Maestrina Thaís Bezerra e seus alunos da Escola Municipal João Barbalho, em Ramos. - Divulgação
Maestrina Thaís Bezerra e seus alunos da Escola Municipal João Barbalho, em Ramos.Divulgação
Por ANGÉLICA FERNANDES

Rio - Lá do alto do trio ela reina. Com seu inseparável apito e sua pasta de arranjos musicais, a maestrina Thaís Bezerra repete há dez anos a responsabilidade de comandar a bateria de 160 integrantes do Multibloco, um dos mais famosos da Lapa. O sorriso largo que se mistura muitas vezes ao semblante sério quando uma nota sai do compasso dá jus a sua fama de linha dura, e na regência, ela incorpora uma concentração invejável e exige de seus parceiros de bloco sempre a excelência. Mas quem vê Thaís nem imagina o tanto que batalhou para, hoje, colecionar conquistas, que vão do mestrado em música pela Unirio, passando pela criação de oficinas e lançamento de um livro, até sua experiência internacional, com shows inclusive na Grécia.

No auge dos seus 36 anos, Thaís carrega o lema de encarar desafios a sério. Foi com essa determinação que ela abandonou a profissão de fisioterapeuta e o curso de Medicina, em 2008, para mergulhar fundo na música e no Carnaval. De cara, recebeu logo uma missão irrecusável, a de fundar o bloco. Era para ser apenas para funcionários da editora Multifoco, na Lapa, mas a coisa tomou uma proporção tão grande que se tornou o Multibloco.

"Começamos com 30 pessoas. Nosso primeiro desfile, na Rua do Rezende, em 2009, foi com uma caixinha de som em um sábado de Carnaval, ao meio-dia, para aproveitar as pessoas que passassem pela Lapa", disse Thaís. Naquele ano nem ela e nem seu parceiro nessa aventura, o cofundador Lino Amorim, imaginavam que, hoje, o Multibloco se tornaria uma escola de percussão, com desfiles temáticos e projetos extras, como os de festejos juninos. No sábado, a bateria vai tomar a Lapa, às 9h, com o tema Amor e promete um Carnaval democrático, livre de preconceito.

MULTIPROFISSIONAL

Além do Multibloco, Thaís é maestrina do Terreirada Cearense, fundou o Orquestra Rítmica, que estreia neste Carnaval, compõe um grupo só de mulheres na banda Damas de Ferro — de fanfarra e que toca em festivais fora do Brasil —, e dá aulas de música na Escola Municipal João Barbalho, em Ramos, regendo a banda marcial. Assim como seus alunos das oficinas de blocos, a maestrina foi adotada como uma mãe também na escola.

Maestrina Thaís Bezerra e seus alunos da Escola Municipal João Barbalho, em Ramos. - Divulgação

"As pessoas me procuram porque querem mudar alguma coisa na vida. Eu sinto essa responsabilidade, mas também tenho orgulho quando vejo meus alunos crescendo, fundando blocos e se profissionalizando", destacou.

 'Preconceito? Se vivi, nem senti'

Em posição de liderança durante toda sua carreira, Thaís conta que foi bem aceita e não se lembra de ter sofrido preconceito. "Sempre fui muito focada e correta nas coisas que eu faço. As pessoas me respeitam e eu vejo que encorajo muitas mulheres". Mas já teve episódios em que ela precisou falar mais alto. "Foi com um homem, em um projeto fora do Brasil. Ele desconsiderou o que eu tinha dito, então eu joguei a baqueta no chão e disse pra ele fazer o que quisesse porque eu estava certa. Depois que disso, ele me ouviu", contou Thaís.

No Multibloco, na Lapa, ela coordena 160 ritmistas: "É a minha maior paixão" - Marcelle Gebara/ DIVULGAÇÃO

Em sua trajetória internacional, a maestrina lembra com carinho quando tocou na cerimônia da tocha olímpica na Grécia. "Só a música poderia me levar para tão longe". Na Califórnia, ela já comandou por dois anos a bateria do Carnaval local, e na Finlândia, ministrou cursos. Também já tocou no México, Cuba, Nova York, Texas, Colômbia e Uruguai.

No ano passado, como parte do trabalho de mestrado, lançou o livro 'Tá no Batuque', que ensina um pouco dos instrumentos de percussão, do Carnaval de rua.

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