Rio - Os moradores da maior favela do Brasil têm vivido dias de medo e tensão. A Rocinha, na Zona Sul do Rio, vem sofrendo com confrontos desde o último domingo. Nesta sexta-feira, as Forças Armadas iniciaram uma operação de cerco à comunidade. Segundo o ministro Raul Jungmann, 950 homens do Exército participarão da ação, juntamente com forças policiais do estado.
"Não consigo voltar para casa para encontrar meus três filhos, que estão dentro de casa no alto da favela. Estou esperando pra ver se consigo voltar", afirma a moradora da Rocinha, Vanessa Martins, mãe de dois adolescentes de 15 e 17 anos, e outro de 19.
A empregada doméstica de 40 anos conta que na segunda-feira não foi ao trabalho por causa dos confrontos e diz que os filhos também não tem saído de casa. "Estão todos trancados lá. Estou com muito medo de subir a favela, pois o Exército acabou de entrar. Estou assustada, nunca havia passado por isso", revela.
A mulher natural de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, conta que se mudou há um ano para a Rocinha para ficar próxima ao trabalho, no Itanhangá, Zona Oeste da capital fluminense. "Os meus patrões ficam preocupados comigo, pedindo para que eu deixe a comunidade. Por enquanto, não tenho outra opção. Tenho familiares em Duque de Caxias e em Ramos, não eu queria mesmo era ficar na minha casa", conclui.
Já Igor dos Santos, 25 anos, conta que precisou dormir no trabalho por causa dos confrontos. "No domingo, tive que dormir no Leblon". O mensageiro diz que o síndico do hotel em que ele trabalha prometeu reservar um sala para abrigar os funcionários que moram na Rocinha. "Eu só não fiquei porque tenho minha família está me esperando em casa", comenta.
A filha de 2 anos e a mulher de Igor estão na casa do casal no alto da comunidade. "Minha filha chora muito quando escuta os tiros. Se não melhorar a situação, vou me mudar da Rocinha. Se o estado não fizer nada para ajudar, não vai ter jeito, vamos ter que ir embora. Tirando esse episódio de agora, é muito tranquilo viver aqui", lamenta o jovem.
Manhã violenta na Rocinha
Esta sexta-feira, quinto dia de operações na Rocinha, está sendo marcado por confrontos na comunidade. Policiais dos Batalhões de Choque e de Operações Policiais Especiais (Bope) estão na favela para procurar o traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, e bandidos que invadiram o local no último domingo.
Às 10h, a base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na Rua 2, que fica no alto do morro, foi atacada. Um morador foi ferido e levado ao Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. Segundo o diretor do hospital, a vítima vítima está bem, lúcida e orientada. Por volta das 14h40, um homem foi preso na localidade conhecida como 'Roupa Suja', mas a PM não deu mais detalhes sobre o caso.
Mais cedo, um ônibus foi incendiado em São Conrado, próximo à Avenida Niemeyer. Segundo a PM, o Setor de Inteligência e o Disque Denúncia receberam informações de que menores foram orientados para atear fogo em ônibus para desviar a atenção policial ao cerco da Rocinha.
Uma granada também foi lançada em um trecho da Estrada Lagoa-Barra, após o túnel Zuzu Angel, próximo à passarela da Rocinha. A PM disse que o Esquadrão Antibombas foi acionado e conseguiu retirar o artefato para o local. Depois, o objeto foi levado para a 11ª DP (Rocinha). Por volta das 11h30, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e do 23º BPM (Leblon) chegaram ao local para reforçar o policiamento. Por volta das 14h, os dois sentidos da Autoestrada Lagoa-Barra foram totalmente liberados.
Por segurança, cinco escolas, duas creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDIs) foram fechadas na região. Ao todo, 2.489 alunos foram prejudicados. As aulas também foram suspensas na Escola Teresiano, Escola Americana e Escola Parque, além da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).