Missa na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, na Glória,  zona sul do Rio de Janeiro, é interrompida por grupos que queriam impedir que a missa fosse celebrada com danças e costumes de matriz africana.   - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Missa na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, na Glória, zona sul do Rio de Janeiro, é interrompida por grupos que queriam impedir que a missa fosse celebrada com danças e costumes de matriz africana. Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Por O Dia
Rio - A tradicional missa da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, na Glória, Zona Sul do Rio, em homenagem ao Dia da Consciência Negra foi cancelada. A suspensão acontece um ano depois que um grupo de fies conservadores do Centro Dom Bosco interrompeu a celebração religiosa do dia 20 de novembro.

A cerimônia em comemoração ao Dia da Consciência Negra segue o rito católico, mas também reúne elementos da cultura afro-brasileira.

Segundo os paroquianos, eles foram informados sobre o cancelamento da missa afro, que aconteceria nesta sexta, depois de uma reunião de bispos e o pároco, Padre Vanderson Guedes. Eles ainda questionaram porque a Arquidiocese atendeu a decisão dos conservadores do Centro Dom Bosco, que chegaram a postar um vídeo na internet pedindo que os fieis jejuassem, como uma maneira de conseguir o impedimento da missa.

No ano passado, os membros do Centro Dom Bosco atrapalharam a missa afro. O padre chegou a seguir com a celebração, mas os integrantes permaneceram no local fazendo orações em voz alta. A confusão dentro da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus virou caso de polícia e, por conta disso, cinco pessoas foram indiciadas por intolerância religiosa.

Leiam a nota dos paroquianos na íntegra: 

"Diante da proibição da Missa em ação de graças pelo Dia da Consciência Negra, os paroquianos da igreja Sagrado Coração de Jesus, na Glória, Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, se colocam em postura de obediência ao seu pastor dom Orani.

A obediência, porém, não nos impede de buscar respostas.

Assim, gostaríamos de saber por que a Arquidiocese atendeu às palavras de ordem do Centro Dom Bosco e proibiu a celebração da missa pelo dia da Consciência Negra APENAS no bairro da Glória, mesmo tendo sido os líderes do Centro Dom Bosco indiciados por crimes de Racismo e Intolerância em decorrência da invasão à paróquia Sagrado Coração de Jesus promovida pelo Centro Dom Bosco em 20/11/19?

Por que não se tem referências de proibições de missas com instrumentos musicais como guitarra e bateria, mas houve proibição da missa com atabaques.

Enfim, gostaríamos de saber se a Arquidiocese não acha necessária uma reparação aos negros e negras por 400 anos de escravidão, da qual a própria igreja se beneficiou.

Aguardamos, fraternalmente, as respostas para que nosso coração fique em paz".

Outros envolvidos
A reportagem procurou a Arquidiocese, que publicou uma nota em seu site. Confira a íntegra:
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"Neste dia tão importante, Dia da Consciência Negra, onde recordamos a“dignidade inalienável de toda a pessoa humana, independentemente da sua origem, cor ou religião, e a lei suprema do amor fraterno[1]”, a Arquidiocese do Rio de Janeiro anima as paróquias para que em todas as missas celebradas, esta intenção também esteja presente.

Para isto é oportuno recordar que toda missa celebrada em nosso território arquidiocesano, deve-se sempre seguir as orientações dadas pela Congregação para o Culto Divino da Santa Sé, a Comissão para a Liturgia da CNBB e o diretório litúrgico de nossa Arquidiocese, publicado em nosso anuário. O objetivo é que “esteja em harmonia com o modo de ser e o verdadeiro espírito litúrgico”[2].

Também recordamos que neste diálogo com as demais religiões, devemos sempre respeitar os objetos e ritos próprios da liturgia de cada religião, de modo especial no dia de hoje, as religiões de matrizes africanas: “as práticas religiosas de matrizes africanas não são aconselhadas por seu uso fora de seus ritos, dentro desta mesma realidade dos cultos, assim como os ritos católicos não devem ser utilizados fora de seus respectivos contextos e de seus templos. Os elementos de culto de origem afro não devem ser vistos unicamente como símbolos culturais, referências religiosas ou receitas culinárias. São alimentos sagrados, cujos preparos consistem em uma série de preceitos e cuidados litúrgicos”[3].

Aproveitamos também para agradecer a Deus pela presença da Pastoral Afro em nossa Arquidiocese, pois ela possui uma grande importância e relevância para despertar e orientar as consciências a uma reflexão profunda da dignidade do ser humano de qualquer raça ou cor. A Pastoral Afro-Brasileira, organiza diversos momentos de orações e reflexões com os diversos grupos presentes em nossa cidade. Em sua atuação há uma grande preocupação com o âmbito religioso, sociopolítico e sociocultural, atentando-nos para todas as realidades e necessidades concretas da população afrodescendente.

E neste dia 20 de novembro de 2020, para celebrar esta importante data, o Instituto Expo Religião e a Arquidiocese do Rio de Janeiro, participarão de uma homenagem ao Dia da Consciência Negra, que terá como tema “Vidas Negras Importam”. O evento, que reunirá mais de 20 religiões diferentes, acontecerá no Centro Cultural Social Pastoral (CCSP), em Irajá. A diretora da Expo Religião, Luzia Lacerda, escreveu que “diante do momento que vivemos envoltos em tantos acontecimentos envolvendo violências, algumas fatais, de vidas negras decidimos nos unir em um ato Inter Religiosos homenageando a luta da Raça Negra e todo o caminho percorrido”.


Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Assessoria de Imprensa"
O DIA aguarda um posicionamento do Centro Dom Bosco.