Rio - Em resposta aos diversos ataques a terreiros e episódios de perseguição, praticantes de religiões de matriz afro-brasileira estão ocupando o Rio com projetos contra a intolerância e pela liberdade de crença. Hoje, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, no Largo São Francisco, recebe o pré-lançamento do curta-metragem "Respect", sobre a vida da menina Kayllane Campos, que aos onze anos de idade levou uma pedrada ao sair de uma cerimônia de Candomblé.
No mesmo evento, o babalawô Ivanir dos Santos lança um grupo de estudos sobre intolerância religiosa. A organização também convida a sociedade para a 10ª edição da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, no próximo domingo, no Posto, 6 em Copacabana, a partir das 13h.
Já se passaram dois anos do episódio de violência sofrido por Kayllane, mas, para Ana Pacheco, diretora do curta-documentário, a questão da intolerância ainda não foi superada: "O tema está mais atual ainda. Uma das principais raízes da intolerância é a falta de conhecimento. E quem conhecer a Kayllane, uma criança, certamente vai pensar que ela não merece levar uma pedrada", comentou. O filme, co-produzido pela 3 Tabela Filmes e pela ONG holandesa Free Press Unlimited, será lançado pela TV Cultura e é voltado para o público infanto-juvenil. "É importante que as crianças vejam. Conhecer as coisas, respeitar, tem que estar na formação básica da pessoa", completou a diretora.
O babalawô Ivanir dos Santos também ressaltou a importância de mostrar a história da menina: "O caso da Kayllane tem tudo a ver com conscientizar as pessoas para essa coisa tão nefasta que é a intolerância religiosa".
Depredações a terreiros são recorrentes
?Casos de ataques a terreiros têm sido frequentes no Rio - somente em Nova Iguaçu, foram sete casos nos últimos dois meses. O número exato de ocorrências no estado, porém, é difícil de determinar, porque o Código Penal não tipifica o crime de intolerância religiosa. Nas delegacias, as ocorrências são registradas como casos de injúria. Como foi revelado na última semana pelo DIA, vítimas acreditam que os ataques estejam sendo ordenados por traficantes da Baixada. Por isso, denunciantes que têm ligado para o 'Disque Combate ao Preconceito' têm receio de registrar os casos na polícia por medo de represálias.
Reportagem da estagiária Nadedja Calado