Alegorias da Alegria da Zona Sul seguem abandonadas em terreno às margens da Avenida Brasil  - Marcio Mercante
Alegorias da Alegria da Zona Sul seguem abandonadas em terreno às margens da Avenida Brasil Marcio Mercante
Por PALOMA SAVEDRA

Rio - A espera das 13 agremiações da Série A, do Grupo de Acesso do Carnaval carioca, pelo dinheiro de subvenção do Município do Rio está perto do fim. A prefeitura autorizou a liberação de cerca de R$ 7 milhões para serem distribuídos para as escolas de samba e também para a realização dos desfiles na Estrada Intendente Magalhães e blocos de rua. A previsão é que, em janeiro, os recursos cheguem a todos, informou ao DIA o secretário da Casa Civil, Paulo Messina.

Segundo ele, o financiamento municipal demorou a sair porque a prioridade era pagar o 13º salário dos servidores e outras dívidas. "A prefeitura tem R$ 7 milhões separados para o Carnaval da Série A e Intendente Magalhães desde a última semana, após o pagamento do 13º e as contas da saúde", disse.

Em meio ao cenário de incertezas no Grupo de Acesso, houve atraso na confecção de fantasias. E não há nem mesmo perspectiva de início das vendas de ingressos para os desfiles — que ocorrerão em março de 2019—, como mostrou o Informe do DIA no último domingo. A imagem de carros alegóricos da Alegria da Zona Sul abandonadas em terreno na Avenida Brasil é exemplo claro da crise carnavalesca.

Cada escola da Série A vai receber em torno de R$ 250 mil. O valor, segundo Messina, atende às conversas que representantes da Lierj tiveram em outubro com a prefeitura. "Pediram a metade do que as agremiações do Grupo Especial (da Liesa) vão receber, que serão R$500 mil", afirmou.

Aliás, as escolas do Grupo Especial também contarão com um orçamento apertado, já que com a retirada do patrocínio da Uber (após a prisão do deputado e presidente da Mangueira, Chiquinho da Mangueira, do PSC) vão receber apenas o subsídio do município e não mais o valor de R$ 1 milhão programado anteriormente. No total, a empresa colocaria, no Carnaval do Rio, R$ 10 milhões, e as verbas seriam partilhadas também para o Acesso.

Mesmo após a saída da Uber, o governo não quis aumentar o aporte para a Liesa, gerando críticas no meio do samba. Messina rebateu: "A prefeitura não é babá de evento comercial. Exceto o Grupo de Acesso e o Carnaval da Intendente, as escolas do Grupo Especial têm que se profissionalizar como qualquer grande evento comercial que vende ingressos, a exemplo do Rock in Rio e outros. A prioridade da prefeitura é usar dinheiro público para saúde e educação".

Trâmite burocrático

A autorização do crédito de R$ 7 milhões para a Riotur foi assegurada logo após a quitação do 13º, no último dia 20, afirmou Messina. Questionado se há como o dinheiro estar na conta das agremiações em 2018, Messina disse que a possibilidade existe, mas devido à burocracia, o mais provável é que seja no começo de janeiro.

"Depois da permissão, a Fazenda libera o sistema para a Riotur empenhar (primeira etapa do processo de pagamento, destinando o dinheiro para um fim) e liquidar. Depois, a Controladoria Geral do Município processa e envia para o Tesouro. Só depois há o pagamento. Isso tudo pode levar até duas semanas", explicou.

Venda de ingressos terá maior período de atraso

No Carnaval 2019, a Lierj vai registrar o maior atraso no início das vendas de ingressos para os desfiles da Série A, superando o que aconteceu na folia de 2018, quando a comercialização começou em 17 de dezembro de 2017.

A entidade ressaltou que a venda só pode acontecer após a assinatura de contrato com a prefeitura. E isso ocorrerá em breve. Segundo Messina, quando o dinheiro entrar na conta da Riotur, o fechamento do contrato será possível.

Sobre a situação de penúria das agremiações, que estão sem barracões desde o despejo pela Cdurp, na Zona Portuária, a Riotur informou que a proposta inicial de ocupação de um terreno na Avenida Brasil — feita pelo órgão a pedido de representantes da Lierj — foi descontinuada em virtude da construção de um condomínio do Minha Casa, Minha Vida no local.

"Dada a complexidade nas especificações do terreno (dez mil metros quadrados, relativamente próximo ao Sambódromo), novas buscas foram realizadas junto às pastas competentes para tentar atender às escolas", informou, em nota, a Riotur, que "segue empenhada para resolver a questão dentro das condições atuais de crise".

