Em Montevidéu, Nova Iguaçu, moradores retiram água de poços rudimentares. Na foto, o morador Ademir Matheus - Cléber Mendes
Em Montevidéu, Nova Iguaçu, moradores retiram água de poços rudimentares. Na foto, o morador Ademir MatheusCléber Mendes
Por Bernardo Costa

No bairro Ipiranga, em Nova Iguaçu, quando o valão que corta o bairro transborda, as crianças ficam sem aula. O esgoto despejado no curso d'água toma a rua, e o acesso à Escola Municipal Visconde de Itaboraí fica inviável. A área está incluída no Projeto Saneamento Rural, do Comitê Guandu-RJ, cujos técnicos estão percorrendo 40 localidades dos 15 municípios da Bacia Hidrográfica do Guandu para elaborar um plano de obras para coleta e tratamento de esgoto.

O projeto tem como objetivo final apresentar soluções que possam ser viabilizadas pelos gestores locais. A Prefeitura de Nova Iguaçu, onde fica Ipiranga, promete avaliar e implementar as soluções apresentadas, em benefício da população.  

Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, fica na divisa das Bacias do Guandu e da Guanabara - baía onde deságuam os córregos que pegam dejetos desse e de outros bairros. Já em Montevidéu, distante 35 quilômetros, o esgoto tem como destino final o Rio Guandu. As duas regiões ainda não contam com saneamento básico. 

No Ipiranga, em Nova Iguaçu, esgoto passa na porta da casa dos moradores - Foto do leitor

"O esgoto das casas vai para o rio. Quando não tem encanamento, é despejado na rua ou em sumidouros", diz a manicure Kelly Cristina da Silva, que vive no Ipiranga.

A realidade é a mesma de Montevidéu. Na Rua Dona Lili, a principal do bairro, Ademir Matheus mostra o sumidouro nos fundos de sua loja de antiguidades. A estrutura tem 1,5 mil litros de capacidade e retém os dejetos sólidos. A parte líquida do esgoto penetra no solo. "A gente mesmo encontra nossa solução. Quando a capacidade do sumidouro esgotar, penso em descartar em algum solo, mas não em córregos ou rios", diz Ademir. 

No Ipiranga, há água encanada, mas os moradores comentam que a água fornecida pela Cedae em janeiro não estava boa. Já em Montevidéu, o abastecimento é por poços de água potável escavados por moradores.

Ademir também tem casa em Mesquita. E conta que teve que comprar água mineral na cidade vizinha. "A água estava imprestável, acabei comprando. E o preço do galão começou com R$ 8 e chegou a R$ 12", contou.

Indagada pela reportagem, a Cedae credita parte dos problemas apresentados ao "crescimento desordenado": "Levando-se em conta o passivo histórico de décadas de falta de investimentos em saneamento, a Cedae tem uma série de projetos em andamento para investir mais de R$ 5 bilhões em obras no estado, com especial atenção para a Baixada", diz a nota.

Segundo a empresa, o corpo técnico do Programa de Abastecimento de Água da Baixada e o Novo Guandu estuda incluir o bairro de Montevidéu nas obras. "Em relação ao esgotamento sanitário nas localidades citadas, cabe lembrar que os investimentos serão ampliados com o modelo de concessão, que prevê investimentos de cerca de R$ 32 bilhões", informou ainda a Cedae.

Esgoto a céu aberto no Ipiranga, em Nova Iguaçu - Foto do leitor

Projeto já possui o diagnóstico de sete municípios
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O engenheiro ambiental Filipe Teske é um dos técnicos que estão percorrendo as áreas rurais para diagnóstico dos problemas e elaboração do plano de obras de saneamento.
Como a falta de saneamento nas áreas rurais interfere na água do Guandu?
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Essas regiões ficam nas cabeceiras dos cursos hídricos que formam o Guandu. Nem todas impactam diretamente nele, mas a grande maioria sim. Sem o devido tratamento, o esgoto segue in natura por córregos e pequenos rios até chegar ao Guandu.
Algumas regiões já estão com o diagnóstico pronto?
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Estivemos em 11 municípios até o momento. Temos dois relatórios prontos já apresentados às prefeituras, que contemplam sete municípios
Quais são eles?
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Rio Claro, Piraí, Barra do Piraí, Miguel Pereira, Engenheiro Paulo de Frontim, Vassouras e Mendes.
 
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Crescimento populacional agrava situação
Ademir Matheus mostra o sumidouro nos fundos do quintal de casa, em Montevidéu, Nova Iguaçu
Ademir Matheus mostra o sumidouro nos fundos do quintal de casa, em Montevidéu, Nova IguaçuCléber Mendes
O crescimento populacional em Montevidéu tem trazido riscos para os moradores. Com novas casas sendo construídas, sumidouros estão sendo posicionados perto dos poços artesianos, o que pode contaminar a água para consumo. 
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A situação tem provocado briga entre os moradores: "Um vizinho queria construir a fossa perto do meu poço e não deixei. Com mais gente chegando, a água está começando a ficar ruim. Às vezes, ela vem barrenta e as pessoas estão começando a comprar carro-pipa", disse o morador Augusto Mendes, de 67 anos. 
Sem saneamento adequado, mosquitos e ratos são outros fatores de risco para os moradores. No Ipiranga, Kelly Cristina da Silva conta que boa parte das pessoas que vivem no local já tiveram dengue ou chikungunya. 
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"Eu peguei chikungunya há três anos e quase morri. Até hoje sinto dores fortes. Aqui, nós estamos abandonados, esquecidos", diz Kelly. 
 
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Prefeitura: estações de tratamento a caminho
A Prefeitura de Nova Iguaçu informou que vem investindo em coleta e tratamento de esgoto em áreas com maior densidade demográfica. Segundo o órgão, cinco estações de tratamento estão em construção ou fase de testes nos bairros Cacuia, Rodilândia, Inconfidência, Riachão e Palhada. A prefeitura ainda estuda projetos de saneamento para outras áreas, como Ipiranga e Montevidéu.
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E que aguarda os planos do Comitê Guandu-RJ. A prefeitura alegou que a coleta de lixo nas duas regiões é feita três vezes por semana. Em relação à iluminação pública, o órgão disse que pedidos de substituição de lâmpadas queimadas podem ser feitos junto à Ouvidoria, pelo telefone 2666-4910 ou pelo site www.novaiguacu.rj.gov.br/ouvidoria/.
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