnum 357 e 9 milímetros (pistolas e submetralhadoras), além de espingardas Magnum.
Em nota, a assessoria da Ceasa-RJ admite que o blindado é necessário porque o imóvel “se encontra em uma área de risco”. E completa: “O veículo será usado pelo presidente Aguinaldo Balon, pelo fato de a Ceasa, se encontrar em região cercada por diversas comunidades carentes, onde os conflitos armados são recorrentes, se expandindo muitas vezes para as vias urbanas”.
O texto ressalta que a locação “é regulada por decreto, para agentes que, pela atividade, ou local de trabalho, se expõem à situações de vulnerabilidade recorrente”
A assessoria do governador Luiz Fernando Pezão informou que, além de alguns servidores das secretarias de Segurança Pública (Seseg) e de Administração Penitenciária (Seap), o governador também utiliza carro blindado.