Ocupação da rede estadual é de 80% em UTIs e 66% em enfermarias - Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Ocupação da rede estadual é de 80% em UTIs e 66% em enfermariasMarcello Casal Jr./Agência Brasil
Por *Rachel Siston

Rio - Um tratamento que pode reduzir em 50%, ou dar fim de vez a ataques epiléticos, era para ser realizado gratuitamente pelo Serviço Único de Saúde (SUS) desde março deste ano. A Terapia VNS utiliza um gerador que, através de um condutor, envia estímulos elétricos ao cérebro do paciente, ajudando a prevenir as crises. O tratamento é recomendado para 30% dos cerca de 4 milhões de brasileiros que sofrem com o distúrbio e são resistentes a medicamentos.

A presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), Maria Alice Susemihl, diz que a disponibilização de tecnologias incorporadas ao SUS deve acontecer em até 180 dias após sua publicação no Diário Oficial da União (DOU), que no caso da terapia aconteceu em setembro de 2018, e que os procedimentos deveriam ter começado, então, em março deste ano.

"Nós só soubemos de alguns casos em que as pessoas conseguiram fazer pelo SUS, a maioria recorreu à rede privada ou ainda está esperando. O Ministério da Saúde não compra os aparelhos, porque é necessário pedir em demanda, mas eles não têm esse levantamento, então não compram. Enquanto isso, as pessoas vão correndo o risco de terem problemas sérios por causa das crises. Não tratam a epilepsia com a seriedade que ela tem", lamentou Susemihl.

Procurado para esclarecer a situação do levantamento de pacientes e da compra de equipamentos, o Ministério da Saúde não respondeu até o fechamento desta edição.

Demora no tratamento expõe paciente a mais riscos e até morte

Atualmente, há três tratamentos para quem sofre com epilepsia: por meio de remédios, de cirurgia ressectiva e neuromodulação, e a terapia VNS. Segundo a neurologista especializada em epilepsia Isabela D'Andrea, 60% dos pacientes que usam o gerador da terapia conseguem reduzir os ataques em 50%, e outros 5% podem nunca mais voltar a sofrer com eles.
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D'Andrea afirma que aqueles que não reagem ao medicamento e não são elegíveis a cirurgia podem sofrer com traumas, fraturas, queimaduras e até com Sudep, sigla em inglês para morte inesperada repentina na epilepsia.
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"A terapia dá mais qualidade de vida. Quanto mais elas demoram para colocar o gerador (VNS), mais risco correm de sofrer com algum trauma e até morrer. Tem crianças que já podem fazer esse tipo de tratamento, e o SUS não está disponibilizando. Quanto mais precoce colocar o gerador, maior a chance de resposta", explica a neurologista.
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Para conseguir a terapia, o aposentado Sebastião Batista, de 64 anos, precisou recorrer à Justiça. Ele conta que em 2014 conheceu o tratamento pelo Instituto Estadual do Cérebro e, apesar de o Estado ter comprado 12 aparelhos, apenas um deles foi disponibilizado. Mesmo vencendo na Justiça para realizar a cirurgia, só conseguiu colocar o gerador seis meses depois, em novembro de 2014. "Eu tinha umas 60 crises por mês. Hoje, eu tenho mais qualidade de vida."

*Estagiária sob supervisão de Gustavo Ribeiro

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