Operação da Polícia Federal mira quadrilha que frauda e desvia encomendas dos Correios - Divulgação
Operação da Polícia Federal mira quadrilha que frauda e desvia encomendas dos CorreiosDivulgação
Por Beatriz Perez
Rio - A organização criminosa de doze pessoas que desviou um montante estipulado em R$ 1 milhão em mercadorias dos Correios no Rio desde 2018 contava com uma distribuição de trabalho que ia desde o chão de fábrica até funcionários com cargos de chefia na estatal. Metade das pessoas identificadas trabalhavam na empresa. O homem apontado como líder do grupo foi preso em 2019. Ele era o responsável por produzir as etiquetas com os endereços adulterados.
"Havia toda uma divisão de trabalho. Gente que trabalhava no chão de fábrica, que colava as etiquetas; gente que trabalhava nas esteiras de objetos postais; e gente graduada, com cargo de chefia, de coordenação, que selecionava os objetos mais interessantes", explicou o delegado federal Hylton Coelho na sede da Polícia Federal na Praça Mauá, Região Central do Rio, na manhã desta terça-feira.
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Operação da Polícia Federal mira quadrilha que frauda e desvia encomendas dos Correios - Divulgação
Operação da Polícia Federal mira quadrilha que frauda e desvia encomendas dos CorreiosDivulgação
Segundo Hylton Coelho, um grupo de WhatsApp denominado "Empresas e negócios" organizava os desvios. O núcleo era formado por funcionário dos Correios e por gente de fora, que fazia as etiquetas. Pelo aplicativo, os envolvidos decidiam sobre as vendas do material arrecadado.
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O esquema funcionava da seguinte forma. O grupo começou a fazer etiquetas falsas com números de rastreio dos Correios já utilizados por meio de compras na internet. E eles colocavam essas etiquetas nas encomendas dentro do Centro de Distribuição dos Correios por meio de funcionários envolvidos com a organização criminosa. Assim, os produtos eram desviados para membros da quadrilha, inclusive membros que trabalhavam na estatal recebiam em suas casas as mercadorias desviadas.
Assim, os produtos com os números verdadeiros desapareciam do Centro de Distribuição, e os profissionais não entendiam como. As mercadorias eram enviadas normalmente por um carteiro que não sabia do esquema, e seguia o que estava escrito na etiqueta.
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O delegado explicou que os produtos de interesse do grupo eram facilmente reconhecidos. "Encomendas de maior valor vêm, até por uma determinação administrativa, com notas fiscais do lado de fora. Algumas vêm bem identificadas. É muito fácil ver encomendas que são eletrônicos, celulares. Notebooks, por exemplo, costumam vir nas próprias embalagens", afirmou.
A PF conseguiu rastrear o material desviado em que os próprios criminosos receberam diretamente nas agências, ou os que foram entregues nos endereços ligados ao grupo. Os produtos almejados eram celulares e notebooks, mas já houve caso de bicicleta de fibra de carbono desviada.
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Grupo descoberto após prisões em 2019
A Polícia Federal começou a entender como agia a organização criminosa, depois que duas pessoas foram presas por desvios em 2019. A partir da apreensão dos respectivos celulares, os policiais tiveram acesso ao grupo de WhatsApp Empresas e Negócios, formado em 2018. Nem todos os membros participavam deste grupo, apenas os organizadores.
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"Houve uma prisão de dois elementos em 2019, inclusive, um deles não era dos Correios. Ele fazia as etiquetas e entregava para o pessoal da estatal. Na ocasião em que ele foi preso, eles estavam indo buscar uma encomenda no Centro de Encomendas da Penha, endereçado para ele mesmo, e foi preso no local com outro membro do grupo", explica o delegado Hylton Coelho.
Mandado é cancelado por risco de tiroteio
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Um mandado foi cancelado por conta do endereço de um dos alvos e o risco de se provocar um tiroteio no local. O delegado responsável explicou que precisaria fazer uma operação com a Polícia Militar na favela para, em seguida, poder fazer a busca e apreensão por conta dos ataques que poderiam vir do morro.
