Cabral está preso desde novembro de 2016 - Márcio Mercante / Agência O Dia
Cabral está preso desde novembro de 2016Márcio Mercante / Agência O Dia
Por *LUIZ FRANCO

Rio - No depoimento desta terça-feira, Sérgio Cabral voltou a admitir o recebimento de propinas e revelou detalhes do esquema de corrupção que operava em seu governo. Em tom confessional, o ex-governador pediu desculpas por ter mentido em outras ocasiões, disse que estava sendo sincero para para ficar bem consigo mesmo e afirmou: "Meu apego a dinheiro, a poder, é um vício".

"A primeira vez que você rouba, dá certo, e aí vicia, né?", disparou Ezio de Azevedo, 76, que ficou quatro meses sem receber por conta do atraso no pagamento dos servidores aposentados do Estado. "Ele está contando essa história porque viu que não vai se safar, e agora quer uma delação premiada pra livrar a pele dele", completou.

Segundo a professora da PUC e especialista em psicologia jurídica Maria Helena Zamora, o vício não justifica. "Ainda que a gente verifique a presença de uma patologia, não podemos esquecer do contexto. Foi um ato de corrupção, um crime", afirma.

Para a neta de Ezio, Thaisi Andrade, de 30 anos, a mudança de postura de Sérgio Cabral "não ajuda em nada", tampouco "produz consequências que ajudem a pagar as dívidas". Thaisi trabalhava como assistente administrativa da Clínica Piquet Carneiro em dezembro de 2016, quando os salários dos servidores do Estado começaram a atrasar. "Me endividei bastante", conta ela.

Por conta das dívidas, a servidora precisou cancelar o plano de saúde. "Estou aguardando há meses para operar o joelho no Pedro Ernesto – lugar onde a sogra do vice-governador conseguiu vaga muito rápido", lembra ela, que só voltou a receber em dia em 2018. "Mesmo quando o salário voltou, não consegui retomar a vida, eram muitas dívidas". "Uma das consequências que eu vivo dessa época, é que faço tratamento para ansiedade", conta.

Quando Sérgio Cabral tenta atribuir a corrupção de seu governo a um vício, Thaisi tenta "nem ver esse tipo de declaração". "Porque se não eu não consigo viver". "O arrependimento não vai pagar minhas dívidas", conclui.

*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes

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