Local onde usuários se reúnem para consumir crack na
Avenida Edgard Romero  - fotos Estefan Radovicz
Local onde usuários se reúnem para consumir crack na Avenida Edgard Romero fotos Estefan Radovicz
Por Thuany Dossares

Rio - Um terreno abandonado, com alguns móveis jogados, e moradores de rua fumando crack. É a cena vista por quem atravessa a Rua Leopoldino de Oliveira, em Madureira, na Zona Norte, que fica a cerca de 750 metros do principal polo comercial do bairro, o tradicional Mercadão de Madureira. Perto dali, a estação Otaviano do BRT Transcarioca aparenta ser também uma extensão da cracolândia, assim como na Avenida Brasil, na altura do Parque União.

O ambiente de degradação se traduz em medo entre os moradores da região, que sofrem com o aumento da violência. De acordo com os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), o número de registros de furtos a transeuntes na área da 29ª DP (Madureira) aumentou 21,4% em junho. O sexto mês de 2018 contabilizou 42 crimes desse tipo. Já em junho deste ano, foram registrados 51 casos. A delegacia de Madureira contabilizou um aumento de mais de 20% de furtos a pedestres em junho deste ano, em comparação ao mesmo mês do ano passado.

“É muita insegurança, porque temos medo de sermos assaltados, de sofrermos com os furtos e até mesmo de sermos feridos por armas brancas”, disse o produtor de eventos Renato Nunes, de 30 anos.

O aumento no número de registros de furtos a pedestres demonstra ser um problema localizado em Madureira. Isso porque o 9º BPM, que é responsável pelo policiamento do bairro, além de Rocha Miranda, Honório Gurgel, Marechal Hermes, Cascadura, Bento Ribeiro e Turiaçu, conseguiu reduzir em 13% a incidência desse tipo de crime na região em que opera.

Segundo o comandante do 9º BPM (Rocha Miranda), tenente-coronel Cristiano Lima, a questão da cracolândia não é apenas um problema de segurança. Ao contrário, é também de saúde pública e desenvolvimento social. Mesmo reprimindo de maneira ostensiva a violência em Madureira, Lima destaca que as do batalhão também fazem ações sociais para combater o crack.

“Nós temos feito semanalmente, junto com a prefeitura, ações sociais para atender usuários de drogas. Temos atuado bastante em conjunto com órgãos de saúde para ajudar nesta causa e, consequentemente, roubos e furtos de rua vem diminuindo. Conseguimos reduzir referente ao mês de julho do ano passado”, contou o oficial.

As secretarias municipais de Saúde e de Assistência Social e Direitos Humanos esclareceram que dão amparo aos moradores de rua em geral. Ambas afirmaram ainda que serviços como tratamento ao usuário de drogas e álcool e assistência psicológica na rede pública também são oferecidos.

Avenida Brasil

A cena de pessoas em situação de rua consumindo drogas ao ar livre se repete na Avenida Brasil, na entrada da favela do Parque União, no Complexo da Maré. O fato que chama atenção dessa cracolândia é que ela foi formada no espaço reservado para se construir uma nova estação do BRT.

Uma equipe do DIA passou pela via e flagrou, além da movimentação de cerca de 30 pessoas, nove barracas, numa espécie de moradias para usuários de drogas, feitas com edredons.

Uma equipe da Comlurb também foi vista no local, limpando a área da cracolândia, mas as barracas não foram retiradas.

Vandalismo no BRT: depredações custam R$ 1,4 milhão por mês
Publicidade
Em nota, o consórcio BRT explicou que tem um prejuízo de cerca de R$ 1,4 milhão por mês com atos de vandalismo e que todas as estações já sofreram esse tipo de problema.
“A violência no Rio gera impactos nos mais diversos setores da cidade. O transporte, por exemplo, é afetado com casos constantes de vandalismos e furtos. Um prejuízo não só para a economia, mas, principalmente, para quem depende do serviço para ir ao trabalho, para o lazer, para se deslocar pela cidade. O BRT Rio lamenta os constantes atos de vandalismo que trazem prejuízo aos usuários do sistema e lembra que todas as estações do BRT já sofreram algum tipo de vandalismo”.
Publicidade
Segundo o consórcio, depredações e quebras de portas, catracas, elevadores, monitores e máquinas de autoatendimento são uma realidade diária do sistema. “Não há um dia em que não seja aberto pelo menos um protocolo interno para conserto de equipamentos por causa de mau uso”, diz em nota. O prejuízo estimado com vandalismo nas estações e terminais é de cerca de R$ 1,4 milhão por mês. “Só com portas de vidro são gastos cerca de R$ 500 mil por mês”.
Sobre a estação Otaviano, em Madureira, o consórcio contou que ela foi vandalizada oito vezes no último semestre de 2018. “Em uma das vezes, foi furtada e vandalizada às vésperas da reinauguração. Levaram até os tapumes da obra”.
Publicidade
A estação está desativada e, segundo o consórcio, por ela ficar numa área sensível, entre comunidades onde ocorrem constantes conflitos armados, e reconstruí-la sob os mesmos padrões de um projeto frágil e inadequado seria um desperdício de dinheiro público.
 
Publicidade
O efeito destrutivo do crack
 
Publicidade
Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o psiquiatra Paulo Roberto Telles explica o motivo de o crack ter um efeito tão destrutivo.
 
Publicidade
“O que separa o crack das outras drogas é o efeito dele. O problema é que, da mesma forma que os efeitos vêm intensamente, vão embora rápido. Quando começa a entrar no período de abstinência e a euforia vai passando, a pessoa entra num período de vazio que impulsiona a pessoa a usar o crack de novo. A pessoa acaba esquecendo de coisas que deveriam ser prioridades, como família, emprego, saúde”, esclareceu.
Você pode gostar
Comentários