Rio - O caminhoneiro Antonio Euclides Ribeiro, que foi feito refém por ladrões de carga na noite deste domingo na Avenida Brasil, altura de Deodoro, prestou depoimento na Cidade da Polícia na manhã desta segunda-feira.
Antonio contou que o bandido estava nervoso e apontou a arma para a cabeça dele. "Toda hora ele dizia que iria me matar se eu deixasse os policiais passarem, se eu não corresse. Quando ele colocou a arma na minha cabeça eu só pensava nos meus dois filhos. Pensei que eu ia morrer, ele me apavorou o tempo todo. Quando começaram os tiros tive a certeza de que ia morrer", desabafou o motorista, de 36 anos, que ficou refém do assaltante por três horas.
A troca de tiros começou quando PMs dispararam contra os pneus da carreta, forçando o veículo a parar. Emerson Garcia Miranda de 19 anos, revidou o ataque. Ele e Antonio ficaram feridos, mas sem gravidade. Eles foram socorridos no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, e já tiveram alta.
Antonio seguiu para Minas Gerais, onde mora, e Emerson está preso na Central de Garantias, na Cidade da Polícia, no Jacaré. O sequestro só terminou no início da madrugada desta segunda-feira com a chegada da mãe do bandido, exigência feita por ele para libertar o refém.
A negociação, que durou duas horas, foi feita pelos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), com apoio do 14º BPM (Bangu) e Batalhão de Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE). Segundo Antônio, Emerson jogou a arma no chão e se entregou à polícia.
O caminhão, que está com os pneus furados, permanece no local do sequestro. O veículo foi atingido por pelo menos 23 disparos na carroceria e 11 nos pneus. "Nunca pensei que isso aconteceria porque a Força Nacional está aqui. Desta vez eu pensei que eu estivesse seguro", lamentou ele.
Antonio saiu no domingo, de manhã, de Visconde de Rio Branco, em Minas Gerais, onde mora com a mulher e dois filhos. Ele seguia para o Mercado São Sebastião, na Penha, onde entregaria a carga de 20 toneladas de frango, avaliada em R$ 300 mil, quando foi abordado. O caminhoneiro foi interceptado na Rodovia Washington Luiz com Avenida Brasil por volta das 21h por cinco bandidos, mas apenas Emerson entrou no caminhão.
Segundo ele, dois veículos ficaram atrás da carreta e um ficou na frente. Um dos veículos era um Prisma prata. Antonio contou que ainda foi obrigado a retornar para o sentido Zona Oeste e dirigir por uma hora. A PM começou a seguir a carreta após ser avisada por um taxista.
"Pararam na minha frente e desceu um bandido. Ele entrou no caminhão me dando ordens e dizendo que ia me matar. Ele mandou eu retornar e entrei em um lugar que não cabia. Passei por cima da calçada, retornei e entrei na Brasil sentido Zona Oeste. Depois de algum tempo os PMs foram atrás. Juntou todo mundo (policiais) e atiraram nos pneus", lembrou o motorista, que foi ferido por tiros de raspão na perna e braço esquerdos.
"Foi muito tiro. De todos, graças a Deus apenas um acertou de raspão a minha perna e estilhaços acertaram no meu braço", contou. Segundo Antonio, o único momento de alívio foi quando a mãe de Emerson chegou e começou a conversar com o filho.
"Quando ouvi a voz da mãe pensei: graças a Deus eu não vou morrer", lembrou ele contando que mãe do criminoso o tempo todo o aconselhava a ficar calmo e se entregar. "Ela dizia: 'filho, sua mãe tá aqui. Fica calmo. Vai dar tudo certo. Não precisa fazer isso'", contou ele.
Esta foi a quarta vez que Antonio veio ao Rio a trabalho. Apesar das horas de pavor que viveu, ele não pretende deixar a profissão. "Hoje, se fosse para voltar para o Rio, eu não ia querer, mas sou motorista e preciso trabalhar. Ainda não caiu a ficha. No Rio, você pode esperar qualquer coisa. Mas, com toda essa segurança, eu não esperava passar por isso, já que houve uma grande ação para combater a criminalidade. Pensei: não é possível que, mesmo com a Força Nacional, sejamos roubados", disse.
Perguntado se sente raiva do bandido, o motorista chorou muito. "Não tenho raiva dele. Ele nem sabia para onde queria ir", disse o caminhoneiro.
A delegada-adjunta da Central de Garantias, Elaine Nunes Rosa, contou que Antonio foi abordado por cinco bandidos em um Prisma na altura de Cordovil, na Avenida Brasil. De acordo com ela, Emerson não tem antecedentes e responderá por roubo com emprego de arma de fogo, pela restrição da liberdade da vítima e resistência.
Ela contou que o sequestro foi praticado por bandidos do Comando Vermelho (CV), mas não soube dizer de qual comunidade. Emerson não quis prestar depoimento e disse que só falará em juízo. "Mas, informalmente, ele contou aos policiais que, por ser o mais novo do bando, foi obrigado a entrar na cabine e render o motorista", contou ela, detalhando o esquema de roubo de carga da facção.
"Os outros criminosos ficam dando cobertura num veículo e mandam o caminhão seguir", disse a delegada. Já a facção Amigos dos Amigos (ADA) age de outra maneira. De acordo com Elaine, esse bando não entra no caminhão. "Eles sinalizam para o motorista e o mandam seguir. Se ele não obedecer, eles o matam e levam a carga", contou a delegada.
Reportagem do estagiário Rafael Nascimento, com supervisão de Maria Inez Magalhães