"A gente tinha um mandado de um dos funcionários do Correio que mora num acesso de uma favela perigosa. O MPF achou melhor suspender o cumprimento desse mandado pelo custo-benefício. Não seria interessante por conta da decisão do STF de não operar em favelas a não ser com extrema necessidade", contou Hylton Coelho.
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Foram cumpridos na manhã desta terça-feira, nove mandados de busca e apreensão. O delegado responsável explicou que não havia indicação de prisão preventiva para o caso, e que notebooks, celulares e documentos foram apreendidos. Os envolvidos respondem pelos crimes de peculato e organização criminosa. As investigações continuam.
Para o delegado, a prisão dos primeiros suspeitos, em 2019, freou os desvios praticados. " Se eles tivessem dado continuidade durante todo esse tempo de investigação, talvez o valor fosse bem maior do que os R$ 1 milhão", comentou o delegado federal.
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Funcionários dos Correios denunciaram esquema
Foram os próprios funcionários dos Correios, responsáveis por Centros de Distribuição de bairros, que começaram a notar as etiquetas sobrepostas em produtos. A partir daí, a Polícia Federal foi acionada e os dois membros foram presos, em 2019, recebendo encomendas que a PF já sabia que estavam com etiquetas sobrepostas. "O número de pessoas nos Correios do bem é bem maior do que do mal. Mas esse pessoal do mal faz muito estrago", comentou o delegado Hylton Coelho.
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Ele ressaltou que o tamanho da empresa e o aumento do volume de comércio virtual durante a pandemia tornaram a empresa um ambiente propício a furtos e desvios. " A empresa está em 27 estados da Federação. É gigantesca e vem evoluindo a partir do momento que o comércio virtual aumentou drasticamente. O Centro de Distribuição rodava 200 mil encomendas por dia e passou para 600 mil por dia (na pandemia). Tem muito terceirizado trabalhando também. Então é complicado não haver furto ou extravio", afirmou.
Em nota, os Correios disseram que colaboram com as autoridades e consideram a conduta dos empregados inaceitáveis. A estatal disse que adota, de imediato, todas as medidas disciplinares que os casos requerem. "Sobre a operação da Polícia Federal, deflagrada nesta terça-feira (24), no Rio de Janeiro, trata-se de ação conjunta, realizada entre os Correios e a PF, por meio de fornecimento de informações ao órgão de segurança. As ações de busca e apreensão realizadas hoje são resultado do desdobramento das investigações que estão sendo conduzidas pela PF", diz o texto.
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Associação dos Profissionais dos Correios divulga nota
A direção nacional da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP) divulgou nota em que diz que grandes empresas, públicas ou privadas, estão sujeitas a eventuais desvios. Constatada a ocorrência, diz a ADCAP, o que resta às companhias afetadas, sejam elas uma pequena operadora de entregas ou uma gigante multinacional, é revisar processos e investir na melhoria do controle.
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Confira nota completa:
Grandes empresas de logística estão constantemente expostas a riscos de eventuais desvios de objetos nos processos operacionais. Assim, vez por outra, temos ocorrências como a que aconteceu hoje no Centro de Tratamento de Encomendas dos Correios, em Benfica, ou há pouco mais de uma semana no Centro Logístico da Amazon, em San Fernando de Henares, nos arredores de Madrid.
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O crescimento do volume de objetos tratados nos centros logísticos traz desafios de controle significativos para as empresas que operam essas grandes plantas industriais e, por mais que se avance no uso de tecnologia e na melhoria dos processos, trabalhadores de má índole acabam encontrando ainda maneiras de burlar os controles e cometer delitos. Isso acontece no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos, em empresas públicas e privadas, ou seja, não é privilégio de ninguém.
Constatada a ocorrência, o que resta às companhias afetadas, sejam elas uma pequena operadora de entregas ou uma gigante multinacional, é revisar seus processos e investir na melhoria do controle. A polícia e a justiça se encarregam de cuidar dos criminosos.
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Direção Nacional da ADCAP – Associação dos Profissionais dos Correios