Operação Polícia Civil e Ministério Público cumpre mandados de prisão no Morro do Cavalão, em Niterói - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Operação Polícia Civil e Ministério Público cumpre mandados de prisão no Morro do Cavalão, em NiteróiEstefan Radovicz / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio (MP-RJ) realizou uma grande operação para cumprir 81 mandados, entre prisão preventiva e três de busca e apreensão contra criminosos que fazem parte do tráfico no Morro do Cavalão, em Icaraí, Niterói, Região Metropolitana do Rio. Sete pessoas foram presas, seis homens e uma mulher, e um adolescente foi apreendido. Dezoito mandados foram cumpridos contra pessoas já presas.

Agentes de diversas delegacias participaram da operação, chamada de Pé de Pano, e tiveram o apoio de dois helicópteros. A investigação conseguiu descobrir a estrutura formada pelo tráfico de drogas no Cavalão, identificando-se os 84 traficantes, alguns deles já presos, e suas atribuições. Entre janeiro de 2016 e março de 2017, centenas de indivíduos foram alvos de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça e diligências foram realizadas.

A denúncia do MPRJ também relata que o tráfico do Cavalão abastece outras comunidades de Niterói, servindo como entreposto de drogas, assim como o envio de cargas de entorpecentes que são revendidas em presídios.

Chefe do tráfico comanda quadrilha de presídio federal

O tráfico no Morro do Cavalão é comandado por Reinaldo Medeiros Ignácio, conhecido como Kadá. Segundo as investigações, mesmo no Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, ele consegue passar ordens para a sua quadrilha. 

As ordens são emitidas através de seus familiares, que repassam para os traficantes ligados a Kadá. Sua companheira Monique Pereira de Almeida e seus filhos Rafael Medeiros Ignácio e Reinaldo Medeiros Ignácio Junior foram denunciados pelos crimes. A investigação apurou que eles fazem visitas regulares a Kadá na prisão, tendo Monique, por exemplo, realizado seis visitas a Kadá num período de dois meses.

A denúncia do MP aponta que o tráfico no Morro do Cavalão lucra em torno de 150 mil por semana. Entretanto, em uma mês, segundo as investigações, a rentabilidade do bando pode chegar a quase R$ 1 milhão.

Abaixo de Kadá está Anderson Rodrigues França, vulgo Goelão, é apontado como o "frente", responsável pela tomada de decisões práticas em relação ao tráfico do Cavalão. Ele administra a contabilidade, gerencia os pontos de venda, supervisiona o envio de cargas e a contratação de advogados para outros traficantes. Ele é auxiliado por sua companheira, Jaqueline Tavares Medeiros, por sua vez auxiliada pela irmã Ana Mary e pela mãe Jandira – todas denunciadas.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPRJ, dividiu a denúncia em seis núcleos organizacionais, sendo o primeiro deles referente ao chefe do tráfico, o "frente" e seus familiares; o segundo deles referente aos "gerentes"; o terceiro referente aos fornecedores e intermediários; o quarto relacionado aos “vapores”; o quinto identifica os "atividades" e "aviões" do tráfico; e o sexto deles está relacionado ao núcleo de traficantes presos, que, mesmo fora das ruas, exerciam atividade criminosa junto aos demais membros do tráfico da comunidade do Cavalão.

Compra de votos em eleições de 2016

Durante as investigações, foi interceptada uma conversa entre um político e traficante, em de 2016, quando foi negociada a compra de votos de moradores locais mediante pagamento em dinheiro. Ainda não há um número de prisões realizadas na ação.

Tráfico aterroriza região

A ação busca atender uma antiga reivindicação dos moradores dos bairros de Icaraí, São Francisco e Vital Brasil, na Zona Sul de Niterói, que vivem sob o terror dos confrontos, roubos e a atuação do tráfico na região.

Segundo o MP, bocas de fumo e cracolândias foram instaladas nas entradas da comunidade — que tem seu acesso principal por Icaraí. A denúncia aponta que existem 14 pontos de vendas de drogas dentro da comunidade e que até mototaxistas também vendem drogas nos cinco pontos de moto táxi existentes na favela (nos acessos e no interior). "Facilita a compra e a venda de entorpecentes, inclusive para crianças e adolescentes, e torna o tráfico no Cavalão altamente nocivo para a população", diz o documento.

No último domingo, bandidos do Morro do Cavalão atiraram contra uma viatura que fazia patrulhamento na Estrada Leopoldo Fróes. O ataque aconteceu em plena luz do dia, por volta das 12h. Na ocasião, houve um intenso confronto, a via precisou ser fechada por trinta minutos e motoristas chegaram a voltar na contramão. Nenhum bandido foi preso.

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