Por karilayn.areias
Rio - Volta Redonda volta a ter nova queda de braço entre moradores e donos de postos de combustíveis. Depois de terem reduzido o preço da gasolina comum, de R$ 4,84 para R$ 4,74, há cerca de 20 dias, em virtude de uma campanha de boicote aos estabelecimentos da cidade nas redes sociais, conforme o DIA publicou com exclusividade, os empresários aumentaram de novo o valor do produto. Agora o litro passou a custar R$ 4,89 – R$ 0,15 a mais. Em contrapartida, ainda mais indignados, os consumidores criaram até adesivo para a campanha, na qual um desenho sugere um motorista sendo “assaltado”, com o bico da bomba injetora de combustível simulando uma arma de fogo.
Posto de combustível no Centro de Volta Redonda%2C mostra novo preço%3A R%24 4%2C89 o litro da gasolina comumFrancisco Edson Alves / Agência O Dia

“Os donos dos postos estão brincando conosco. Vamos intensificar ainda mais o boicote aos postos de combustíveis de Volta Redonda, abastecendo somente em cidades vizinhas, como Barra Mansa”, afirmou o administrador de empresas Leocácio Benedito Pereira, de 46 anos, ressaltando que o preço é praticamente o mesmo na maioria dos 23 maiores postos do município. “É um cartel descarado. Um abuso. Eu e meus parentes passamos a abastecer em Barra Mansa, a pouco mais de 20 quilômetros. Nenhuma autoridade toma providências. Não há justificativa para que Volta Redonda cobre um dos preços mais caros do País”, justificou o autônomo José Roberto da Silva, 39.

O inédito protesto dos volta-redondenses, começou a ganhar as redes sociais, no mês passado. Os manifestantes continuam apertando o cerco aos empresários, exigindo que o preço do litro caia para R$ 3,50. Pelo WhatsApp, instituíram o chamado “Calendário Selvagem” (em alusão ao filme `Relatos Selvagens´, que aborda atos de vingança contra abusos), no qual listaram os 23 estabelecimentos de maior porte do ramo na cidade. Identificados por cores, diariamente, de segunda a sexta, quatro postos são boicotados pelos motoristas que aderiram ao movimento.
Imagem circula nas redes sociais%2C pregando boicote aos postos de combustíveis de Volta RedondaReprodução Internet

“Você também está indignado pelo aumento abusivo no preço do combustível? Mais ainda por morar em Volta Redonda, onde se tem praticado um dos maiores, senão o maior valor do combustível do Brasil? Bem, para que haja mudança, é preciso fazer algo diferente e inteligente. Se for para incomodar que seja para incomodar o cartel e não os usuários”, diz um trecho de um dos textos que circulam pelo WhatsApp e redes sociais, com imagens do calendário e a lista dos postos, com os respectivos dias da semana a serem boicotados. “O calendário não tem prazo de validade. Não se omita. Faça sua parte. Este movimento é coletivo e de combate à injustiça praticada em Volta Redonda”, ressalta outro trecho.

Em nota recente enviada ao DIA, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência no Estado do Rio de Janeiro (SINDESTADO-RJ) alegou que os postos compram combustíveis das companhias distribuidoras e não das refinarias. “Por isso os custos nos postos dependem dos preços cobrados pelas distribuidoras, que muitas vezes variam conforme o local”, ressaltou o documento. “Os próprios donos de postos estão sofrendo duramente com a atual situação”, garantiu o texto.

Volta Redonda está entre as dez cidades com a maior frota de veículos do Brasil. Segundo último levantamento da Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana, entre 2001 e 2015, a quantidade de veículos cresceu 136%, contra 7,17% da população. No total são mais de 91 mil automóveis e 14 mil motos emplacadas no município, que tem quase 400 mil moradores. Ou seja, cerca de quatro habitantes por veículo, aproximadamente.

Veja a íntegra da nota do Sindestado sobre o assunto:

Publicidade
SINDICATO PROTESTA CONTRA SISTEMA DE PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS
A atual política da Petrobras de efetuar flutuações quase que diárias nos valores dos combustíveis tornou extremamente confuso o cenário da comercialização dos produtos e, a um só tempo, está sacrificando os consumidores e caminha para tornar inviável a sobrevivência da maioria dos postos. A opinião é do presidente do Sindicato estadual dos Revendedores (Sindestado-RJ), Ricardo Lisbôa Vianna.
Publicidade
"Os governos estão resolvendo seus problemas de caixa com uma solução grotesca: simplesmente jogando às alturas os impostos sobre os combustíveis. E a isto se soma a ganância desenfreada das distribuidoras, que estão aproveitando a dança contínua de percentuais para reajustar, sempre para cima, os preços cobrados ao revendedor. Lá na ponta da cadeia de comercialização, o dono do posto está tendo que encomendar novas remessas de produtos sem saber quanto pagará por elas de um dia para o outro, e ainda por cima tende a ficar mal visto por parte da população, que tende a enxergá-lo como o grande causador do problema", comenta Ricardo Vianna.
O presidente do sindicato destaca que muitos donos de postos estão caminhando para a falência, caso a situação não seja normalizada. "O dono de posto não é o responsável pelos combustíveis custarem tão caro, mas esta é uma realidade que não interessa aos governantes nem às poderosas companhias distribuidoras. Nesse cenário, quem sai perdendo é o consumidor final, que tem que pagar caro; e também o dono do posto, que além de ser malvisto acaba vendo despencar os lucros e o movimento de vendas do seu estabelecimento. Não é à toa que problemas estão surgindo ao mesmo tempo em todo o país", arremata Ricardo.