Os presos pela invasão ao Sindicato dos Comerciários do Rio, na Lapa, em 2015, foram levados pra 5ª DP
 - O DIA
Os presos pela invasão ao Sindicato dos Comerciários do Rio, na Lapa, em 2015, foram levados pra 5ª DP O DIA
Por WILSON AQUINO

RIO - Haja banco para tantos réus! Por determinação do desembargador José Muiños Piñeiro Filho, da Sexta Câmara Criminal, o Tribunal de Justiça do Rio levará a julgamento em breve 196 pessoas acusadas de invadir, depredar e roubar a sede do Sindicato dos Comerciários do Rio, na Lapa, em 2015. O número de indiciados impressiona. Supera os 74 denunciados no Massacre de Carandiru, de 1992, e os 155 envolvidos no Massacre do Eldorado dos Carajás, em 1996. Ultrapassa também o total de suspeitos presos em uma festa da milícia na Zona Oeste, em abril deste ano: 149.

O ataque ao Sindicato dos Comerciários chamou a atenção justamente pela quantidade de pessoas presas em flagrante: 202. Além dos 196 adultos, havia seis menores no grupo. "É difícil que tantos réus tenham sido assistidos por um mesmo advogado, como é o caso desse processo", diz o defensor de todos os acusados, José Guilherme Costa de Almeida. O criminalista não soube precisar, no entanto, se o julgamento bateu o recorde de número de réus num mesmo processo no Brasil.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, todos os indiciados vieram de São Paulo com objetivo criminoso de "depredar e subtrair os pertences da sede do Sindicato". Eles chegaram em quatro ônibus. Tinham em seu poder dois socos-ingleses, um deles dotado de lâmina, simulacro de pistola, faca e canivete. A polícia apreendeu também drogas, fogos de artifício e fumaças sinalizadoras.

R$ 100 para cada

Os acusados foram denunciados por dano triplamente qualificado, roubo triplamente majorado, corrupção de menores e quadrilha armada. A quantidade de presos foi tamanha que eles foram ouvidos num auditório, já que na 5ª DP (Centro), onde o caso foi registrado, não cabia tanta gente. Alguns réus chegaram a confirmar que tinham sido contratados pela União Geral de Trabalhadores (UGT). Teriam recebido R$ 100, cada.

O TJ ainda não marcou a data do julgamento, mas o mestre em Direito Público Sérgio Camargo acredita que o juiz vá desmembrar o processo. "No nosso tribunal, a orientação é de que (cada julgamento) não supere cinco pessoas ".

O advogado dos réus diz que está tranquilo. "Minha linha de defesa será a necessidade de se individualizar as condutas de cada um dos supostos envolvidos. Se apenas um pequeno grupo entrou no Sindicato dos Comerciários, o mínimo que se exige é que se aponte quem são", afirmou Almeida.

Crime teria motivação eleitoral

Segundo o presidente licenciado do Sindicato dos Comerciários, Márcio Ayer, a intenção do ataque seria impedir a realização de eleições na entidade. "O objetivo deles era roubar as urnas", lembra Ayer. Ele conta que o sindicato, à época, sob o comando da família Mata Roma, era filiado à UGT. "A gente era da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). Existe uma disputa natural no movimento sindical entre as centrais. Mas, nunca tinha visto algo semelhante", afirmou Ayer, vitorioso nas eleições.

O DIA tentou contato com a UGT, mas a central não atendeu os telefonemas. Após invadirem a sede do sindicato, os vândalos teriam destruído e danificado todos os móveis e maquinários que encontraram pela frente nos oito andares do prédio, inclusive cinco consultórios médicos, três dentários, 15 computadores, máquinas de café, extintores e bebedouros, além de documentos. Teriam furtado R$ 4 mil em espécie e R$ 40 mil em cheques. O prejuízo foi estimado em R$ 5 milhões.

Outros julgamentos numerosos:

Festinha acabou na delegacia
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Em abril deste ano, uma operação de combate à milícia prendeu 142 pessoas e apreendeu sete menores suspeitos de integrar grupos criminosos que atuam na Zona Oeste do Rio. Os detidos estavam numa festa em um sítio em Santa Cruz, Zona Oeste. Lá, a polícia encontrou diversos carros importados, fuzis, granadas e até roupas militares. Wellington da Silva Braga, o Ecko, apontado como o chefe da maior milícia do estado, estaria no local. Mas o miliciano conseguiu fugir.
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Massacre registrou 150 denunciados
Em 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores rurais foram mortos pela Polícia Militar, no Pará. Os sem-terra faziam uma caminhada até Belém, quando foram impedidos à bala de prosseguir. Foram denunciados 150 PMs que participaram do massacre, mas, 20 anos depois, apenas dois comandantes da operação foram condenados: Coronel Mário Colares Pantoja, a 258 anos, e Major José Maria Pereira de Oliveira, a 158 anos. Eles estão presos desde 2012.
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Ataque a presídio: 74 condenados
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No dia 2 de outubro de 1992, 111 detentos foram mortos durante uma operação policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 da Casa de Detenção Carandiru, em São Paulo. O episódio é considerado o mais sangrento da história penitenciária do Brasil. Como o processo envolvia grande número de vítimas e de réus, o julgamento foi desmembrado em quatro partes. Por fim, 74 policiais militares foram condenados, mas as sentenças foram anuladas e ninguém foi preso.
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