Jessui Corrêa Ribeiro (c), o filho Yago e do cunhado - Estefan Radovicz/Agência O Dia
Jessui Corrêa Ribeiro (c), o filho Yago e do cunhadoEstefan Radovicz/Agência O Dia
Por Adriano Araujo e Luiz Portilho

Rio - A viúva do maquinista Rodrigo Assumpção, morto na colisão entre dois trens da SuperVia em São Cristóvão, falou nesta quinta-feira sobre a perda do marido. O corpo dele será enterrado às 17h30 no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste. A missa terá início às 12h30. Segundo ela, o companheiro, com quem completaria 25 anos de casados em agosto deste ano, era muito querido e perdê-lo foi como perder a sua metade.

"Ele era uma pessoa que só pensava na família, nos filhos, adorado por todo mundo, tinha muitos, mas muitos amigos. Não tinha um lugar em que não gostassem dele. Era uma pessoa do bem, essa era a definição dele. Eu estou despedaçada, minha metade foi embora" , disse Jessui Corrêa Ribeiro Assumpção, de 44 anos.

A dona de casa ligou a televisão e ficou sabendo do acidente. A partir daí, começou a ligar para o marido, mas ele não atendia. Depois de várias tentativas por notícias, ela recebeu uma ligação com a notícia de que o marido era a vítima presa nas ferragens do trem.

"Liguei umas 50 vezes e ele não atendeu. O telefone dele estava com defeito. Um dia antes eu tinha tentado ligar e não tinha conseguido. Então, pensei que fosse por isso. Um amigo conseguiu chegar na Central do Brasil e conseguiu uma informação. Depois, liguei para um maquinista amigo nosso e as informações foram chegando, até ter a confirmação de que era ele".

A viúva destacou a força de Rodrigo, que suportou por quase oito horas preso às ferragens o trabalho de resgate. Após ser retirado, ele sofreu uma parada cardíaca e não resistiu. "Foi muito sofrimento que ele suportou, por muito tempo, ele foi muito forte. Mas, se foi Deus que quis assim, a gente só tem que tentar se confortar e aceitar", falou.

Ela disse que teve esperança até o último minuto em que ele seria resgatado com vida. "Esperamos o resgate por muito tempo, com esperança o tempo todo. Estávamos tensos com a demora, mas esperançosos de que daria certo". 

O resgate do maquinista gerou comoção em quem acompanhava o trabalho do Corpo de Bombeiros. Quando os militares retiraram Rodrigo das ferragens foram muito aplaudidos, e se abraçaram comemorando o fim da ação. 

Jessui lembrou que, na noite anterior ao acidente, estava mal e não quis ir ao hospital para receber a medicação para um tratamento que está realizando. Ela se emocionou ao lembrar da despedida do marido, na hora que ele saiu para trabalhar.

"Estou fazendo um tratamento médico e duas vezes na semana tenho que ir no hospital tomar uma medicação. Na terça à noite, era dia de eu ir no hospital, mas não quis ir. Ele ficou meio chateado, falou 'poxa, vai, para ficar boa logo'. Eu disse que não queria, não estava bem, e fomos dormir. Ele saiu de manhã, me deu um beijo, como fazia todo dia, falei 'vai com Deus'...e é isso", contou. 

Maquinista Rodrigo Assumpção morreu em acidente entre trens da SuperVia - Reprodução Facebook

Segundo ela, o marido nunca reclamou das condições do trabalho, apesar dos imprevistos e até risco do dia a dia. "Quem não corre risco? Toda profissão você corre. Tinham coisas corriqueiras, do dia a dia, mas nada específico. Ele falava muito em ser promovido para ser supervisor, que achava que queria a promoção, mas por ser muito corrido e ter ficar que 'ligado', preferia continuar como maquinista. Ele gostava do tempo no trabalho, mas também gostava de estar em casa, com a família", explicou.

Conforme O DIA publicou nesta quinta-feira, especialistas que analisaram com os trens da SuperVia e comentaram que pode ter havido falha em equipamentos antigos que compõe principal sistema de segurança.

SuperVia esclareceu que sinalização é constantemente modernizada - Estefan Radovicz / Agência O Dia

Planos de viagem e 25 anos de casados

Perto de completarem 25 anos de casados em agosto, o casal planejava as férias para maio deste ano, para um lugar que o maquinista adorou conhecer. "Íamos fazer uma viagem em maio, nas férias dele, para o Sul. Fomos há dois anos, ficamos poucos dias e ele gostou muito, queria voltar para ficar mais e aproveitar mais", disse a viúva. Rodrigo deixa dois filhos, Yago, de 18, e Fernanda, de 17.

Maquinista Rodrigo e Jessui iam completar 25 anos de casados em agosto deste ano - Reprodução Facebook

Jessui diz que o marido era muito prestativo e sempre se entrega por inteiro a tudo que fazia. "Ele gostava muito do trabalho, na verdade tudo que ele se prestava a fazer era muito correto. Era militar, tinha aquela conduta, na SuperVia era da mesma maneira. Ele gostava muito do ambiente, dos amigos, da empresa em si, não podemos negar que era o que dava nosso sustento, nosso conforto", defendeu, revelando que o marido tinha sido fuzileiro naval, mas saiu e fez curso de maquinista. Após passar pelo difícil treinamento, acabou virando maquinista e surgiu a oportunidade de trabalhar na SuperVia.

"Ele foi fuzileiro naval por nove anos e meio e acabou dispensado injustamente. Houve uma mudança no plano de carreira e ele foi prejudicado. O certo era ele seguir com o plano de carreira de quando entrou. Eram três provas, mudou para duas. Como ele não teve oportunidade de fazer a terceira, o botaram na rua faltando cinco meses para ele ganhar estabilidade. Isso foi em 2009. Ele ficou desempregado por dois anos até entrar na Supervia", lembrou.

 

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