Numa das salas da escola Miraflores, apenas dois alunos. Já por vídeo, a participação era de 10 crianças - Reginaldo Pimenta
Numa das salas da escola Miraflores, apenas dois alunos. Já por vídeo, a participação era de 10 criançasReginaldo Pimenta
Por Yuri Eiras
Rio - Foram muitas reuniões com pais e professores até o Centro Educacional Miraflores, em Laranjeiras, decidir abrir as portas para receber alunos na manhã de ontem, o primeiro dia da retomada das aulas presenciais em algumas escolas particulares do Rio. O assunto, no entanto, ainda está longe de um consenso. No domingo, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) autorizou a volta às aulas nas instituições particulares, mas a Prefeitura entende que uma outra decisão, esta do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), proíbe o retorno no município. Sindicatos das escolas e dos professores têm opiniões diferentes.
Na escola da Zona Sul, de 400 alunos matriculados do berçário (Educação Infantil) ao 5º ano (Ensino Fundamental), pouco mais de 10 estiveram presentes, sem qualquer risco de aglomeração. Em uma sala, duas crianças recebiam atenção presencial da professora, enquanto outras dez acompanhavam a mesma aula por uma chamada de vídeo. "A escola já investia em tecnologia antes da pandemia. Apostamos em uma plataforma online para as crianças, também na capacitação dos professores. A tecnologia foi nossa grande aliada. Mas, a convivência entre as crianças é muito importante", explicou Cíntia Freitas, coordenadora pedagógica da Miraflores.
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Fernando Valente, pai da pequena Marina, de sete anos, viu a filha ter a temperatura aferida antes do início da aula. Ele é a favor da retomada. "O início das aulas remotas foi tranquilo, mas essa reta final foi mais difícil. Começamos a sentir uma certa ansiedade nela, consequência da falta dos amigos. Ela chegou a perguntar 'quem foi o tio' que proibiu a volta às aulas. O retorno é importante. Eles estão no meio do processo de alfabetização", avalia o pai.
O caminho para a reabertura foi traçado desde o começo da pandemia na Escola Tia Paula, em Madureira. Há 6 meses, a diretora Paula Pinna e sua equipe estruturaram o plano para a retomada, e ontem, colocaram em prática as regras do "novo normal". Ela informa que, para a higienização dos estudantes, foi instalada uma sala que produz uma névoa esterilizante, que deve ser atravessada pelos estudantes todos os dias ao chegarem na escola. Tapetes para higienização e totens de álcool em gel também se tornam ferramentas recorrentes para alunos e professores. 
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Com a pandemia, Paula viu seu já pequeno número de alunos cair de 180 para cerca de 120, e avalia que a retomada será essencial para muitas famílias. "Tem vários casos em que os pais precisam que a criança volte para a escola, também porque eles não têm internet e computador em casa. Tenho muitos pais analfabetos que não tem como ensinar às crianças", destaca a diretora. Nas salas, o "novo normal" será com turmas de 7 alunos presenciais e 8 no ensino remoto, respeitando as regras de ouro.
Rio de Janeiro - RJ - 14/09/2020 - Geral - Reabertura das escolas particulares no minicipio do Rio de Janeiro - na foto, controle no acesso ao Colegio Miraflores, na Rua das Laranjeiras, zona sul do Rio - Foto Reginaldo Pimenta / O Dia - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
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Mas o retorno é cercado de polêmicas. No domingo, o desembargador Carlos Henrique Chernicharo, da 1ª Vara do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), autorizou a retomada das aulas. Na decisão, Chernicharo argumenta que não é possível esperar até que saia uma vacina, como foi defendido em liminar anterior. "Não há como postergar o retorno das atividades da categoria dos professores e afins, até que se tenha por erradicado o risco, sob pena de causar dano irreparável aos alunos, pais e professores". Ele ressalta que "não há obrigatoriedade de todos os profissionais de ensino retornarem às atividades laborais, devendo ser respeitada a manifestação de vontade de cada trabalhador, de acordo com a realidade de cada um". 
A Prefeitura entende que o retorno não vale para o município do Rio, já que em agosto uma decisão do Tribunal de Justiça (TJRJ) proibiu o reinício. O TJ afirma que "decisão continua valendo", mas não informou se as escolas cometem alguma ilegalidade ao decidirem pela volta.
Rio de Janeiro - RJ - 14/09/2020 - Geral - Reabertura das escolas particulares no minicipio do Rio de Janeiro - na foto, Colegio Miraflores, na Rua das Laranjeiras, zona sul do Rio - Foto Reginaldo Pimenta / O Dia - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
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Professores e empresas divergem
Diretor do Sindicato das Escolas Particulares do Rio (Sinepe/Rio), Lucas Werneck afirma que boa parte das instituições de ensino estão preparadas, com protocolos rígidos, para receber os alunos. "A gente tem uma noção que a grande parte das escolas estaria apta a voltar no dia de hoje (ontem). Em função das decisões judiciais, houve um delay. Mas acredito que a maioria volte até quarta-feira", garante Werneck. "Aquelas famílias que tiverem receosas não precisam se preocupar. Vamos continuar com as atividades remotas".
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Já o sindicato que defende os professores, o Sinpro-Rio (Sindicato dos Professores do Município do Rio e Região), contestou, em nota, a decisão do TRT, afirmando que a volta "coloca em risco a vida de inúmeras crianças, familiares e trabalhadores/as".
Monique dos Santos, professora de Educação Infantil de uma escola particular da Zona Norte do Rio, voltará ao trabalho presencial quarta-feira e teme pelos familiares. "Eu acho um retorno prematuro, uma vez que as escolas não são feitas apenas de alunos, tem também profissionais com idade. Não sou de risco, mas convivo com pessoas de risco", pondera Monique.
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"Trabalho com crianças pequenas. Como vamos controlar a questão de não controlar objetos, não mexer na máscara do amigo? Se o pai leva o filho à praia, é uma responsabilidade deles. Mas, se a criança contrair a covid, o responsável é o professor".
A Prefeitura do Rio informa que, apesar do acompanhamento pedagógico de Ensino Fundamental e Ensino Médio ser competência do Governo do Estado, não define a volta às aulas, que deve ser avaliada pelo Comitê Científico da Prefeitura a partir de orientações das autoridades sanitárias e de saúde.