Por Gabriel Sobreira

Abram alas que o mundo do samba pede passagem nas eleições municipais. Várias personalidades estão tentando um espaço na política em um cenário de incerteza em relação à data do Carnaval 2021,com elevada expectativa quanto à vacina para a covid-19. Isso sem contar nas agremiações e seus componentes que enfrentam inúmeras dificuldades financeiras de longa data. No bate-papo com alguns desses postulantes que contam um pouco a história do Carnaval, a maioria ouvida pela reportagem nega que a decisão de entrar para a política tenha sido influenciada pelos recentes acontecimentos, mas mostra estar afiada quanto às necessidades da população.

 

Raissa de Oliveira
Raissa de Oliveira é rainha de bateria da Beija-Flor
Raissa de Oliveira é rainha de bateria da Beija-FlorDiego Mendes/Palmer Assessoria de Comunicação
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Aos 30 anos, Raissa de Oliveira, que é rainha de bateria da Beija-Flor há 18 anos, tenta pela primeira vez uma chance como vereadora do município de Nilópolis, onde nasceu e mora. “Existe um preconceito muito grande com os sambistas. As pessoas acham que sambistas não trabalham, não têm estudo, acham que é só oba-oba e isto não é verdade. A festa envolve profissionais de várias áreas e a maior parte deles está enfrentando dificuldades”, diz a postulante.
Entre as propostas da candidata, se destacam como prioridades as áreas da saúde e da segurança pública. “Como a maternidade municipal, médico em casa, aumentar a Estratégia de Saúde da Família de 29 para 79 equipes, aumentar também equipes de saúde bucal, centro de acolhimento para usuários de drogas. No quesito segurança, implantar câmeras em toda cidade, aumentar o efetivo da Guarda Municipal, criação do programa de segurança comunitária”, explica ela, que é jornalista.
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Quando se trata dos efeitos da pandemia, Raissa reforça que a baixa não foi só no Carnaval, mas em diversos setores. “Muitas lojas decretaram falência, outras ainda não reabriram até hoje. Não foram só os profissionais do samba que perderam. O cenário que vivemos hoje no Brasil só me impulsionou ainda mais para lutar pelo povo”, garante.
Quinho
Quinho, do Salgueiro, candidato a vereador no Rio de Janeiro
Quinho, do Salgueiro, candidato a vereador no Rio de JaneiroReprodução/Instagram
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Outra figura conhecida do universo do Carnaval que tentará uma das cadeiras da Câmara dos Vereadores, mas na cidade do Rio, é o cantor e compositor Quinho, intérprete do Salgueiro. “Eu decidi entrar na politica porque em primeiro lugar vejo que existe uma falta de representatividade genuinamente negra nas 51 cadeiras da câmara dos Vereadores do Rio”, observa Melquisedeque Martins Marques (nome de batismo de Quinho), que aposta na requalificação profissional dos trabalhares cariocas.
“Esta qualificação seria voltada para a Industrias do Carnaval, Cultura e Turismo (CCT) através de Participação Público Privada (PPP). Temos boas propostas nestas áreas e muitas lideranças querendo trabalhar nesta empreitada, precisamos sair do marasmo, evoluir e prosperar”, avalia.
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Quinho diz que acredita em gestão participativa e promete que ações do futuro mandato e gabinete serão acessíveis a todos. “Vejo os políticos cariocas muito longe da população, precisamos de menos ‘terno’ e mais trabalho. Quero montar várias equipes de trabalho espalhadas pelos bairros, escutar realmente as lideranças, criar leis que venham do povo. O político que não entende a vontade do eleitor é igual o deserto: é seco. A palavra que rege a nossa iniciativa é integração”, frisa.
Presidente Tê
Presidente Tê da Escola de Samba Império da Tijuca
Presidente Tê da Escola de Samba Império da Tijuca Divulgação
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Mais conhecido como Presidente Tê, Antônio Marcos Teles, presidente da Império da Tijuca, entrega o que corroborou na decisão de enveredar pela política. “Fui influenciado pela situação das escolas de samba do grupo de acesso (série A) que não contam com qualquer apoio por parte do poder público, diferentemente das escolas de samba do grupo especial”, conta ele, aos 55 anos.
Entre as plataformas que defende, Teles lista como mais importante e urgente apresentar projeto que garanta à população em estado de profunda pobreza alguma espécie de subsídio para sua sobrevivência, com a definição de políticas específicas para esse fim.
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“Já no tocante ao Carnaval, espero apresentar propostas para obter patrocínio dos desfiles do grupo de acesso, pela iniciativa privada. Outra intenção é encabeçar a construção da cidade do samba para esse grupo de acesso, pois os barracões dessas agremiações são de uma precariedade sem tamanho, colocando em risco todo o trabalho e as pessoas que ali prestam seus serviços. Para o grupo especial existe a Cidade do Samba onde é construído o Carnaval”, pontua.
Nilce Fran
Nilce Fran é coordenadora da ala de passistas da Portela
Nilce Fran é coordenadora da ala de passistas da PortelaDivulgação
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Coordenando a ala de passistas da Portela, Nilce Fran está no Carnaval há mais de 40 anos. Hoje, aos 54 anos, ela conta que faz política desde sempre, mas que, bem antes da pandemia, já estava pensando na possibilidade de se candidatar. “Produzir carnaval é um ato político! Gerar empregos, promover capacitação profissional, educar através da arte... Tudo isso é política. Eu vivo isso”, afirma ela.
“Nossas propostas são pautadas na família e na educação. Reavaliar o ensino nas escolas municipais aqui do Rio. Porque a educação é a base de tudo! Essa criançada precisa ter um bom ensino fundamental, com aulas regulares, com professores qualificados, bem remuneradas e que sejam respeitados”, defende.
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Em um ano atípico de eleição, tem usado as redes sociais como ferramenta de divulgação. “Organizando muitas rodas de conversa online, disparando nossos "santinhos", enfim. Infelizmente aquele boca a boca, com contato físico e olho no olho, não será possível”, avalia Nilce.
Ruan Lira
Ruan Lira é ex-secretário estadual de cultura e economia criativa
Ruan Lira é ex-secretário estadual de cultura e economia criativaDivulgação
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Formado em Relações Internacionais, Ruan Lira é outro nome ligado ao universo da folia, que está tentando uma vaga como vereador da cidade do Rio de Janeiro. Entusiasta do Carnaval e ex-secretário estadual de cultura e economia criativa, Lira tem projetos que envolvem geração de emprego, capacitação profissional, retomada do projeto de educação do Sambódromo e eventos no Terreirão e na Cidade do Samba. “Acredito que sei como melhorar nossa legislação em prol das vocações naturais da cidade e fiscalizar a prefeitura para que a gestão pública seja eficiente”, defende ele, aos 32 anos.
“Fui, sou e sempre serei a favor do Carnaval. É uma das cadeias produtivas da nossa cidade que mais gera emprego e renda ao longo do ano. Só em 2020 foram 3,8 bilhões de reais movimentados no Rio. Adiar o carnaval em 2021 foi prudente e sensato. Saúde em primeiro lugar. Porém, acredito que podemos ter esse Grande evento até o meio do ano, uma vez que é fundamental para nossa economia, para os milhares de trabalhadores que dela dependem e para o comércio que aumenta bastante suas receitas. Enquanto isso, temos que ter o apoio do setor público, setor privado e sociedade civil para ajudar quem não está podendo trabalhar. Carnaval não é gasto, é investimento em desenvolvimento humano, econômico e social”, argumenta.
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