Por nadedja.calado

Rio - O secretário estadual de Direitos Humanos, Átila Nunes, e o governador Pezão se reuniram nesta sexta-feira para falar sobre a criação de uma delegacia especializada para crimes de ódio, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). O secretário espera que as operações comecem já nos próximos dois meses. 

A delegacia deve começar a funcionar nos próximos dois mesesHenrique Esteves

Nunes acredita que uma delegacia especializada pode melhorar o atendimento às vítimas, estimular os registros de ocorrência e, consequentemente, diminuir a impunidade. "Teremos um ambiente mais acolhedor e profissionais dedicados a este tipo de crime", afirma ele, que explicou que casos de racismo, xenofobia, LGBTfobia, intolerância religiosa e outros crimes de ódio serão investigados pela unidade.

O secretário explicou que, apesar da crise orçamentária estadual, a estrutura da delegacia será "enxuta" e viabilizada com os próprios recursos da Polícia Civil. Ele já tem uma reunião marcada com o secretário de segurança e com o chefe da Pcerj. Segundo ele, estudos da Polícia Civil serão realizados para escolher o local da sede policial. 

O anúncio acontece poucos dias depois de um ataque xenofóbico ao refugiado sírio Mohamed Ali Sh, que vendia quitutes árabes, na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Santa Clara, em Copacabana. Filmagens mostram um brasileiro com dois pedaços de pau nas mãos gritando enlouquecidamente para o estrangeiro: “Saia do meu país! Eu sou brasileiro e estou vendo meu país ser invadido por esses homens-bombas, que esquartejaram, mataram crianças e adolescentes”.  O vídeo da discussão, que foi publicado nas redes sociais, se tornou viral.

O secretário se reuniu com o refugiado vítima de xenofobiaHenrique Esteves

Átila Nunes se reuniu com o refugiado e garante que a Secretaria Estadual de Direitos Humanos está assessorando a vítima. "Esperamos que ele se sinta seguro para registrar a ocorrência e que possa virar essa página e seguir com a vida que decidiu construir no Brasil", disse. 

Sírio recebeu solidariedade de brasileiros após ataque xenófobo

Após o ataque, uma rede de solidariedade se formou para mostrar ao sírio que a atitude do ambulante concorrente não é a opinião da maioria da população brasileira. Mohamed não para de receber apoio de moradores da região e de curiosos que aparecem para conhecê-lo. No entanto, ele mudou sua barraca de venda de quitutes árabes, como esfihas e quibes, para a esquina oposta, para evitar confusão com os concorrentes. 

"Meu maior medo é quando a poeira abaixar e as pessoas esquecerem o caso, que eu sofra outra represália. Não quero causar problema pra ninguém, não fui à policia fazer denúncia, só quero trabalhar para criar meu filho pequeno com dignidade. Sonho com o dia que abrirei minha loja de comidas árabes. Mesmo ganhando pouco, vou conseguir. Aprendi esse oficio com minha mãe, desde pequeno, e tenho certeza que vou realizar meus sonhos", disse ele, que quer ter seu carrinho regularizado pela prefeitura.

"Atualmente, só tenho o protocolo da prefeitura, meu processo ainda está em andamento. Espero que não demore até que eu fique em situação legal", torce ele, que revelou ainda que recebe apoio maciço de jornalistas e da Secretaria de Direitos Humanos.

A direção do Tijuca Tênis Clube convidou Mohamed para participar da 9ª Feira Esotérica, no segmento Arte - Refúgio, que ocorrerá entre os dias 17 a 20 de agosto, para mostrar seu trabalho com a gastronomia síria. Fatima, esposa de Mohamed, afirmou que ainda não recebeu nenhum pedido formal. "Ainda não recebi nenhum convite, mas com toda certeza nós iremos ao evento", disse.

O casal, que mora em Botafogo, conta que sofreu muito após o acontecido. "Minha esposa tem cidadania portuguesa. No primeiro momento pensei em me mudar com ela, mas depois de tanto apoio recebido, preferi ficar e lutar."

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