A alegria da reunião de Jaqueline, Jorge Luiz e Josineide da Silva: irmãs não se conheciam - Arquivo Pessoal
A alegria da reunião de Jaqueline, Jorge Luiz e Josineide da Silva: irmãs não se conheciamArquivo Pessoal
Por *Rachel Siston

Com a chegada do fim de ano aflora o espírito de solidariedade e união. Mas para a microempresária Danielle Vianna, de 42 anos, não há época certa para transformar vidas. Há cinco anos, ela reúne famílias de todo o país com o trabalho voluntário 'Busco Minha Família', em que, a partir de pistas, ajuda familiares que nunca se viram ou perderam o contato, a se encontrarem. 

Danielle conta que nunca aconteceu nada parecido em sua vida, mas a principal motivação foi o fato de não se conformar que alguém pode simplesmente desaparecer. "Eu me lembro do caso do menino Carlinhos, nos anos 1970, e isso me marcou muito. Eu nunca consegui entender como uma criança desaparece do nada, como uma pessoa pode sumir sem deixar pistas e isso me incomodava", revela.

Dados divulgados em uma audiência da Comissão de Segurança Pública da Alerj, em novembro, apontam que cerca de 400 pessoas, mensalmente, são dadas como desaparecidas em todo o Estado do Rio. A Coordenadoria de Desaparecidos do Estado informou que, de janeiro a agosto de 2019, somente na capital fluminense, a Delegacia de Descobertas e Paradeiros (DDPA) registrou 1.427 pessoas como desaparecidas; dessas, 1.157 foram encontradas, 20 morreram e, aproximadamente, 250 casos ainda estão em andamento. Decidida a mudar esse cenário, ela criou um grupo nas redes sociais e começou sua busca.

"O caminho nunca é igual para todos os casos. Quando a pessoa sabe os dados, essas buscas são mais fáceis, a gente tem como procurar no cartório, nos sites do governo. Mas tem muita gente que procura familiar que não sabe o nome. É uma busca que eu não sei exatamente quem estou procurando. Nesse caso, faço uma busca pelo cartório para ver se constam outras pessoas com o mesmo nome de pai e de mãe, o que nem sempre dá resultado. O Google ajuda muito, as redes sociais também. Tem vários caminhos."

Nos cinco anos de trabalho voluntário, foram finalizados cerca de 1.100 casos em todo o país. "Eu embarco nessas histórias e a gente cria um laço muito forte. Tem pessoas que ajudei, que acabaram entrando na minha vida. Uma das moderadoras do grupo acabou virando uma amiga", relatou Danielle.

"Há cinco anos eu era uma pessoa mais pessimista, achava que certas coisas não tinham importância. Depois que você passa a fazer um trabalho desse, vê tanta dor, tantas pessoas que nunca conheceram a mãe, nenhum parente biológico. A gente passa a dar mais importância e a ser muito mais grata pela família", completou.

Caso Carlinhos: muitas teorias, nada confirmado
Carlinhps foi sequestrado em casa, aos 10 anos
Carlinhps foi sequestrado em casa, aos 10 anosReprodução/Internet
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Em 1973, Carlos Ramires da Costa, de apenas 10 anos, foi sequestrado dentro de casa, no bairro de Laranjeiras, na Zona Sul do Rio. A vítima foi levada por um criminoso que deixou um bilhete com horário e local para o pagamento do resgate. Mas, com a publicação do bilhete por um jornal, o sequestrador não compareceu ao local e o menino, apelidado de Carlinhos, nunca foi encontrado. 
A criança era filha da dona de casa Maria da Conceição Ramires da Costa e do industrial João Mello da Costa, proprietário da indústria farmacêutica Unilabor, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A investigação apontou diversos suspeitos, como os diretores de uma clínica próxima à casa da família de Carlinhos, já que um dos proprietários tinha interesse em comprar a casa deles; os próprios pais da criança, que viviam uma crise financeira à época, e poderiam ter forjado o sequestro, além de um funcionário de João Mello, que teria sido reconhecido por uma das irmãs da criança durante o crime. 
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Até hoje o menino não foi encontrado e milhares de pessoas ao longo dos anos procuraram a mãe da criança, mas nenhum exame de DNA confirmou o parentesco. Em 1974, uma notícia dizia que Carlinhos teria se afogado e morrido no mar, mas o corpo nunca foi encontrado. Se estiver vivo, Carlinhos já está com 56 anos.
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Natal da família Silva será completo
Desde os 14 anos, a assistente de licitações Josineide da Silva, hoje com 28 anos, procura sua irmã três anos mais velha, Jaqueline da Silva, que nunca tinha conhecido. Ela relata que depois que seu pai, o aposentado Jorge Luiz, 68, se separou da mãe de Jaqueline, eles nunca mais tiverem contato. Vivendo com a angústia, Josineide decidiu fazer uma publicação no grupo do Facebook 'Busco Minha Família' e no dia 17 de julho deste ano, ela teve a notícia de que sua irmã havia sido localizada pela idealizadora do grupo, Danielle Vianna. O encontro aconteceu no dia 20 do mesmo mês, carregado de emoção.
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"Foi bem emocionante para nós, porque sempre ouvi falar dela e meu pai sempre quis reencontrá-la. Ela ficou um pouco confusa, tímida e era muita informação para ela. Sabíamos muito sobre ela, mas ela não sabia que tinha irmãs. Ela ficou feliz, porque ela viveu a vida toda achando que ninguém a procurava" afirmou Josineide. 
A assistente conta que no dia em que soube que sua irmã foi localizada, seu pai teve um sonho com a filha que há tanto tempo não via. Ela diz que antes mesmo de dar a feliz notícia, o aposentado tinha certeza de que Jaqueline havia sido encontrada. Agora reunida, a família faz planos para o almoço de Natal. 
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"A expectativa é grande, é maravilhoso saber que eu a encontrei, que ela está bem, está viva, que a gente pode conversar sempre e que eu tenho mais uma irmã com quem eu posso contar. Quando a gente passa muito tempo procurando alguém, a gente nem sabe o que realmente vai encontrar, mas foi emocionante." 
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