Rio - Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman foi preso, na manhã desta quinta-feira, pela Operação 'Unfair Play - Segundo Tempo', um desdobramento da Lava Jato. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) também prenderam o ex-diretor de operações do comitê, Leonardo Gryner.
Os policiais chegaram na casa de Nuzman, no Leblon, e de seu braço-direito, em Laranjeiras, por volta das 6h. Eles vão ser levados para a sede da Polícia Federal, na Zona Portuária do Rio. Contra Nuzman, o pedido de prisão temporária é de cinco dias.
O presidente do COB é suspeito de intermediar a compra de votos entre o governo estadual, na época do ex-governador Sérgio Cabral, e integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a escolha do Rio como cidade-sede dos Jogos Olímpicos. Ele está à frente do COB há 22 anos.
O pedido de prisão temporária foi decretado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. De acordo com o MPF, houve uma tentativa de ocultação de bens no mês passado depois que a polícia cumpriu um mandado de busca na casa de Nuzman pela primeira etapa da operação 'Unfair Play'. O presidente do COB e Gryner serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Segundo as investigações, o dinheiro da compra de votos teria vindo do empresário Arthur Soares de Menezes Filho, conhecido como Rei Arthur. Ele também teve o mandado de prisão decretado, mas continua foragido.
As investigações mostram ainda que Gryner se encontrou com o filho do presidente da Federação de Atletismo, que também é suspeito de receber propina para votar no Rio como cidade-sede. O ex-diretor do COB foi diretor de Comunicação e Marketing durante a candidatura do Rio nos Jogos.
Para procuradores do MPF, a prisão temporária de Nuzman e Gryner é imprescindível não só como garantia de ordem pública, "como para permitir bloquear o patrimônio, além de impedir que ambos continuem atuando, seja criminosamente, seja na interferência da produção probatória". Além do pedido de prisão, também foram cumpridos mandatos de busca e apreensão nas casas e empresas de Nuzman e Gryner e a quebra de sigilo telemático (de telefonia e computadores).
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Patrimônio não-declarado de Nuzman
O MPF informou que, nos últimos dez dos 22 anos de presidência do COB, Nuzman ampliou seu patrimônio em 457%, "não havendo indicação clara de seus rendimentos, além de manter parte de seu patrimônio oculto na Suíça". O órgão explicou que ele declarou a existência de 16 barras de ouro, 1 kg cada uma, que mantinha no exterior, à Receita Federal, em 20 de setembro, dias após a primeira fase da 'Unfair Play'. Ao todo, as barras valiam quase R$ 2 milhões.
"A atitude adotada em momento seguinte à deflagração da Operação Unfair Play demonstra obstrução das investigações sobre a ocultação patrimonial. Além disso, documentos apreendidos na residência de Nuzman demonstram que grande parte de suas contas é paga em espécie: um engendro característico do sistema de lavagem de capitais", detalham os procuradores.
O MPF pediu também o bloqueio do patrimônio de Nuzman e Gryner em até R$ 1 bilhão por danos morais. Procurado, o advogado de defesa do presidente do COB, Nélio Machado, negou que ele tenha participado na compra de votos da Olimpíada.
"Já estou atuando na defesa do Nuzman e há um habeas corpus impetrado mas não foi julgado, lamentavelmente. Eu vou me inteirar dos fatos agora. Não sei o que está acontecendo. Vou saber o que se passa e os fundamentos dessa medida tomada. Uma medida dura e que não é usual, pelo menos dentro dos padrões produzidos no processo legal", completou.