MULHER NA POLITICA - ARTE: KIKO
MULHER NA POLITICAARTE: KIKO
Por Julia Noia*

Machismo e racismo estrutural. Violência na política. Desmoralização. A luta das mulheres por aumento da representatividade começa antes da candidatura, quando são coibidas a integrar a esfera pública. Mas cresce o número de candidatas a cargos políticos, e 2020 bate recorde no Rio: 33,2% dos candidatos são mulheres.

Em 2016, as mulheres representavam 31,8% das candidaturas em eleições municipais, mas apenas 18% das candidatas a prefeita e 1,5%, a vereadora, foram eleitas, segundo o TSE. Em 2018, primeiro ano da destinação de 30% da verba de campanha para candidaturas femininas, estourou o escândalo de mulheres laranjas para desvio de recursos. Para 2020, persiste o cenário desolador.

"Ainda temos a ideia de que o principal objetivo da mulher é criar família, e a função pública vai retirá-la disso", destaca Júlia dos Anjos, pesquisadora em Comunicação, Cultura e Gênero na UFRJ. Quando conseguem se inserir na política, com estatísticas bem abaixo da representação fiel de 52% da população fluminense, são constantemente questionadas e dificilmente atingem cargos de destaque.  

Cinco mulheres entram na disputa para prefeita do Rio. Em 2016, apenas nove assumiram o cargo em todo o estado. Júlia comenta que, quando integram a esfera pública, a constante desmoralização afeta políticas de todo o espectro ideológico. "Mulheres com uma visão mais conservadora, no momento em que desagradam, começam a sofrer retaliações e, quando se trata de mulheres que contestam o status quo, é muito pior."

Para a professora de Direito da FGV, Ligia Fabris, a destinação de 30% de verba de campanha foi um passo desgostoso e ameaçador por boa parte das legendas. "As mulheres começam a reivindicar a política como um espaço delas mas, para isso, alguém tem que sair. As pessoas que representam as elites impedem que essa conquista aconteça."

Gabriela Kyrillos, do Núcleo de Estudos Interseccionais da Universidade Federal do Rio Grande, tem esperança em um espaço político amplamente ocupado por mulheres, e isso deve vir junto com o remodelamento do sistema político. "Representatividade é importante, mas precisamos também de pessoas comprometidas com pautas democráticas e que respeitam as pluralidades e a diversidade da sociedade", destaca. 

Solidão da mulher negra na política
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Forçadamente invisibilizadas na política, mulheres negras - autodeclaradas pardas ou pretas, segundo parâmetros do IGBE - representam 26% da população fluminense, mas integram apenas 2% dos cargos municipais no estado. A professora de Direito da FGV, Ligia Fabris, destaca que, em uma sociedade racista e machista, o lugar da mulher negra é de "solidão, pobreza, privação e violência".
Atravessadas por discursos racistas e misóginos, sua inserção na política envolve questões de sobrevivência.
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"Há muitas barreiras da existência, e aquelas que conseguem se colocar e se mobilizar politicamente, muitas vezes o fazem por movimentos comunitários que, apesar de ter cunho político, não tem tanto poder", frisa Ligia.
Para a pesquisadora Gabriela Kyrillos, o espaço público é ainda mais inóspito para mulheres negras, e a violência política, mais recorrente.
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"O custo político para uma mulher negra se candidatar vai ser muito maior que para uma mulher branca, e não à toa quando a gente fala da violência contra mulheres na política, são mulheres negras - Tia Sandra, Talíria Petrone e Marielle Franco. É entender que a negras têm barreiras de acesso à educação formal, de espaços públicos e a própria questão de recursos econômicos", destaca.
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