Rio - Do absurdo de ter 38 secretarias municipais criadas pelo prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho (MDB), pelo menos uma ainda é fantasma: a de Proteção aos Animais. A pasta, que só existe no papel, tem como secretário o vereador Antonio Rubem Medeiros Junior, o Tuninho Medeiros, eleito pelo PDT, em 2016. O cargo pertencia à irmã de Waguinho, Fabiane dos Santos, que, agora, ocupa a Secretaria da Mulher.
Só em julho, foram nomeadas 620 pessoas, conforme o Diário Oficial. Da lista, 20 são para o gabinete de Waguinho. Entre elas, está o pastor Jonas Mendonça Sales, da Primeira Igreja Batista em Santa Amélia. Nomeado como assessor de Assuntos Religiosos, ele ainda não foi visto por servidores no local de trabalho, como constatou O DIA última na sexta-feira.
O número de secretarias em Belford Roxo é maior, por exemplo, que o da Presidência da República, com 29 ministérios. Ou três vezes maior que a estrutura da Prefeitura do Rio, com 12. Na cidade vizinha, Nova Iguaçu, são 15. Desde quando tomou posse, em 1° de janeiro de 2017, Waguinho loteou o governo com aliados e a família. São vereadores, suplentes, ex-vereadores.
Sem transparência
A Secretaria de Proteção aos Animais foi criada em março de 2017. Procurada pelo DIA, a prefeitura informou que ela funciona, provisoriamente, em um anexo à Secretaria de Meio Ambiente. O DIA esteve no local ontem. Servidores disseram que a pasta não existe na prática.
"A secretária ainda está sendo montada", disse um funcionário ao repórter. Em nota, a prefeitura ressaltou que a reforma da sede da Secretaria de Proteção aos Animais "está em processo de andamento" na Rua Itatiba, s/n°, no bairro Parque Veneza. No endereço, porém, há uma escola municipal abandonada e nenhum sinal de obra. "A escola foi transferida e não fizeram nada", explicou um dos moradores da rua.
Questionada sobre as realizações da secretaria durante um ano e quatro meses após a sua criação, a prefeitura disse que os projetos ainda serão implantados. Afirmou que os trabalhos da pasta se resumiram ao resgate de um sagui e seis gambás.
Há pastas que chamam a atenção, como a de Turismo e de Articulação Política. Waguinho é investigado pelo Ministério Público por nepotismo. Além da irmã Fabiane dos Santos na Secretaria da Mulher, a esposa dele deixou o comando da Assistência Social e Cidadania porque disputará as eleições para deputada federal pelo MDB.
Além de Tuninho Medeiros, os vereadores que estão secretários são Elvis Alves Jacob, o Elvis da Internet (Ciência e Tecnologia); e Jader de Oliveira, o Jadinho do Pica-Pau (Concessões e Parcerias). Os suplentes: Celso Miranda (Esporte e Lazer) e Carlos Alberto dos Anjos Barros, o Carlos Caneco (Direitos Humanos). Os ex-vereadores são Dennis Macedo (Educação), Reginaldo Gomes (Habitação e Urbanismo e presidente da Inocentes de Belford Roxo), João Carlos Julião (Idoso) e Luis Carlos do Caminhão (Serviços Públicos).
O salário de um secretário municipal é R$ 6.100 líquidos, mais benefícios. Mas não há nenhuma informação pública no site como determina a Lei da Transparência. Ou seja: não tem como saber quantos servidores trabalham em cada pasta e os gastos com a folha de pagamento, incluindo comissionados e concursados ativos ou inativos.
Sem infraestrutura
Em 2017, o prefeito Waguinho decretou estado de calamidade financeira em Belford Roxo, que tem 495,7 mil habitantes. Os moradores convivem com problemas como lixo, ruas sem asfalto e vias sem semáforos. Animais abandonados circulam sem controle.
Há cinco dias, servidores aposentados e pensionistas protestaram por salários atrasados. Os vencimentos de junho foram pagos em 27 de julho. E os de julho só devem cair na conta no fim deste mês, segundo a prefeitura.
Apesar da crise, Waguinho mandou demolir o antigo pórtico no acesso à Via Dutra e reconstruiu um novo por R$ 205 mil, como revelou O DIA.
A prefeitura justificou as nomeações: "foram reabertas quatro unidades de pronto atendimento fechadas desde 2016. Este ano, irá inaugurar mais quatro unidades".
Sobre as 38 pastas, diz que "a nova estrutura foi elaborada para descentralizar e agilizar os serviços". E completa: "Encontramos secretarias que acumulavam funções e não atendiam a população".
Em relação ao pastor Jonas ressalta: "é um elo entre a Coordenadoria de Assuntos Religiosos e as secretarias. Chega ao gabinete pela manhã e retorna à tarde para apresentar os relatórios". Ontem, o religioso procurou O DIA: "Não posso estar todos os dias lá (no gabinete) porque há demandas em outros lugares", disse sem justificar o fato de nunca ter sido visto no local de trabalho por funcionários.
A prefeitura não informou os gastos das secretarias. Waguinho não deu entrevista. Tuninho Medeiros e Fabiane dos Santos não foram localizados.
