Audiência pública da Frente Parlamentar de Combate e Prevenção à Tuberculose, HIV e Diabetes da Alerj - Divulgação / Julia Passos / Alerj
Audiência pública da Frente Parlamentar de Combate e Prevenção à Tuberculose, HIV e Diabetes da AlerjDivulgação / Julia Passos / Alerj
Por O Dia

Rio - Tosse com secreção por mais de três semanas, febre noturna e emagrecimento sem justificativa. Esses são os principais sintomas da tuberculose, doença que acomete 67 pessoas a cada 100 mil habitantes no estado. No entanto, quando se trata da população carcerária fluminense, o número é ainda mais assustador: foram registrados 1.578 doentes a cada 100 mil pessoas privadas de liberdade somente no ano passado. Um aumento de 73% em relação a 2015, quando 758 ocorrências nos presídios do Estado foram notificadas.

Os dados foram apresentados durante audiência pública da Frente Parlamentar de Combate e Prevenção à Tuberculose, HIV e Diabetes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), realizada nesta terça-feira. Segundo a médica Ana Alice Bevilaqua, da Secretaria de Estado de Saúde, a taxa de sucesso do tratamento no Rio ainda é baixa: apenas 69,3% dos tuberculosos são curados. A meta estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 85%.

Ainda de acordo com a médica, este baixo percentual é resultado da soma de alguns fatores: abandono ou descontinuação do tratamento, pessoas que sequer têm acesso ao tratamento ou que desenvolvem resistência ao medicamento. "A cada 100 mil habitantes, quatro morrem de tuberculose no Rio. Entre a população carcerária, não existe um levantamento desses dados, porque muitos morrem sem sequer receberem o diagnóstico", relatou.

Superlotação

Entre os motivos para a epidemia de tuberculose entre a população carcerária, está a insalubridade das unidades prisionais. Em 15 anos, o número de internos mais que dobrou: eram 24 mil em 2003. Hoje, são 51 mil pessoas ocupam as 28,6 mil vagas disponíveis no Estado. As instalações dos presídios, majoritariamente mal-ventilados e com pouca iluminação, também dificultam a erradicação da doença nesses espaços.

Combate e prevenção

Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Saúde Prisional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a professora Alexandra Sánchez apontou que exames periódicos nos presídios também devem ser realizados para o melhor controle da tuberculose. "O ideal é que o mesmo exame que se faz na porta de entrada da prisão seja realizado uma ou duas vezes por ano em toda a população carcerária. Dessa forma, é possível monitorar a disseminação da doença", explicou.

Além das avaliações médicas, o defensor Emanuel Queiroz ressaltou a necessidade da melhoria das condições de salubridade nos presídios. "Você tem celas para seis pessoas com 30. Isso se soma à falta de medicamento e à má alimentação, tornando a prisão o espaço ideal para o desenvolvimento da tuberculose e para que ela acabe se espalhando para os agentes penitenciários, as visitas, os advogados... Quem pensa que a gravidade da situação só atinge a população presa está enganado", reforçou.

Você pode gostar