Negociação de celular é feita em plena luz do dia - Maíra Coelho / Agência O Dia
Negociação de celular é feita em plena luz do diaMaíra Coelho / Agência O Dia
Por Bruna Fantti

Rio - Em meio ao engarrafamento da Avenida Brasil, entre as passarelas 8 e 9, é possível escutar os gritos de "É R$ 50" em plena luz do dia. Ao contrário de águas e biscoitos, a oferta dos ambulantes é de aparelhos de celular, fora das caixas e sem notas fiscais. Flagrantes do DIA mostram a venda irregular dos Smartfones feita livremente pela via. Na 21ª DP (Bonsucesso), somente nos cinco primeiros dias deste mês foram registrados 75 roubos de celulares. Desse total, 42 ocorrências (56%) foram efetuadas na Brasil, no trecho do Complexo da Maré.

As negociações da venda ilegal ocorrem ao lado de um ponto de drogas já conhecido como cracolândia. A ação assusta motoristas. "Estava a caminho do trabalho no Centro, com o vidro do carro aberto. Um homem veio correndo gritando que era R$ 50 o celular. Tentei dar uma arrancada com o carro, mas ele insistiu, quase colocando o celular no meu rosto. Fiquei apavorada", disse uma motorista, que não quis se identificar. O trânsito no trecho é lento devido às interdições para as obras do BRT TransBrasil, que estão paradas há meses. No entanto, a Prefeitura do Rio anunciou, na semana passada, que elas serão retomadas dentro de dez dias e concluídas no período de 12 meses.

Apesar da 21ª DP já ter investigações há dois anos sobre grupos que agem no 'comércio' ilegal no local, nada é feito. A reportagem não conseguiu contato com o delegado. A assessoria de imprensa da Polícia Civil não se pronunciou até o fechamento desta edição.

A procedência dos aparelhos não pode ser provada, mas especialistas acreditam que eles sejam produtos de assalto. As estatísticas apontam que a Avenida Brasil é líder nos roubos a coletivos e de carros. Levantamento realizado pelo DIA junto às empresas de ônibus mostra que o trecho da via, que margeia a Maré, é o recordista em assaltos a coletivos, neste ano, no estado: 52 em apenas 3,7 km.

Proteção ao celular

Segundo o perito digital José Vicente Milagre, os usuários devem se preocupar em proteger os dados do aparelho pois, em caso de roubo, fotos e vídeos podem ser divulgados. E a vítima do roubo pode passar a ser vítima de extorsão. "São conteúdos privados que devem ser protegidos", destacou Milagre.

O sistema IOS, do Iphone, já apresenta um rastreio do celular e sua limpeza de dados remota. Já no Android é possível fazer o mesmo cadastrando o aparelho no serviço do Google 'Encontre meu dispositivo'.

Prisão de até quatro anos para compradores

Enquanto a venda ilegal de celular amedronta quem passa pela via, alguns motoristas param os veículos para negociar a compra dos aparelhos. Caso seja provado que o celular seja produto de roubo, o comprador poderá ser indiciado no crime de receptação, cuja pena é de 1 a quatro anos de reclusão.

O roubo pode ser comprovado quando o dono faz registro na delegacia e informa o IMEI, número único do aparelho, conhecido como sua impressão digital. Para saber o IMEI do celular basta digitar *#06# no teclado do aparelho.

"Comprar um celular ou objeto roubado pode se tornar uma verdadeira dor de cabeça para o cidadão. Como saber se é produto de um crime? Pelo local onde ele é vendido, pela falta dos acessórios que deveriam acompanhar o aparelho e pelo preço muito abaixo do valor de mercado", afirmou o especialista em Segurança, José Ricardo Bandeira.

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