Rio - Moradores da comunidade de Maracajás, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, foram acordados com uma ordem de remoção e demolição das casas, na manhã desta terça-feira. Agentes da Aeronáutica acompanharam um oficial de Justiça para ação de reintegração de posse e houve uma confusão no local.
A Polícia Militar e a Guarda Municipal também participaram da ação. Os moradores tentaram isolar a área para impedir a entrada dos agentes, mas eles reagiram. "A gente fez um cordão e eles bateram na gente de verdade. Tentaram me enforcar, depois me pegaram pela perna. Jogaram spray de pimenta na nossa cara", relatou um morador, que não quis se identificar.
Quem estava do lado de fora da comunidade não conseguia entrar e quem estava do lado de dentro não conseguia sair. Os agentes bloquearam a entrada da rua e nem moradores, nem a imprensa conseguiram acessar local do despejo.
"Fiquei nervosa porque minha família está lá dentro, com a minha avó de 95 anos. Estou passando mal", disse Adriana Proença. "Não me deixam entrar, nem o nosso advogado. Estou me sentindo na ditadura militar", completou. A mulher passou mal devido ao nervosismo e foi atendida por um paramédico da Aeronáutica.
A ordem de despejo era para seis das 15 famílias que vivem na comunidade. Segundo Di Cunha, do conselho popular da comunidade Marajás, após o uso de força por parte dos agentes, os moradores decidiram não resistir à ação. "Temos uma idosa acamada aqui na comunidade, por isso decidimos por sair", explicou.
De acordo com a representante, a ordem judicial apresentada nesta manhã é de setembro do ano passado. Eles alegam que não foram avisados ou intimados pela Justiça recentemente sobre a ordem de despejo de hoje.
Di Cunha afirmou que as famílias deixaram a comunidade sem saber para onde ir ou com algum tipo de auxílio financeiro. "Não tem indenização, nem auxílio. Eles estão deixando os móveis nos vizinhos e provavelmente, devem ir para casa de algum parente", declarou.
As famílias, ao longo de gerações, habitam o local há mais de 100 anos. As remoções foram anunciadas desde que o Aeroporto Galeão foi privatizado, em 2013, e as áreas da foram transferidas da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para a Aeronáutica.
Ao DIA, Carlos Henrique Vargas Marçal, advogado dos moradores disse que os mandados de reintegração estavam vencidos. "Era um mandado suspenso, que já havia caducado. Nós fizemos uma petição para que houvesse uma intimação com prazo para os moradores deixarem o local", contou.
"Eles tomaram atitudes temerárias. Sabemos, que há interesses de empresários naquela área. Hoje, houve relatos de idosos agredidos", completou o advogado. De acordo com Carlos Henrique, os advogados pedem no processo indenização para os moradores, porém, a União diz que a comunidade deve indenizar a Aeronáutica. O defensor diz que entrou com um medida cautelar no Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
Em nota, a Aeronáutica informou que Justiça Federal cumpriu decisão judicial de reintegração de posse de terreno da União, ocupado irregularmente há muitos anos, localizado na Estrada Maracajá, Ilha do Governador.
"O cumprimento da ação se deu após decisão judicial favorável à União e notificações prévias aos ocupantes dos imóveis irregulares. A ação contou com apoio do Comando da Aeronáutica, da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal para diversas atividades, tais como interdição e reforço da segurança nas vias públicas no entorno", disse.
A Aeronáutica não havia comentado se as famílias despejadas receberão algum auxílio ou serão inseridas em algum programa social até a publicação desta reportagem.
A assessoria da Polícia Militar informou que policiais militares do 17°BPM (Ilha) estiveram em apoio a uma ação de reintegração de posse feita pela Aeronáutica por determinação judicial na Estrada de Maracajá, no Galeão.