Por thiago.antunes

Rio - Mais um tiroteio voltou a assustar moradores da Favela da Rocinha, Zona Sul do Rio, na noite desta segunda-feira. Moradores relataram, em redes sociais, o clima de medo na comunidade. "Muitos tiros aqui na Rocinha, de novo. Não temos paz", relatou uma moradora. "Clima de guerra aqui na Rocinha, toque de recolher foi dado às 17h", escreveu outro. "Só quero viver em paz, é muito tiro. Estamos correndo risco", desabafou mais um morador. O confronto entre bandidos voltou a acontecer após megaoperação das polícias civil e militar nesta segunda.

Em nota, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Rocinha informou que não há nova operação da PM na favela. Na ação de mais cedo, três pessoas foram presas e três morreram. Os suspeitos de tráfico foram identificados como Wilklen Nobre Barcelo, 20 anos; Edson Gomes Ferreira, 30 anos; Fábio Ribeiro França, 19 anos.

Sobre os mortos, dois corpos carbonizados foram encontrados pelos agentes no alto da comunidade, como resultado da guerra entre traficantes que querem tomar a parte de cima da favela. O terceiro suspeito foi morto em confronto com o Batalhão de Operações Especiais (Bope). Não há a identificação das vítimas e a Delegacia de Homicídios (DH) investiga o caso. 

Polícia faz operação na Rocinha após guerra entre traficantesEstefan Radovicz/Agência O DIA

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, unidades escolares na Rocinha, Comunidade Vila Canoas, Vidigal, Serrinha e Juramento ficaram sem atendimento nesta segunda-feira. No total são oito escolas, seis creches e uma EDI e 4.441 alunos sem aulas.

Neste domingo, os moradores viveram momentos de terror na comunidade: foram mais de cinco horas de tiroteio entre traficantes, pelo menos duas pessoas morreram e a saída do metrô foi fechada.

A comunidade ficou sem luz e, nesta segunda, cerca de 20% dos moradores continuam sem eletricidade, já que os funcionários da Light não conseguem entrar no local para realizar reparos nos transformadores que foram atingidos por disparos.

Intenso tiroteio

De acordo com a PM, a troca de tiros começou na madrugada de domingo e uma guarnição da UPP foi atacada na Via Ápia, um dos principais acessos. Alunos de um curso pré-vestibular comunitário perderam a prova e a Prefeitura pediu aos motoristas que evitassem a região.

Favela da Rocinha teve novo tiroteio nesta segundario de janeiro

"Hoje foi o dia em que o bem perdeu para o mal, e foi de lavada! Uma mistura de tristeza e raiva define o sentimento que tive quando acordei e vi as mensagens dos alunos", escreveu Mariana Alves, uma das diretoras do curso pré-vestibular Projeto de Ensino Cultural e Educação Popular, em seu Facebook. Ela contabilizou que 80% dos alunos não conseguiram sair de suas casas.

Vídeos de traficantes circulando pela Rocinha e trocando tiros foram postados nas redes sociais. Em um deles, um policial filma de dentro de uma base da UPP, enquanto outro pede reforço. "Uns 20 gansos(traficantes) de fuzil aqui", diz um agente pelo rádio. É possível escutar outro falando: "Se esconde, se esconde". Viaturas da PM foram vistas abandonadas pelas vielas.

"É uma disputa pela venda de drogas na Rocinha, já que era do Antonio Bonfim e agora está sob a liderança do Rogério Avelino", disse o delegado Antônio Ricardo, da 11ªDP (Rocinha). "Todos que forem identificados vão responder por tentativa de homicídio, resistência qualificada, disparo de arma de fogo, associação ao tráfico e porte ilegal de arma", afirmou o investigador.

Avelino é conhecido como Rogério 157. Antonio Francisco é identificado no mundo do tráfico como Nem ou Mestre. Ele está na cadeia desde 2011 e estaria descontente com a administração de Rogério, que cobra taxas do comércio, da mesma forma que atuam milicianos. Rogério teria matado traficantes leais a Nem, que organizou a retomada dos pontos de venda de drogas com ajuda de traficantes do São Carlos, no Estácio, e da Vila Vintém, na Zona Oeste.

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