Grupo Especial

Já a subvenção ao Grupo Especial caiu de R$ 2 milhões para R$ 500 mil. Antes de 2016, o subsídio era de R$ 1 milhão e a Petrobras dava mais R$ 1 milhão de patrocínio, somando R$ 2 milhões. Até que, naquele ano, a empresa retirou apoio e o então prefeito Eduardo Paes injetou mais R$ 1 milhão, voltando aos R$ 2 milhões. Em 2017, Crivella reduziu para R$ 1,5 milhão (R$ 1 milhão do município e R$ 500 mil da Uber).

Posicionamento da Lierj

Em nota, divulgada da tarde desta quarta-feira, a Lierj afirmou que recebeu a notícia com a data da verba "com extrema indignação". "A situação provoca ainda mais repulsa pelo fato de a Liga não ter recebido qualquer informação direta e oficial por parte do órgão público, tendo tomado conhecimento apenas através da imprensa", diz trecho da nota. 

"Além disso, não procede a informação atribuída ao secretário municipal da Casa Civil, Paulo Messina, em entrevista ao jornal O Dia, de que o valor de R$ 250 mil para cada escola atenderia a um pedido do grupo. Tal quantitativo, se confirmado, será o menor da história da Série A. Em documento entregue ao secretário em outubro, a Lierj reiterou que o dinheiro recebido para o Carnaval de 2018 já foi insuficiente para a produção dos desfiles, uma vez que a verba municipal corresponde a aproximadamente 80% da receita total de cada agremiação. Na ocasião, o valor, 50% menor do que no ano anterior, só foi repassado faltando aproximadamente 10 dias para as apresentações. Sendo assim, foi pedido, no mínimo, o restabelecimento do valor de R$ 8.623.460 recebido em 2015", diz outra parte do comunicado.  

 

Confira o comunicado na íntegra:

"Lierj classifica novo corte de verba da Série A como inadmissível

 

A Lierj recebeu com extrema indignação a notícia divulgada nesta quarta-feira, 26/12, através de veículos de comunicação, dando conta de mais um corte na subvenção atribuída pela Prefeitura para a realização do Carnaval da Série A. A situação provoca ainda mais repulsa pelo fato de a Liga não ter recebido qualquer informação direta e oficial por parte do órgão público, tendo tomado conhecimento apenas através da imprensa.

Além disso, não procede a informação atribuída ao secretário municipal da Casa Civil, Paulo Messina, em entrevista ao jornal O Dia, de que o valor de R$ 250 mil para cada escola atenderia a um pedido do grupo. Tal quantitativo, se confirmado, será o menor da história da Série A. Em documento entregue ao secretário em outubro, a Lierj reiterou que o dinheiro recebido para o Carnaval de 2018 já foi insuficiente para a produção dos desfiles, uma vez que a verba municipal corresponde a aproximadamente 80% da receita total de cada agremiação. Na ocasião, o valor, 50% menor do que no ano anterior, só foi repassado faltando aproximadamente 10 dias para as apresentações. Sendo assim, foi pedido, no mínimo, o restabelecimento do valor de R$ 8.623.460 recebido em 2015.

Como vem sendo amplamente divulgado, não é de hoje que a Série A luta com todas as forças para superar as adversidades que vêm sendo provocadas por ações e decisões do poder público. Além dos sucessivos cortes de verba, que prejudicam diretamente milhares de artistas e trabalhadores humildes que dependem do ofício para colocar comida na mesa das famílias, outros problemas graves assolam aquele que deveria ser visto como um importante elemento de valorização cultural, de inserção social e até mesmo de investimento para o turismo da cidade, uma vez que, segundo estudo do Ministério da Cultura (Minc), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Carnaval do Rio foi responsável pela movimentação de R$ 3 bilhões em 2018. Ainda assim, a cerca de dois meses para os desfiles, as escolas de samba estão sendo despejadas dos barracões, sem qualquer orientação ou apoio municipal para que um novo espaço seja destinado para uma produção digna das fantasias e alegorias.

Vale ressaltar que, desde a criação da Série A da Lierj, em 2012, os desfiles do grupo foram valorizados em função dos trabalhos criativos e surpreendentes criados por talentosos profissionais dos mais variados setores, fazendo com que os desfiles de sexta-feira e de sábado de Carnaval, no Sambódromo, fossem aguardados com ansiedade por cariocas e turistas. Com ingressos sendo sempre vendidos a preços populares, cidadãos das mais variadas classes sociais passaram a poder ter um contato maior com o samba e com a cultura do Rio de Janeiro.

A Lierj reitera que vem apoiando incondicionalmente as agremiações filiadas e que segue buscando alternativas para minimizar os consecutivos impactos que vêm sendo causados pelo poder público nos desfiles da Série A."

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