Manifestantes fizeram passeata em protesto contra aumento da violência, em Laranjeiras. Com frases em cartazes e camisas, moradores cobraram das autoridades por segurança e pediram paz - Fernando Frazão/Agência Brasil
Manifestantes fizeram passeata em protesto contra aumento da violência, em Laranjeiras. Com frases em cartazes e camisas, moradores cobraram das autoridades por segurança e pediram pazFernando Frazão/Agência Brasil
Por Aline Cavalcante

Rio - Protestos contra a violência no Rio de Janeiro e na Região Metropolitana marcaram o domingo. Moradores da Zona Sul se reuniram no Largo do Machado para caminhar até o Palácio Guanabara, sede do governo estadual. Houve manifestação também em Niterói. O número de crimes nestas regiões tem assustado a população. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), no ano passado foram registrados nas duas regiões mais de 7 mil ocorrências de roubo de rua, 221 casos de estupro, 15 mortes por latrocínio (roubo seguido de morte) e 545 registros de roubo a coletivos.

Só em 2017, em Niterói, o número de roubos a transeuntes chegou a 4.054. O roubo de veículos registrou 2.373 casos e o de residências chegou a 150. Os roubos a estabelecimentos comerciais registraram 354 ocorrências e 895 pessoas tiveram o celular roubado.

Já na área correspondente ao 2º BPM (Botafogo), 1.597 pessoas foram assaltadas, e outras 508 tiveram os celulares roubados. Os roubos de veículos nesta região chegaram a 354 e o de coletivos atingiram 261 ocorrências. É a região onde mais se registraram roubos no Rio.

No protesto em Laranjeiras, os manifestantes vestiram camisetas brancas com a mensagem 'Planejamento também é segurança' e cartazes pedindo paz. Houve reclamações sobre a falta de patrulhamento e cobranças pelo uso da inteligência policial nos bairros. "Sou moradora do bairro há 45 anos e criei meu filho, hoje com 21 anos, andando livremente pelas ruas, indo e vindo sozinho desde os 11 anos. Hoje fico em pânico quando ele sai de casa", disse a psicóloga Andréa Ferreira,46.

Segundo moradores, é preciso dar um basta e mostrar indignação com a violência. "Não aguentamos mais assistir à violência batendo a nossa porta. Temos que fazer ações e protestos pacíficos", afirmou Carol Almeida, empresária.

Em Niterói, o protesto aconteceu na orla de Icaraí, com gritos de "queremos segurança" e "basta de violência". Centenas de pessoas foram às ruas vestidas de preto e pediram mais ação do poder público no combate ao crime.

"As pessoas estão movidas pelo medo e pela insegurança. Os relatos de violência que acontecem nos territórios urbanos estão deixando as pessoas muito assustadas. Nas ruas todos já se assustam com qualquer coisa, com qualquer barulho. Tudo isso traz a sensação de paralisia, de impotência. Protestar é a maneira de elas falarem para o poder público, de serem ouvidas. É uma maneira de romper com esta paralisia, é um dos caminhos de mostrar a insatisfação com o poder público", analisou Paulo Baía, sociólogo da UFRJ.

A PM foi procurada , mas não se pronunciou até o fechamento desta edição.

Morte em Niterói

Um morador de rua foi assassinado, no sábado, em São Francisco. Segundo testemunhas, a vítima foi baleada por um motoqueiro depois de ter discutido com um segurança de um supermercado. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da região.

O medo de servir na própria favela
Objetivo é que a presença de militares das Forças Armadas afastem criminosos dos locais onde as tropas estiverem baseadas
Objetivo é que a presença de militares das Forças Armadas afastem criminosos dos locais onde as tropas estiverem baseadas WILTON JUNIOR / ESTADÃO
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O soldado A. viveu dias de apreensão às vésperas da operação conjunta das Forças Armadas e da polícia na Cidade de Deus pouco antes do Carnaval. Seu temor era ser convocado para atuar na comunidade onde nasceu, foi criado e ainda vive com a família. A., a mãe e a avó só se sentiram aliviados quando saiu a escala de serviço: o rapaz, militar há um ano, ficaria no quartel.
"Seria muito desconfortável. Tem gente que cresceu comigo e hoje está no tráfico. Não sei como ia reagir", contou A., revelando drama pelo qual vêm passando praças envolvidos na intervenção federal.
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Jovens como A., oriundos de comunidades pobres, que ingressaram nas Forças Armadas em busca de emprego estável e ascensão social, temem ser vistos por traficantes no papel de inimigo. Para se resguardar, quando em missões nas favelas, eles usam máscaras que cobrem o rosto. Apenas os olhos ficam de fora.
"Até hoje fui poupado, eles dão preferência a gente de fora. Mas se tiver de ir, vou fazer tudo para não ser reconhecido", disse A.. "Não me envolvo com ninguém, mas tenho amigo do lado de lá. Todo mundo tem. Procuro nem passar perto. Acredito na intervenção e na construção de um Rio e um país melhor se as operações forem sérias. Só não adianta fazer operação e sair. Tem que ficar", continuou.
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Em janeiro, ao defender a volta do auxílio-moradia para militares, extinto em 2000, o comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, declarou que o benefício era fundamental porque as famílias do contingente de áreas com tráfico "ficam vulneráveis e são ameaçadas". A fala foi endossada pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas.
Liderança do Chapadão, Gláucia dos Santos denunciou à Anistia Internacional o barril de pólvora que pode se tornar um confronto que divide jovens que foram criados juntos e têm armas de alto calibre nas mãos. "Estão tentando criar uma guerra nas favelas", disse Gláucia. "A maioria que vai para o Exército é favelada e há essa rivalidade com os que foram para o tráfico. Eles vão enfrentar o próprio povo: vão se matar."
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O Comando Militar do Leste confirmou que já toma precauções para a segurança dos militares que moram em favelas e vai intensificá-las. O uso de balaclavas (toucas que cobrem o rosto) é permitido. Mas o pano deve ser escuro.
 
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