Rio - Se a população do Rio já estava com medo da violência que domina o estado, a solução para a crise da Segurança, divulgada em conjunto, ontem, por autoridades estaduais e federais, em Brasília, deixou o povo mais apreensivo ainda. O novo plano de ajuda ao Rio não apresentou nenhuma medida diferente da que fora anunciada, há um mês, pelo presidente Michel Temer, e que até hoje não foi implementado.
Até as palavras usadas por Temer naquela ocasião — “as ações de combate à criminalidade não serão pirotécnicas” — foram as mesmas empregadas pelo general Sérgio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI): “Não há notícias bombásticas, pirotécnicas. Não é o que buscamos. Estamos trabalhando no plano de Segurança Pública e concentrados na redução de criminalidade no Rio. É um plano de longo prazo, e que busca resultados específicos”, disse o ministro.
Não houve anúncio concreto sobre novas ações que possam amenizar o drama diário dos fluminenses. Novamente, as autoridades se limitaram a aventar com a possibilidade de aumentar o efetivo de agentes para patrulhar as ruas, sendo que a maior parte do reforço divulgado já está no Rio.
O Ministério da Justiça informou que a União vai colaborar com mil homens (380 agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e de 620 homens da Força Nacional de Segurança Pública), sendo que o efetivo da Força Nacional já está no Rio desde maio e para completar o quadro da PRF, faltam apenas 120, já que em junho tinham chegado 260.
Os ministros da Defesa, Raul Jungmann, e o interino da Justiça, José Levi, fizeram apenas pronunciamentos após a reunião, destacando que haverá um trabalho integrado na área de Segurança. Porém, o secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, sequer foi convidado para o encontro em Brasília. Segundo o Palácio Guanabara, Sá viaja hoje para a capital federal, para participar de uma reunião operacional.
Apesar da falta de sintonia entre as autoridades, a possibilidade de emprego das Forças Armadas no combate à criminalidade voltou a ser comentada. Ao final do encontro, o general Etchegoyen informou que a formação de um Estado-Maior conjunto das Forças Armadas para “se e quando houver necessidade”, as tropas federais serem empregadas em “ações conjuntas, temporárias e pontuais”.
No entanto, ele disse que, neste momento, não há definição de emprego de militares das três Forças. “Não estamos trabalhando com as ocupações prolongadas, diárias. Estamos trabalhando com ações pontuais que vão trazer os resultados que precisamos e dos quais tanto carece a sociedade do Rio de Janeiro”, afirmou o ministro.
Pezão confuso
Com relação ao aumento do efetivo federal, o governador Luiz Fernando Pezão deu números desencontrados em entrevista coletiva após a reunião. Ele afirmou que viriam ao Rio 380 homens da PRF e mais 420 da Força Nacional, mas, ao ser avisado por jornalistas de que o efetivo já estava no estado, disse: “Eu não sabia.” Pezão acrescentou que o reforço permitirá combater crimes como o roubo de cargas e a entrada de armas e drogas no estado.
Segundo ele, outras medidas foram debatidas, mas o governo federal fará anúncios sobre o tema quando o plano for implementado. Para o governador, as ações da PRF serão fundamentais “no combate à entrada de armas no estado”. “Vamos ter resultados significativos”, garantiu Pezão.
Para o fundador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, “a estratégia tem que ir além de melhorar o policiamento nas ruas. Estamos vivendo a crise mais grave da área da segurança dos últimos dez anos”, analisou.
Já Vinícius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança, enquanto não houver legislação e meios específicos para enfrentar a guerrilha no Rio, nenhum plano vai funcionar. “Vamos continuar enxugando gelo”, afirmou.
O ex-comandante da PM do Rio, coronel Mário Sérgio Oliveira, é da mesma opinião. “Estamos vivendo um estado de conflito urbano armado, que é diferente do conceito tradicional de Segurança Pública. São três, quatro mil fuzis nas mãos do tráfico. Agentes da Lei sendo mortos!”, destacou Oliveira.
Para ele, além de enviar policiais, a União tem que entrar com dinheiro para amenizar o problema. “Os nossos policiais estão dispostos a vender sua força de trabalho, mas o governo tem que pagar o RAS (gratificação do Regime Adicional de Serviço)”, reclamou o coronel, que também pede mudança na legislação. “Temos que criar leis dissuasórias do uso de arma de guerra. A arma de guerra mudou a estética da criminalidade no Rio. Quem anda com fuzil e granada tem que ser punido com mais anos de prisão e menos benefícios de progressão de regime, por exemplo”.
Apesar de os ministros não tocarem no assunto, fontes ouvidas pelo DIA revelaram que a Secretaria Executiva do Ministério da Justiça estuda uma saída para que os estados criem suas próprias forças especiais, utilizando verba federal, o que hoje não é permitido por Lei. O objetivo desse modelo é reduzir custos.
Um agente da Força Nacional ou militar quando deslocado de seu estado de origem custa de R$ 8 mil a R$ 12 mil por mês. Em vez de bancar deslocamento e hospedagem, essa verba poderia ser usada no pagamento de benefícios aos policiais locais.