Dielson Cruz, irm - Luciano Belford/Agencia O Dia
Dielson Cruz, irmLuciano Belford/Agencia O Dia
Por Karen Rodrigues*
Rio - Parentes das quatro vítimas do acidente no Cais do Porto, na Zona Portuária do Rio, que aconteceu na noite desta quarta-feira, compareceram ao IML, na manhã desta quinta-feira, e acusaram a empresa Pennant Serviços Marítimos por negligência com a segurança dos funcionários e descaso com a tragédia. Familiares ficaram sabendo da tragédia através do grupo de WhatsApp e reportagem na televisão.
"Eu só quero que seja apurado se a segurança de trabalho estava ciente da obra, se a obra estava sinalizada, se o carro tinha condições de andar naquela lama. Eles sabiam completamente que podia a qualquer momento acontecer um acidente", disse Ana Paula Sacramento, esposa de Rogério Sacramento, uma das vítimas do acidente.
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Familiares ainda lembraram que os funcionários reclamavam das condições de segurança no trabalho, da falta de salários e passagem para trabalhar.
"Eles estavam lá trabalhando, com pagamento atrasado, passagem, teve um que se salvou porque não tinha passagem para chegar na empresa. Patrão não me procurou, gerente não me procurou, hoje que me ligou a pessoa do RH falando que ‘tava’ vindo para cá, sendo que não tinha nada para eles fazer na empresa. Ele dava o sangue por essa empresa, seis anos de trabalho, não faltava, não chegava atrasado. Eu sei que lá não tem iluminação, não tem sinalização, não tem proteção nenhuma", informou a esposa de Luiz Silva, Caroline.
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"Ele vem rendendo a supervisão dos trabalhos a noite, ele vinha relatando muitos problemas com segurança do trabalho, condições do trabalho. Eles estão sem pagamento, sem ticket refeição, sem ticket alimentação, sem passagem, obrigados a ficar lá até tarde. Eu tenho a conversa dele me dizendo que foi praticamente coagido a descer ontem para catar copinho de papel. Ele cansava de falar para mim ‘Paula, se acontecer alguma coisa comigo lá dentro do Cais, você abre a boca e fala, fala das condições de trabalho, não deixa as vidas que vão se perder lá dentro, e vão porque vai acontecer um acidente’. Ele me cansava de avisar, ele relatava condições de trabalho lá. Eu não ‘to’ acusando, mas quero seja apurado que carro é esse, o pneu como é que tava, se essa obra ‘tava’ sinalizada. Eles foram obrigados a descer de baixo de chuva sem navio para trabalho", contou Ana Paula.
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Além das faltas de condições de segurança na empresa, familiares ainda não tiveram assistência da Pennant Serviços Marítimos e não foram avisados do acidente.
"Como eu e toda a família, ficamos sabendo através da reportagem, pq até o momento a empresa não entrou em contato, não tinha avisado nada. A esposa e as filhas, está todo mundo desesperado, porque assim como eu soube pela reportagem", disse Dielson Cruz, irmão de Denilson Cruz, outro funcionário que morreu na tragédia.
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"Eu fiquei sabendo através de um grupo Whatsapp, que ele estava incluso, mas eles pensavam que eu não ‘tava’ no grupo, foi quando eu descobri", contou a esposa do Luiz Silva.
Segundo Ana Paula Sacramento, este não foi o primeiro acidente que aconteceu dentro da empresa por falta de segurança.
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"Não foi a primeira vez, já teve outros acidentes lá que eu sei que teve, acidentes que as pessoas não ficam sabendo, porque não tem fiscalização de técnico de segurança lá, não adianta, como que eles fazem obra na beira daquele cais lá sem fiscalização. ‘Tava’ anunciado que ia morrer gente ali dentro", disse.
Tragédia no Cais
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O veículo que transportava cinco funcionários da empresa Pennant Serviços Marítimos caiu na Baía de Guanabara, após o motorista perder a direção do carro, por volta das 21h desta quarta-feira. Segundo testemunhas, o veículo já apresentava problemas e estava desligando a todo momento. O motorista teria tentado travar o carro, mas o automóvel não respondeu ao comando.
Denilson Cruz, 53, Rogério Sacramento, 48, Luiz Silva, 40, e Paulo Almeida, 34, morreram no local. Um dos funcionários conseguiu abrir a porta do carro antes que atingisse a água e se agarrou na mureta.
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Luiz será enterrado no Cemitério de Campo Grande na capela A. O velório será às 13h e sepultamento às 15h. Ainda não há informação sobre local e data do enterro das outras vítimas.
O acidente aconteceu na Avenida Rodrigues Alves, atrás do Armazém 11. O Corpo de Bombeiros foi acionado às 21h20. Por volta das 23h15, o veículo foi encontrado na Baía de Guanabara. Os Bombeiros retiraram o corpo de Denilson Cruz, última vítima, às 00h40. Todos os corpos foram encaminhados para o IML.
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Luiz Silva deixa cinco filhos e a esposa Caroline.
"Ele tem, tinha cinco filhos. Nunca foi de faltar o trabalho. Era um rapaz amoroso com todo mundo", contou em lágrimas o pai de Luiz, Sebastião José da Silva. "Foram quatro vidas, quatro pais de família. Ele deixou um filho de 12 anos, como que fica isso?", questiona Ana Paula, esposa de Rogério.
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Irmão de Denilson Cruz contou que era muito querido pelos vizinhos. Denilson, que trabalhava há sete anos na empresa, era casado e tinha três filhos, duas meninas e um rapaz.
“Ele era animação em pessoa, tanto é que lá no bairro onde ele mora ‘tá’ todo mundo desolado, o pessoal ficou sabendo através da reportagem. Por mais que as medidas sejam tomadas, nada vai trazer a vida dele de volta.”, lamentou Dielson Cruz.
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O DIA entrou em contato com a Pennant Serviços Marítimos, mas a empresa ainda não se posicionou sobre o caso.
A Polícia Civil informou que o caso está sendo investigado pela 4ª DP (Praça da República) e testemunhas serão ouvidas. Além disso, diligências serão realizadas para esclarecer o ocorrido.
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*Estagiária sob supervisão de Gustavo Ribeiro