Rio - Ele só comprou um pãozinho com mortadela. Mas, acabou experimentando o gosto amargo do racismo. O cirurgião bucomaxilofacial Jader Rangel, 54 anos, sofreu o constrangimento de ser acusado de furto, quando fazia compras no Minimercado e Padaria Segóvia, na Rua Miguel Couto, Centro, ontem à tarde.
"Havia acabado de pagar o lanche quando uma funcionária falou que eu tinha escondido alguma coisa na roupa e, de forma grosseira, mandou eu devolver", contou ele, que não tem dúvida de que foi acusado por causa da cor da pele. Ele é negro.
A polícia foi chamada e todos foram parar na 4ª DP (Praça da República), onde Rangel foi revistado e ficou constatado que ele não levava nada, além do pão e da mortadela, pelos quais havia pago R$ 4,19. "E eles nem se desculparam", lamentou o cirurgião, referindo-se aos acusadores.
Na delegacia foi feito um boletim de Medida Assecuratória de Direito Futuro e todos foram liberados. "O policial errou", reclama o criminalista José Guilherme Costa de Almeida, afirmando que o registro deveria ser de racismo.
"Foi questão étnica. Acharam que ele tivesse furtado por causa da condição dele de negro. Não havia mais nada!", afirmou.
A Polícia Civil informou que o registro foi feito de forma preliminar na 4ª DP, mas que o caso será apreciado pelo delegado da 1ª DP (Praça Mauá), que atende as ocorrências na Rua Miguel Couto, mas, que por estar sofrendo reformas, não está fazendo os registros.
O dentista afirmou que vai processar a padaria. "Não é a primeira vez que acontece comigo, mas desta vez extrapolou todos os limites". Por telefone, um funcionário que se identificou como Antônio disse que não havia mais ninguém na padaria que pudesse falar sobre o assunto e que não tinha o contato de ninguém.